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UNIVERSISDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS

e

CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA

LEVANTAMENTO EPIDEMIOLÓGICO E AVALIAÇÃO DE PROGRAMA EM SAÚDE BUCAL DA POPULAÇÃO EM REGIÃO RURAL E RIBEIRINHA DO RIO MACHADO, ESTADO DE RONDÔNIA

Relatório parcial do atendimento do Rio Machado

Coordenador: Luis Marcelo Aranha Camargo

Pesquisadora: Roberta Francisca Martins de Castro

PORTO VELHO

2005


RIO MACHADO

RELATÓRIO PARCIAL

1.  CONTEXTUALIZAÇÃO

O Rio Machado desemboca no Rio Madeira próximo à comunidade de Demarcação, que pertence ao município de Porto Velho. Ele é navegável até a Cachoeira Dois de Novembro, sendo esta considerada o último ponto de navegação quando se entra na região norte pelo litoral (Belém-PA). As localidades conhecidas como Tabajara, distante 19 km da Cachoeira e pertencente ao município de Machadinho D’Oeste, e como Demarcação são os maiores aglomerados de moradores ribeirinhos dessa região do Rio Machado, nas quais as casas são agrupadas como em pequenos vilarejos. Nas outras localidades, os sítios são mais espalhados.

Os municípios de Porto Velho e de Machadinho D’Oeste têm conflitos políticos quanto à área de abrangência de um ou de outro, mas fica acordado que o município de Machadinho D’Oeste compreende até a comunidade de Juruá e as outras localidades sejam pertencentes ao município de Porto Velho. Exceto pelas campanhas de vacinação, raras são as investidas em saúde ao longo dessa área do Rio Machado. Os poucos “postos de saúde”, quando funcionam, são apenas ponto de diagnóstico e distribuição de medicamentos antimaláricos. Quando a população precisa de algum atendimento, mesmo que de urgência, é necessário muitas vezes viajar por mais de 15 horas, sempre em condução própria.

Não há comunicação entre as comunidades e as cidades; Tabajara tem um telefone público e Demarcação tem um transmissor/receptor de rádio. Ao longo do rio, somente Juruá conta com um aparelho de rádio, mas ele não está operando.

Assim, embora o foco principal do trabalho fosse saúde bucal, não pudemos nos esquivar de emergências gerais... Cortes por pau, facão, acidentes durante o trabalho, infecções bacterianas, doenças de pele, entre outros, que não constarão desse relatório. Afinal, acudimos não por ser nossa especialidade técnica, mas por que qualquer ser vivo é digno de ter sua aflição reduzida. Infelizmente, ao longo do Machado, assim como em outras comunidades ribeirinhas, essa dignidade tem época certa para acontecer.

 

2.  EQUIPE

 

·        Roberta Francisca Martins de Castro – cirurgiã-dentista, especialista em Saúde Coletiva, responsável pela equipe

·        Nilto Corrêa Cavalheiro, logística e co-responsável pela equipe

·        Paulo Henrique Reis Brito, acadêmico de odontologia

·        Luis Cristóvão da Silva, acadêmico de odontologia

·        Rafael de Almeida Roriz, acadêmico de odontologia

·        Fernanda Droppa, acadêmica de odontologia

·        Max Ueller Pereira de Athaíde, entomologista

 

3.  VEÍCULOS

 

2 Toyotas Bandeirantes, dirigidas por João Otavio Sampaio e Nilto Corrêa Cavalheiro

1 lancha com motor 40HP, pilotada por Nilto Corrêa Cavalheiro

1 voadeira com motor 25HP, pilotada por Max Ueller Pereira de Athaide

 

4.  Cronograma do mês de julho:

 

02: saída de Porto Velho, rumo a Tabajara;

03: visitas domiciliares para avisar sobre o atendimento em Tabajara;

04 a 07: atendimento em Tabajara

08: viagem para a cachoeira Dois de Novembro, de carro, para seguirmos de lanchas para a comunidade Monte Sinai.

09 a 11: atendimento em Monte Sinai

11: viagem a Juruá

12 e 13: atendimento em Juruá

13: viagem para Independência

14 a 16: atendimento em Independência

16: viagem a Demarcação

17: descanso

18 a 21: atendimento em Demarcação

22: viagem para a Gleba do Rio Preto

30: viagem para Porto Velho

 

4.. DADOS DO ATENDIMENTO

 

            O total de pessoas atendidas no período de 04 a 21 de setembro foi 253, excetuando-se nesse número o exame clínico e aplicação de flúor executado nos escolares das comunidades. Em geral, o número de atendimento de pessoas do sexo feminino foi equivalente ao número de pessoas do sexo masculino, como se pode observar na tabela e gráfico 1. Ao serem questionadas se já haviam passado por tratamento com um cirurgião-dentista, 34% das pessoas relataram estar tendo o primeiro contato. Na comunidade Tabajara, onde o ICB 5 – USP realiza suas atividades há 3 anos, e a área Odontologia foi incorporada nesses trabalhos há 2 anos, 65% das pessoas relataram já ter consultado um cirurgião-dentista alguma vez na vida, mas destas 40% relataram que esse contato foi com a equipe do ICB 5 - USP. Na localidade de Demarcação muitas pessoas se confundiam ao responder por quem foram atendidas, se por profissionais da prefeitura, religiosos ou equipe do ICB 5 – USP (Tabela e Gráfico 2).

            Em relação às condições de saúde bucal, observou-se que 57% da população apresentava algum tipo de infecção, seja ela cárie, doença periodontal, fístulas ou abscessos (Gráfico 3).

            Os procedimentos variam entre as comunidades e não parecem seguir padrão ou tendência. Os principais procedimentos executados estão expressos na Tabela 3 e no Gráfico 4.

 

 

Tabela 1        Distribuição das pessoas que receberam atendimento conforme o gênero. Rio Machado, 2005

Localidade

masculino

feminino

Total

Tabajara

46

26

72

Monte Sinai

16

12

28

Juruá

7

11

18

Independência

26

26

52

Demarcação

40

43

83

Total

135

118

253

Gráfico 1. Distribuição das pessoas atendidas conforme o gênero. Rio Machado, 2005.

Tabela 2.       Acesso ao tratamento odontológico. Rio Machado, 2005

 

já foram consultadas por cirurgião-dentista

Localidade

sim

não

sem informação

apenas da USP

Tabajara

47

23

2

19

Monte Sinai

20

8

0

1

Juruá

12

4

2

0

Independência

32

18

2

0

Demarcação

44

33

6

*

Total

155

86

12

20

*as pessoas não sabiam informar corretamente.

Gráfico 2. Acesso ao tratamento odontológico. Rio Machado, 2005.

Gráfico 3.       Condição de saúde observada no exame clínico. Rio Machado, 2005.

 

 

Tabela 3        Procedimentos realizados por comunidade. Rio Machado, 2005

Localidade

ART

tratamento

expectante

remoção de cálculo

exodontia

 selante

ATF

exame clínico

Tabajara

42

2

49

59

0

31

70

Monte Sinai

19

0

26

13

0

6

26

Juruá

18

0

59

5

4

22

18

Independência

35

2

89

31

0

23

52

Demarcação

59

5

86

50

0

16

84

Total

173

9

309

158

4

98

250

Gráfico 4        Principais procedimentos executados, por localidade. Rio Machado, 2005.

5.  OBSERVAÇÕES

ü      Relatos de moradores de Tabajara tanto nos enalteceram como nos indignaram. Muitos afirmaram que a saúde da localidade melhorou muito com a constância da atuação oferecida pela USP, mas o descaso com que a saúde é tratada pelos órgãos públicos é expressivo. Alguns relataram que não está havendo o transporte dos pacientes pelo sistema de referência do SUS. Nenhum dos moradores, que foram questionados de maneira informal, soube informar sobre as equipes de saúde da prefeitura (que atuariam dentro do Programa de Saúde da Família); eles relatam apenas que recebem a visita da equipe de vacinação.

ü      Há pessoas hipertensas em todas as comunidades, sem tratamento, por falta de acesso ao médico e/ou aos medicamentos (não conseguem condução a Calama, Porto Velho ou Machadinho D’Oeste e não há acompanhamento local).

ü      Não há assistência a saúde nas comunidades e não estão sendo oferecidas condições de encaminhamento dos casos com necessidades de tratamento a unidade de referência, contrariando os princípios do SUS. Não raros são os casos de agravos e infecção de feridas, que talvez fossem evitados com suturas ou curativos. Atendemos casos de cortes infeccionados a ponto de causar celulites. Atendemos cortes imediatos, de dias e até de meses. Fratura exposta há 40 dias, sem tratamento nenhum. As pessoas buscavam a atenção mesmo tendo passado tanto tempo, com medo de perderem seus membros com a infecção. Há relatos de histórias de amputação, principalmente dos dedos das mãos, por esse motivo.

ü      Foram observados várias crianças com sinais clínicos de desnutrição e anemia, com visível retardo no crescimento. Entre os adultos, além dos sinais de anemia estarem também presentes com freqüência, observamos muitos casos de etilismo. A malária também se mostrou com uma prevalência aparentemente grande, e os pontos de diagnóstico têm sido apenas Tabajara e Demarcação, ou seja, os ponto extremos para os quais as pessoas só vão “fazer a lâmina” quando já tem certeza do diagnóstico, apenas para pegar o tratamento, sem correr o risco de perder a viagem. Esse quadro nos obriga a sugerir atuação mais profunda em termos de orientação e assistência às comunidades por parte de ambos os municípios (Porto Velho e Machadinho D’Oeste) e, por que não, do Governo do Estado.

ü      Nossa equipe foi muito bem recebida pelas comunidades, que já nos aguardavam.

6.  FINANCIAMENTO

            A viagem e o atendimento foram executados com recursos do Conselho Nacional de Pequisa (CNPq), pelo financiamento da pesquisa “Levantamento Epidemiológico e Avaliação de Programa em Saúde Bucal de População em Região Rural e Ribeirinha do Rio Machado, Estado de Rondônia”, sob coordenação do Prof. Dr. Luis Marcelo Aranha Camargo do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

7.  ABREVIATURAS

ICB 5 – USP: Instituto de Ciências Biomédicas 5 da Universidade de São Paulo

ATF: Aplicação Tópica de Flúor

ART: Tratamento Restaurador Atraumático

SUS: Sistema Único de Saúde



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