.Mensagens enviadas por :www.lpc.org.br Luz Para o Caminho

22/04 _ Transcrevemos abaixo artigo publicado na Folha de S. Paulo domingo, 21 de abril de 2002, página A17: NO PLANALTO Mackenzie abre arcas da filantropia para Igreja Presbiteriana
JOSIAS DE SOUZA DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Reunida em Guarapari (ES), em outubro de 98, a cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil submeteu a sua rotina financeira a um pente-fino. Recomendou aos fiéis a otimização de receitas e a racionalização de despesas. Constatou-se, por exemplo, que "a estrutura administrativa dos seminários é pesada e cara". Decidiu-se, entre outras coisas, deflagrar nos templos uma "campanha nacional por fidelidade nos dízimos". Súbito, o que era coisa de presbítero começou a virar tema de interesse de todo brasileiro em dia com o fisco. A igreja deitou olho gordo sobre o Instituto Presbiteriano Mackenzie. Trata-se de autarquia da Igreja Presbiteriana. Sua face mais notória é a universidade assentada na área central de São Paulo. Classificado pelo governo como entidade filantrópica, o Mackenzie não paga impostos. Só aos cofres da Previdência deixa de recolher mais de R$ 20 milhões por ano. O Supremo Concílio dos presbiterianos decidiu pedir socorro ao Mackenzie. Deu-se em 27 de abril de 99, numa reunião realizada em São Paulo. O objetivo da igreja foi à ata: para "não mais votar orçamento deficitário". Submetido ao conselho deliberativo do Mackenzie em 20 de novembro de 99, o pedido foi aprovado. E a filantrópica pingou nos cofres da igreja R$ 1,3 milhão. O recibo não deixa dúvidas quanto ao beneficiário: "Igreja Presbiteriana do Brasil". Integram o conselho do Mackenzie nomes batizados pela igreja. Presidia-o à época Humberto Araújo. Além de presbítero, é suplente de outro conselho: o CNAS, órgão da Previdência que expede os certificados filantrópicos. O repasse levou à renúncia o missionário Olson Pemberton Jr., respeitado membro do conselho do Mackenzie. O texto da carta de desligamento não faz rodeio: "O que me motiva a tomar essa decisão (...) é a transferência de recursos do Mackenzie para seminários da igreja (...)". Olson Pemberton receava que a comunhão monetária com a igreja pudesse "colocar o Mackenzie em conflito com a lei". Amparava-se em pareceres jurídicos. Respondendo a consultas feitas pelo próprio Mackenzie, os advogados Roberto Quiroga Mosquera, Ana Cláudia Akie Utumi e Fábio Soares de Melo disseram que o repasse fere a lei e sujeita a escola à "suspensão" da imunidade tributária. Em outro parecer, o advogado Sérgio Roberto Monello admitiu a costura de um "convênio filantrópico/educacional" entre a universidade e a igreja. Desde que o Mackenzie alterasse o seu estatuto. Do contrário, poderia ser interpretado como "distribuição de parcela do patrimônio", com a consequente perda da imunidade tributária. Ouviu-se também o tributarista Ives Gandra da Silva Martins. Ele considerou defensável o auxílio à igreja, já que "o ensino teológico está dentro das finalidades institucionais do Mackenzie". Mas alertou: "Tenho sério receio de que a sustentação financeira de seminários teológicos da Igreja Presbiteriana possa ser considerada como desvio das finalidades institucionais da entidade, com risco de perda dos benefícios" tributários. O socorro à igreja não se restringiu ao óbolo de R$ 1,3 milhão. O Mackenzie comprou equipamentos para uma tal RPC (Rede Presbiteriana de Comunicação). Em ofício de 16 de dezembro de 99, a igreja orçou as compras em US$ 535 mil. Algo como R$ 1,23 milhão a preços de hoje. Em troca do aporte, ofereceu: 1) veiculação de programas da TV universitária do Mackenzie, em canal próprio, 24 horas, com cobertura nacional; 2) transporte de dados via satélite entre o Mackenzie de São Paulo e o de Brasília; e 3) uso da estrutura da RPC. Firmou-se o acordo em 2000. Responsável pela setor de comunicação e marketing da igreja, o reverendo Alcides Martins Jr. informa: passados dois anos, a RPC "engatinha". Conectada ao Brasilsat, racha com o Mackenzie o pagamento à Embratel. Coisa de R$ 40 mil mensais. Mantém um canal a cabo na DirecTV. Produz programas para algo como seis horas diárias. Mesmo com as inevitáveis repetições, o canal mantém-se ocioso a maior parte do dia. Foi ao lixo a idéia de transmitir dados entre as escolas de São Paulo e Brasília. "Ficou caro demais." Em vez de o Mackenzie usar a "estrutura" da RPC, dá-se o oposto. A rede da igreja mendiga espaço nos estúdios da universidade. "Às vezes passamos meses sem poder usar", lamenta o reverendo Alcides. Os papéis que revelam o relacionamento financeiro entre o escola e a igreja recheiam processo em tramitação no conselho filantrópico da Previdência. Chegaram ali graças a uma desavença. Demitido, um ex-diretor educacional do Mackenzie foi à forra. Chama-se Pedro Klassen. Enviou a Brasília cópias de documentos que colecionara no exercício de suas funções. Instado a manifestar-se, o Mackenzie deve entregar a sua defesa até 25 de abril. Humberto Araújo deixou a presidência do conselho deliberativo do Mackenzie em dezembro passado. Mas mantém o posto de conselheiro. Afirma que "os convênios com a igreja foram firmados dentro dos objetivos educacionais da universidade". Procurado, o diretor-presidente do Mackenzie, Cyro Aguiar, preferiu calar-se. O presidente da Igreja Presbiteriana do Brasil, reverendo Guilhermino Cunha, diz que é a igreja que ajuda o Mackenzie, e não o contrário. "Todos os prédios são cedidos em comodato. Não se paga um tostão de aluguel", exemplifica. Referindo-se ao socorro aos seminários, diz que houve uma "parceria educacional". O dinheiro foi "integralmente" usado para "pagar professores dos seminários, tudo documentado". Em mensagem que mantém na internet, o reverendo Guilhermino pontifica: "A igreja não pode imitar a República no que ela tem de pior. A igreja é a consciência do Estado. O cristão, nascido de novo, é sal da terra e luz do mundo. Não pode perder o brilho nem o sabor". Então, tá. Deus permita que o brilho dos cristãos ajude a iluminar as contas da igreja. Ainda que tenham um sabor amargo. Amém.

Participe! Envie-nos seu comentário : uniaonet@uol.com.br -www.uniaonet.com
. .