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Sermões do Pr.Joel

Índice

03.
Existe estado desincorporado? (20/04/2003)
02.
“ Ele apareceu a Cefas”
01.
Os dons discutíveis do Espírito Santo


Escrito
Existe estado desincorporado?
2 Coríntios 5:1-10

Estado desincorporado ou intermediário como sugere a Teologia Sistemática é o ínterim entre a morte física e a ressurreição corporal. A morte é uma realidade e a ressurreição é a hipótese decorrente da fé na Palavra de Jesus. Em Betânia o Senhor postou esta perspectivização assim : "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra , viverá; e todo o que crê em mim não morrerá eternamente. Crês nisto?" (João 11:25-26) A Teologia da História tem detectado algumas teorias sobre o estado desincorporado. Por exemplo , a Teoria do Purgatório da igreja Católica Romana. O purgatório não é um lugar de prova , mas de purificação , ou seja, a pessoa que tenha morrido e cometido pecados veniais vai Para o purgatório .( Esta doutrina romana não tem base bíblica consistente). De lá a saída para o Céu depende , segundo o raciocínio romano ,de boas obras , ofertas e missa oferecida por familiares. O grande problema desta proposta é que a salvação, em última instância, não é fruto da Graça de Deus, mas depende exclusivamente do pecador. E dizia Paulo " se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário , a graça já não é graça"(Romanos 11:6) Martinho Lutero , o redescobridor da doutrina da justificação somente pela fé , até admitia a probabilidade do purgatório e das indulgências, mas o que de fato o revoltou foi saber que o Papa tendo poder para perdoar os pecados , optou por vendê-los. E o pobre que não tem dinheiro para pagar uma missa como é que fica? Quando vai sair do purgatório ? Além disto , como individuo pode fazer boas obras quando todos carregamos a grande ambiguidade do pecado " não fazendo o bem que desejamos , mas o mal que odiamos" A Teoria do Purgatório fere o ensino elementar do Evangelho: " Porque pela graça sois salvos , mediante a fé ; e isto não vem de vós; é dom de Deus ; não de obras,para que ninguém se glorie".(Efésios 2:8-9)

A outra é a Teoria da Reencarnação propostas pelo Espiritismo de Alan Kardec. Este dizia que a reencarnação é a volta da alma ou espírito a um novo corpo a fim de evoluir. Esta teoria é perversa por quatros razões: (1) Quem está coordenando esta hipótese ? É Deus ou é o diabo? Se é o Deus da Escritura , há um contraditório em Deus porque a Escritura diz que a solução não é a evolução mas o perdão. (2) Como você pode evoluir se você não tem consciência da vida anterior ? (3) Nesta teoria a salvação , em última análise , é alguma coisa que depende exclusivamente do homem? (4) Na hipótese desta teoria ser verdadeira porque Jesus veio a este mundo e morreu na cruz?

A terceira Teoria é da Extinção. Esta propõe que o salvo quando da morte é levado para o céu e o perdido é imediatamente aniquilado. Não há nesta teoria lugar para o inferno ou penas eternas ensinos referenciais no Evangelho de Jesus de Nazaré. 0 estranho neste ponto de vista é a escassez de embasamento bíblico-teológico além de histórico.

Finalmente , vem a Teoria do Sono Inconsciente da Alma. Esta teoria sugere que a alma fica na sepultura ate o dia da ressurreição e juízo final . Esta hipótese está alicerçada em uma pobre exegese das palavras sheol e hades , especialmente no contexto do Antigo Testamento. Estas palavras usadas no Antigo Testamento possuem conotação diversa, ora significando a sepultura ora a habitação dos mortos e é pelos defensores da idéia, generalizada; sobrepondo?se o sentido único de sepultura. Diante da heterogeneidade no Antigo Testamento a exegese tem estabelecido que a interpretação mais correta é obtida olhando a questão corn os olhos do Novo Testamento seguindo a máxima de Agostinho quando pontificava: " O Velho Testamento está claro no Novo e o Novo Testamento esta escondido no Velho."

Os textos clássicos geralmente usados para se teologizar o estado intermediário são Lucas 16:19
32 e 2 Corintios 5:1?10. O último e mais explícito do que o primeiro porque a uma sistematização
do assunto. A pericope lucana suscita problemas hermeneuticos tais como aquele que declara
tratar?se de uma parábola. Conquanto a parábola não seja sinônimo do improvável , usaremos a
narrativa sinótica somente como complemento. 2 Corintios 5:1?10 é um texto que surge no
contexto da defesa paulina do seu apostolado contestado por grupos pneumaticos da igreja de
Corinto.(l Corintios 15:12) Há alguns pontos claros nesta passagem. Por exemplo , em primeiro
lugar , a base para se discutir o " após morte " é a historicidade da ressurreição de Jesus. Ignorara o evento do Cristo vivo é cair no absurdo existencial ou como dizia Paulo " se Cristo não ressuscitou, comamos a bebamos porque amanhã morreremos".( I Corintios 15:32) Assim sendo ,
só se pode falar de vida após a morte depois de se estabelecer a viabilidade da idéia . No texto o
autor coloca a facticidade deste evento desta forma: " Tendo porém, o mesmo espírito da fé, como
está escrito: Eu cri , por isso a que falei, tambem nos cremos , por isso tambem falamos, sabendo
que aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus, também nos ressuscitará com Jesus e nos apresentará ;"(2 Corintios 4:13?14) Desta maneira , estabelecido este pressuposto, o autor afirma
algumas conclusões. Em primeiro lugar, declara que a morte não e a cessarão da existência. No
verso I brilhantemente forma o raciocinio claro. Por exemplo, ele usa a expressão " sabemos que ,
se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos por parte de Deus, um edificio, casa
não feita por mãos , eterna, nos céus."(v.l) Há induzido aqui que o eu , a pessoa , sobrevive
independentemente do corpo. Na realidade , a morte não extingue a existência. Há uma sutil , mas
confortadora nuance entre os termos "sabemos" , " tabernáculo" a "casa eterna nos céus". Em
outras palavras , o autor está afirmando: eu sou eu a despeito da morte. A morte não é o fim, a um
estar com Jesus tão vivo e real como estou agora. (Apocalipse 6:9) Por outro ]ado, o autor deixa
claro que nem gostaria de que a morte fosse iminente para que não fosse encontrado nu, isto é,
alguem desincorporado. Em outro texto , I Corintios 15:51?57 , ele expressa o desejo de que a
parousia ocoresse no seu tempo. Em I tessalonicenses 4:13?18 ele é mais explicito. Isto sugere a
idéia de que há certa ambivalência numa alma ou espírito sem o corpo na tradição cristã. Em
segundo lugar , Paulo declara que " estar no corpo é estar ausente do Senhor"(v.6) Não que Jesus
esteja num outro cosmos, mas só o ressurto percebe as coisas em sua plenitude, na sua eternidade.
Limitados pela fraqueza mortal " vemos como espelho, obscuramente, então veremos face a face ,
agora conhecemos em parte, a então conheceremos como também somos conhecidos."( I Corintios 13:12) Nos termos de 2 Corintios agora " vemos apenas as coisas que sao transitórias " porque as realidades eternas sao ainda imperceptiveis a nós. (v.18) Em terceiro lugar , o estado intermediário e irreversível. Observem que o texto é óbvio quando afirma: " Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo a habitar com o Senhor".(v.8) O raciocinio não deixa dúvida. Deixar o corpo , morrer, significa estar com o Senhor. Nem os textos, nem as recentes descobertas das chamadas experiências " de quase morte " , conquanto ainda discutidas cientificamente não sugerem nenhum processo de metempsicose ou reencarnaçãoo. Não há o que evoluir. A morte pressupõe para Paulo a santidade absoluta , " transformação do nosso corpo de fraqueza para ser conforme o corpo glorioso de Jesus". (Filipenses 3:21) O estado intermediario desemboca então na ressurreição final, no encontro de todos os vivos , transformados, adaptados para viverem a eternidade com o Senhor ( I Tess 4:13-18) Ai dar-se-à o juízo, a definição escatológica, decisisva eterna e inevitável do nosso ser (João 5:28-29 )


Excurso

02.“ Ele apareceu a Cefas”

I Corintios 15:5

Os cristãos consideram o evento da ressurreição de Jesus “ dentre os mortos “ , como a expressão credal formal básica.( I Co 15:1-1) E hoje mais do que nunca , este fato é asseverado pelos biblistas. Desta forma , espero também que todo cristão esteja suscitando a inquirição: qual a proposta e relevância da Ressurreição de Jesus de Nazaré , para mim hoje ?

Desejo , tecendo algumas considerações , ajudá-lo a , prudentemente , fazer uma leitura da ressurreição de forma mais viva e autêntica. Jesus morreu não por uma causa , mas por mim e você e ressurgiu como evidência de ter alcançado tal desiderato? E se atingiu tal objetivo o quê de importância tem o fato para nós hoje? Foi algo intelectualmente viável? O fato , por si só , deu significado à vida daqueles que conviveram com o Cristo e aceitaram o seu desafio , conquanto de inicio não apreenderam a lógica , se havia uma lógica , da História.? Há três pressupostos basilares , à luz da Escritura , testemunho histórico “ dos fatos que entre nós se realizaram “ conforme dedução lucana.(Lc 1:1-4)

Em primeiro lugar , os discípulos não assimilaram a idéia de uma ressurreição física quando verbalizada por Jesus. Interpretavam-na sempre como algo simplesmente extravagante e absurdo. É sempre assim. Nunca cremos que Deus seja capaz de criar coisas novas, que Ele é ultra-circunstancial, conquanto recitemos do Credo dos Apóstolos: “ Creio em Deus Pai criador do céu e da terra”. Todavia , demesticamos Deus à descrição genesíaca. E aí é que Deus nos surpreende , porque Ele por essência é Deus da continuidade , que se posta criando situações e realidades inéditas. Imaginemos se os diacípulos tivessem presenciado a ressurreição em si , como evento histórico! Ninguém viu Jesus no ato da ressurreição, este é o grande milagre do Evangelho, mas ninguém pode negar que Jesus , rompeu o túmulo , matou a morte e está vivo. (João 11:25) Prevalece a recomendação de Jesus: “ Se creres , verás a glória de Deus”.(João 11:40)

Em segundo lugar , Jesus foi de fato , após a ressurreição , reconhecido fisicamente. Não era um fantasma ou , como muitos exegetas liberais supõem, um espírito materializado. Jesus não foi nem revivificado nem reencarnado , mas ressurgiu e apareceu. Em Atos , Lucas intencionalmente evita estas suposições quando documenta a assertiva: “ Depois de ter padecido , apresentou-se vivo , com muitas provas incontestáveis , aparecendo-lhes durante quarenta dias “(Atos 1:3) No seu Evangelho , João informa de maneira clara e elegante este fato: “ Disse-lhes Jesus: “ Vinde comei!” (João 21:12) Neste texto Jesus é real. Os discípulos não estão alucinados , mas reconhecem verdadeiramente Jesus de Nazaré. Desta maneira, não cremos em estórias ou abstrações , mas num evento historicamente verificável: “ O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão.” (Lucas 24:34) Não foi o túmulo vazio o centro da nossa esperança, mas o Jesus que se deixou verificar, repetindo a idéia já aludida de Atos 1:3. Já a mais antiga e autêntica tradição credal, também afirmava tal fato: “ Cristo morreu pelos nossos pecados , segundo as Escrituras. Foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas e depois aos Doze. Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora, porém alguns já dormem. Depois foi visto por Tiago , mais tarde por todos os Apóstolos”.(I Co 15:4-7)

Em terceiro lugar e último , a Ressurreição é a prova e antecipação do nosso futuro. Creio que esta é a mais bela tônica da Ressurreição do Nosso Senhor Jesus. Assim , podemos dizer que temos um futuro e nada poderá no separar do amor ilógico de Deus.(Romanos 8:38-39)Jesus deu-nos a prova desta probabilidade.Ele matou a morte , ou seja a ressurreição foi a morte da morte. Não há. Portanto, lugar para desânimo ou desespero , mesmo que aqui e ali cheguemos a situações que estejam além das nossas forças, dos nossos limites. Aceitemo-los e os entreguemos a Deus.( 2 Co 1:8 , Fp 2:13) O apóstolo dizia: “ Se temos esperança em Cristo tão somente para esta vida , somos os mais dignos de compaixão de todos os homens. Mas não!. Cristo ressuscitou dos mortos , sendo as primícias dos que dormem. Cada um , porém , em sua ordem; como primícias , Cristo ; depois , aqueles que pertencem a Cristo , por ocasião da sua vinda.” (1 Co 15:20-23). Isto meu amado irmão significa que nem mesmo a morte destruirá o futuro que temos em Jesus. Compreendemos assim , que a ressurreição de Jesus não foi um mero espetáculo , mas antecipação exclusiva e prova da probabilidade do futuro de todo aquele que crê e espera no Nosso Senhor Jesus. A ressurreição toma sentido mais deslumbrante quando relembramos estas palavras do divino Mestre: “ Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra viverá: e todo o que vive e crê em mim , não morrerá eternamente. Crês isto?”(João 11:25-26)

Apesar da dificuldae de muitos em apreenderem o sentido deste evento , apelando para teses fantasiosas , como o problema da linguagem usada pelos homens da época de Jesus , sua limitadíssima compreensão de noções elementares da física quântica , Jesus vive e atua na vida do homem de Hoje.Como usar outra linguagem , ou insinuar que o auditório do escritor bíblico não entendeu que Jesus ressuscitou corporalmente ou que interpretou o evento como tendo sido uma alucinação dos discípulos , quando o texto é explícito em declarar que os contemporâneos do Nosso Senhor , ao se referirem ao acontecimento , criam de fato que Jesus subiu mesmo do túmulo depois de ter sido comprovadamente admitido , após averiguações deles e do próprio Pôncio Pilatos.

O que talvez ainda se constitua problema , merecedor da ponderação é:os nossos conceitos de tempo e espaço são suficientes para conciliar declarações tais como as encontradas em Lucas 24:39-41 e I Corintios 15:1-11 além das dos Evangelhos que apresentam o fato ? Não são as nossas categorias de pensamento inadequadas quando nos propomos entender o que de fato se deu na Ressurreição? O cientificismo moderno não se constitui anacrônico e paupérrimo diante do universo escriturístico? Paulo não dirime , mas questiona , suscita a questão com lucidez diante diante da especuladoramente dos gnósticos , sem dúvida os questionadores do fato.(I Corinrios 15:12) No entanto , advoga o evento inconteste do Cristo Ressuscitado e não o espiritualiza , aliás , na mente de Paulo , não há lugar para uma dicotomia, ou seja , isto aqui é material e aquilo ali é espiritual.(I Corintios 10:31,2Corintios 4:16-18)

Rev. Joel Paulo de Sousa Filho

joel.paulo@.uol.com.br.

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Escrito

01. Os dons discutíveis do Espírito Santo

A profecia, tanto quanto a glossolalia, são dons discutíveis que mais prejuízos trazem à Igreja hoje.Não em função , propriamente, do carisma mesmo, mas como afirmava Paulo, por causa do entusiasmo desenfreado dos “pneumáticos”.(I Co 14:37 Não é acidental que o texto de I Corintios 12-14 seja uma exposição exaustiva, peculiar e inteligente do tema. Neste excurso, restringir-me-ei à análise da perícope,exegetizando e hermeneutizando para a vivência eclesial. Tudo se resume, ver-se-á, à questão de se priorizar o experiencial em detrimento do nocional da Palavra de Deus. E, todas as vezes que o orante parte da experiência para a doutrina ,surge um subjetivismo contagiante e legalista. Ambas precisam andar juntas.

Profecia é em linguagem teológica e considerada nesta reflexão, um carisma extraordinário. Infelizmente, não sabemos, a rigor , o que teria levado o autor a resposta tão sistemática e precisa do tema. Havia um problema de relacionamento provocado por avaliações heréticas a respeito do carisma? Estava a autoridade do autor sendo posta em discussão? O contexto da epístola nos induz à conclusão de que a situação era mais relacional do que epistemológica, isto porque, os corintios se reuniam para adoração. (I Co 11:17-19,14:26-32) Nestes capítulos Paulo conceitua e expõe como se dá a manifestação do Espírito Santo em profecia e glossolalia, determinando balizas para o uso dos dons a nível congregacional.(I Co 14:26-32)

Em minha vivência pastoral, noto que este é o carisma no qual a presença do discernimento de espíritos é mais ausente na sua devida compreensão. Em certas circunstâncias tem se tornado o horóscopo de cristãos que não fazem absolutamente nada sem um salvo-conduto, às vezes até biblicamente supérfluo, de um pretenso guru que se intitula profeta evangélico.Em função destas idiossincrasias já se teria eleito um Presidente protestante, doentes terminais impreterivelmente curados, negócios feitos e desfeitos, bancarrotas desestruturando a vida de crentes crédulos, conquanto ingênuos, sinceros diante de Deus.Os abusos, entretanto, não devem levar-nos ao extremo de negar o carisma, nem questionar o ministério do Espírito Santo como dizia o Nosso Senhor e registrado em João 14:25-26. Este é o grande perigo que a igreja corre, ignorar ou proibir o mover pneumático, e isto é, exatamente, o que a Escritura condena, ou seja , nem a ignorância nem o arbítrio anulam a legitimidade da ação do Espírito. Destarte, a opção sábia é “procurar com zelo os melhores dons “, ou numa tradução contextulizada, “os dons mais úteis à assembléia.”(1 Co 14:31,39)

A tarefa de interpretar escrituristicamente o fenômeno é imprescindível. E a releitura inteligente da Palavra de Deus jungida à unção do Espírito sugere alguns pressupostos. A priori , elucidemos definições históricas, mas incorretas biblicamente. Por exemplo, há uma distinção fortíssima entre pregação e profecia. Tanto no Antigo Testamento, versão grega da Septuaginta, como no Novo Testamento , o grego Koinê , a profecia tem caráter intimista e preditivo. Os termos gregos que identificam os fenômenos são “kerussô” (Rm 10:16) e “profeteo”( I Co 14:28) Apesar da distinção etimológica , há em contextualizações específicas uma intercambialidade de idéias , isto é, em determinadas circunstâncias uma pregação pode conter ou se tornar uma profecia. Não é a regra, é a exceção. Em princípio, geralmente os fenômenos são discerníveis. As conceituações são tão flexíveis que até uma conversa entre religiosos, com toda certeza politicamente tendenciosa , pode ser uma profecia, tal é a liberdade do Espírito Santo.(Jô 11:47-52, I Co 12:11)

Profecia é revelação do propósito de Deus ao orante. É um fenômeno porque não se pode negar que quaisquer manifestações do Espírito Santo são experiências intensas e que só são digeridas a níveis do transcendente, ou plagiando Otto Piper, à luz do “numinoso”. Aqui este teólogo se identifica com a Escritura (I Co 2:10-16). Assim sendo , o texto de I Corintios 14:29-32 declara que a profecia é uma revelação, é algo que não se apreende academicamente, conquanto seja , ao contrário da glossolalia, uma experiência cognitiva. Note-se que há no texto a idéia explícita de que o cristão está no controle da manifestação pneumática. As cláusulas “..esteja assentado..”(I Co 14:30a) “...cale-se o primeiro..”(I Co 14b), “...um após outro..” (I Co 14:31) e “ os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas..”(I Co 14:32); denotam a ordem do fenômeno na dimensão comunitária. O apocalipse de João é chamado com propriedade “ Revelação de Jesus Cristo”(Ap 1:1) e identificado genericamente como “ profecia “ (Ap 1:4).É um discurso inspirado dentro da mais legitima tradição dos profetas hebraicos. Desta maneira , as formas de expressar determinadas teofanias não poderiam ser diferentes das dos profetas, por exemplo.(Ex 4:15-16) Assim, o elemento preditivo na profecia do Novo Testamento (At 21:10-14) não deve ser entendido como qualquer interpolação arbitrária de determinado autor, mas seu elemento constitutivo.Todavia, quando se discute este carisma hoje, já não há dubiedade quanto `a natureza , etiologia ou relevância do fato, mas a questão é – quais os critérios de avaliação da autenticidade do fenômeno? O que é divino, pisicológico ou demonizante? São probabilidades factíveis no universo espiritual.(Efésios 6:10-14) Aqui é que está a grande problemática do tema em termos de praticidade eclesial.Isto é tão sério que o próprio Espírito Santo se manifesta “ em dom de discernimento de espíritos “(I Co 12:10) Observem que não é carisma de “ discernimento”, “bom senso” , mas dom de discernimento de espíritos. Isto viabiliza os cuidados acima pressupostos. Então , a grande inquirição é: como identificar um mover do Espírito Santo em profecia ? Como distinguir o falso do verdadeiro e que atitude tomar.(Ex 8:6-7,16-19)?

Em primeiro lugar , o texto de Paulo estabelece que a grande ênfase no exercício da profecia é que a mesma deve ser sempre “julgada”(I Co 14:29-30) Aqui surge um impasse textual: julgar a quem ? O profeta ou a profecia? O texto é teologicamente dúbio. Entretanto, contextualizando a declaração de Paulo, parece que discernir simultaneamente o espírito da profecia e o caráter do profeta é o caminho mais fiel e conveniente. Examine-se tanto o profeta como a profecia. Por exemplo , o profeta pode falar em línguas espirituais, exorcizar demonizados , operar milagres, manter postura beneditina, mas se os frutos da sua vivência da prática do Nosso Senhor , forem maus, é preciso questionar, com certeza estaremos diante de uma escaramuça do diabo. São João da Cruz , nos seus escritos, dizia que para se descobrir o demônio é só uma questão de tempo e paciência. Jesus foi incisivo neste aspecto.(Mt 7:15-23) Toda profecia deve fielmente cumprir-se. Profecia do Espírito Santo se cumpre , malgrado o sentido pleno,longínquo, maior , de que fala o biblista; ela sempre tem um cumprimento imediato(Dt 18:21-22) O grande problema hoje é que vivemos numa sociedade marcada pelo instantâneo exagerado e o crente não tem paciência para esperar ouvir a voz de Deus.(Tg 1:19-21,Is 28:16) E aí a veracidade da fé é questionada em razão da ingenuidade , hipocrisia ou soberba de pretensos profetas. Aqui louvo os grupos carismáticos católicos. Nestes , toda profecia é submetida , antes de anunciada à congregação, ao parecer teológico dos “ pastores e mestres”(Efésios 4:11-15) Há uma simbiose entre o carismático e o institucional(Atos 15:1-28) Além disto, vivemos em um caldeirão religioso sobremodo sincretista. Não há povo mais religiosamente sincrético do que o nosso. Imagine discernir o verdadeiro entre adeptos da macumba, candomblé,Iurd, católicos carismáticos, neo-pentecostais, segmentos diversos do espiritismo,grupos orientais,etc.Não é fácil! Qual o referencial para o cristão sincero? Eu, particularmente, não ignoro a recomendação de Jesus presente em João 5:37-40.

A Glossolalia, como a profecia, é uma carisma constitutivo da igreja. Na visão de Paulo , não existe igreja sem carisma (Efésios 4:7-14) A exposição de I Corintios 12-14 , conquanto ocasional, é uma formulação doutrinária do assunto. Em I Corintios a questão é sistematizada e em Atos dos Apóstolos é historizada. O evento do Pentecostes não foi de línguas estrangeiras na sua origem, apesar da opacidade da perícope de Atos 2:1-13.A reunião em casa de Cornélio, interpretada por Pedro como tendo sido epistemologicamente semelhante ao acontecido no Pentecostes, elimina todas as justificativas dos que optam pela hermenêutica tradicional do fato. Assim sendo , a essência do problema é que tivemos no Pentecostes um milagre não de dicção , mas certamente de audição não obstante em situações peculiaríssimas os fenômenos pululem simultaneamente. Em I Corintios , os textos em análse não esgotam a explicitação de todos os dons , mas sòmente os discutíveis, geradores de uma postura litúrgica e ética de alguns irmãos. Outrossim, esclareça-se que o autor fala a uma igreja que vivencia os carisma, daí não achar necessário defini-los , restringindo a interpretação apenas à glossolalia e profecia.((1 Co 12:14)

A priori , Paulo corrige distorções presentes na igreja local. Sugere que não ignorem os dons(1 Co 12:1-3), mas que procurem com “zelo os dons úteis”, ou seja, que promovam a edificação e em circunstância alguma se proíba o falar em línguas ,desde que , evidentemente , sejam respeitadas as normas estabelecidas por Deus( 1 Co 14:37) E isto é , justamente o que a igreja histórica brasileira não tem pensado.Até hoje , não se viu um texto de peso, exegeticamente imparcial que tente definir o fenômeno. Os poucos documentos que surgiram nestas duas últimas década , por exemplo, são análises tímidas e vividamente viciadas exegética e teologicamente. Na verdade diria que são mais eisxegese do que exegese séria, ou seja , construída à serviço da Teologia Institucional , e neste caso o Espírito tem procurado “assoprar” em outros campos.(Atos 10:44)

Nos textos paulinos acima referenciados , o que podemos descobrir como princípios a respeito da questão? A exposição inicia dizendo que “falar em línguas “ é um fenômeno(1 Co 14:2). A expressão “falar em línguas estranhas “, que apareceu na década de setenta em algumas versões da Escritura, não é nem bíblica nem teológica.No texto original , Paulo afirma simplesmente que orar no Espírito ou pelo Espírito é “ glossolalein”, reconhecidas lingüisticamente quanto à estrutura morfológica, mas não conhecidas por etnia alguma.(1 Co 14:2) É um dom de Deus , útil à igreja quando corretamente interpretada( 1 Co 12:8,14:5,39 ) Qual seria a natureza deste fenômeno?É uma forma não intelectual de comunhão com Deus. Examine nesta pesrpectiva 1Corintios 14:13-14 contextualizando exegeticamente. O que o texto diz é que o orante glossolálico , conquanto a nível consciente não saiba o que está verbalizando, pelo menos tem o controle das emoções e está sendo edificado.(1 Co 14:4,32) É aqui onde quem não teve a experiência não absorve o fenômeno, mas é a mais clara e pura verdade do Espírito. Observe-se com cuidado a declaração de Paulo: “Porque , se eu orar em outra língua , o meu Espírito ora de fato , mas a minha mente fica infrutífera”( 1 Co 14:14) Aqui sou menos dogmático e mais empírico e diria que na verdade , a rigor, ninguém pode declarar que é proprietário de um carisma, mas que somos meros canais, instrumentações do Espírito que distribui “ como lhe apraz”.(1 Co 12:11) “ visando um fim proveitoso”(1 Co 12:7) ; a edificação em unidade da igreja que adora. Se não edifica a comunidade, no refletir do autor não é um dos “ melhores dons”. Melhor aqui é sinônimo de útil. Além disto , o falar em línguas é uma experiência que edifica(1 Co 14:4,5,22,23).A idéia embutida neste termo “ edificar “ tem uma conotação terapêutica.O Espírito Santo cria livremente mecanismo para o louvor , comunhão,derramamento da Graça de Deus, que geram cura interior , convicção da presença cotidiana do Senhor, disposição para preservar a unidade do Espírito , apego à Palavra de Deus e um tremendo amor ao próximo. Finalmente, de forma abrangente, mas didática., o texto reafirma alguns critérios para o uso deste carisma e expurga crendices que lamentavelmente estão arraigadas no seio da igreja hoje , mas que não permitem uma boa, séria e saudável hermenêutica: (1) Não há normas para o uso do dom a nível não congregacional (1 Co 14:28) (2) O dom não pressupõe que o orante seja mais espiritual do que outros irmãos. Quando muito ,pode-se admitir que o mesmo vivencie vida cristão mais coerente do que antes.(1 Co 14:4) (3) Se não houver interpretação e não tradução, ou seja , alguém que sob inspiração de Deus decodifique a experiência glossolálica, a recomendação é que “...fique calado na igreja , falando consigo mesmo e com Deus..”( 1 Co 14:28-32) (4) O orante não perde nem a consciência, nem o controle emocional quando ora em línguas.(1 Co 14:32). (5) O carisma , como qualquer outro , deve ser avaliado pela comunidade. Observe a necessidade do “ discernimento de espíritos “ como guardião da legitimidade da revelação e adoração (1 Co 12:20,14:29) (6) Todo crente comprometido com a Palavra de Deus , deve aceitar estes pressupostos como revelação do Senhor.(1 Co 14:37)

Rev.Joel Paulo de Sousa Filho

Igreja Cristã Evangélica União

Fone: 256-1382

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