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ÍNDICE das Crônicas disponíveis :

1 - E ASSIM COMEÇOU O MEU NATAL
2 - QUANDO O CORAÇÃO AJUDA A MENTE
3 - LAZER E... HARRY POTTER
4 - ENCONTREI MEU NOME !
5 - MEU PEQUENO JASON.
6 - PREGAR: QUE BÊNÇÃO !
7 - CORAGEM.
8 - SE EU MORRESSE AMANHÃ
9 - E AINDA ESTOU AQUI...
10 - EM POUCAS LINHAS.
11 - É MAIS FÁCIL ASSIM...
12 - OS QUE CONFIAM NO SENHOR.
13 - QUEM SOU EU?
14 - MANTENDO-SE NAS ALTURAS.
15 - MEU COMPROMISSO.
16 - PROCURA-SE.
17 - OUSAR É PRECISO.
18 - UM DIA.
19 - O PORÃO.
20 - MEMÓRIAS DE UM PÚLPITO.
21 - DESAFIO PARA OS CRENTES.
22 - NATAL - UM MILAGRE!.
23 - O NATAL ATRAVÉS DOS SÉCULOS.
24 - DOIS TEMPOS DE NATAL.
25 - QUANDO TUDO PARECIA PERDIDO...
26 - NO LUGAR DO OUTRO.
27 - O ABECEDÁRIO DE DEUS.
28 - A ARMA SECRETA.
29 - 2002 - CINZAS OU ARCO-ÍRIS?
30 - CAMINHANDO NO PASSADO.
31 - EPÍLOGO

( em
26/02/2003 no endereço : www.cronicasdopastor.hpg.com.br)


Outros textos Disponíveis nesta página :
32 _ UM DOMINGO ANTES DO NATAL (12/2003)
33 _ Revendo o Caminho (12/2003)
34 _ O TELEFONE TOCOU, ( NATASHA & LUCIANO )
35 _ Pastores Batistas Unidos
36 _ Crônicas de verão de 1 : AROMA DE PINHO CAMPOS DO JORDÃO . 2 :TORNEIRAS SECAS . 3 :TÍTULOS VAZIOS e 4 : PALAVRAS MEDICINAIS
37 _ SER PASTOR ( enviada em 07/02/06)
38 _ Flor de Maio ( 1 a 8)
( enviada de 02 a 29/05/07)

04.ENCONTREI MEU NOME!
 
 Eu tinha apenas 14 anos, e já notava o quanto as pessoas consideravam aquela senhora repulsiva.
 
 Seu nome era Conceição. Trajava uma blusa azul rasgada, uma muleta metálica toda esfolada, um prendedor de cabelos amassado, um vestido até os joelhos e sempre se sentava no último banco.
 
 Sabíamos que nunca a igreja ficaria fechada, fosse no Carnaval, com os retiros, fosse no dia de Ano Novo, Natal, Dia da Pátria ou qualquer outro evento em que quase todos viajassem. A irmã Conceição não faltaria. Isso era tão certo quanto dizer que Belo Horizonte fica em Minas Gerais.  Mulher pobre, morava com uma filha solteirona.
 
 Notava-se que tinha pouca higiene, não por ser suja, mas por ser idosa e não haver pessoas que cuidassem dela. Seus outros filhos eram todos já sessentões e haviam seguido caminhos tortuosos, alguns eram bêbados, outros vagabundos, enfim, não era o que se esperava de uma família cristã.
 
 Ah, mas isso fora resultado de uma vida sem Deus em outros tempos. Vinda de Portugal, Conceição não tinha o temor do Senhor.
 
 Viúva precoce, lutou como poucas para sustentar os seus filhos. Lavou roupas, foi doméstica, fez salgadinhos, ela foi uma heroína. Agora, idosa, já pelos 90 anos, estava na época de usufruir da gratidão dos filhos que, infelizmente, não acontecia.
 
 Há alguns anos Conceição conhecera a Cristo durante um culto ao ar livre. O irmão Idelino Lopes de Oliveira, hoje Pr. Idelino, pregava num culto da pracinha. Conceição o ouvia com atenção, até que, não podendo mais evitar a emoção e o desejo, entregou-se a Cristo, tornando-se naquela tarde mais uma remida pelo Cordeiro de Deus.
 
 Foi batizada e desde o início tornou-se membro de nossa Igreja (Batista de Sumarezinho, São Paulo, SP). Eu, convertido aos 14 anos, já a encontrei com anos de igreja.
 
 Mas eu percebia algo impressionante: Conceição nunca fora eleita para cargo algum. Seu nome nunca fora cogitado para nada, nunca  compôs qualquer comissão, jamais estivera à frente de qualquer atividade da igreja.
 
 Aliás, as pessoas nem gostavam muito dela, principalmente de pedir-lhe que orasse. Suas orações eram longas, comovidas, sua voz era trêmula, suas palavras difíceis de se entender, com mistura de sotaques.
 
 Geralmente ela entrava muda e saía calada, apesar de alguns a cumprimentarem quando não tinham outra opção. Pela manhã e à tarde, ao  abrir os portões, a zeladora contemplava Conceição, a primeira a chegar. E ao término das atividades, quando a bênção era impetrada, Conceição ia embora, descendo a ladeira, mancando com sua velha bengala.
 
 Quantos problemas nossa igreja passara em 4 anos! Problemas com membros, problemas entre igreja e pastor, problemas de saúde, problemas de assalto, problemas de toda espécie.
 
 Mas, miraculosamente, no meio das aflições e da expectativa de estarmos no final da estrada, sem a mínima possibilidade de solução, sem futuro, uma bênção inesperada acontecia, um novo caminho e uma brilhante solução despontava ante os olhos estarrecidos e estupefatos de toda a congregação.
 
E, ao darmos graças, lá estava Conceição, quietinha, lágrimas nos olhos e sempre uma palavra de Conforto para nos dar.
 
 Deixei a igreja para congregar em outra. Foi lá na outra que recebi a notícia:
 
 Conceição adoeceu e quer vê-lo. Meu Deus, ela adoecera mais ainda? E agora? Fui visitá-la. Tadinha, sofria tanto naquela cama, sem cuidados, mas estava tão feliz e alegre! Ela orava, e orava, e orava!!! Não havia o que confortá-la.
 
 Eu é que saí confortado! Certa noite o pastor disse que ela pediu para que deixassem-na partir para a Glória Celestial, pois Jesus a chamava. E Jesus a levou.
 
 Passados os primeiros dias, a igreja tomou conhecimento de um tesouro inigualável, algo assustador, maravilhoso, celestial, impressionante. Entre os seus míseros e parcos pertences (um móvel velho, sua cama quebrada, seus farrapos de vestir, seus velhos objetos e bíblia), encontraram cadernetas.
 
 Havia cadernos e mais cadernos, cadernos surrados, cadernos velhos, rotos, costurados, amarelados, com letras tão mal-escritas, à lápis, à caneta, à pena, cadernos escritos por dentro e por fora. Eram os CADERNOS DE ORAÇÃO.
 
 Descobrimos que Conceição era muito mais do que qualquer um de nós poderia imaginar. Encontrei o meu nome naquele caderno.
 
 Encontrei quando entrei na igreja como visitante, encontrei quando adoeci mortalmente em 1982, encontrei anotações de agradecimento, e pelo futuro ministério que um dia teria. Encontramos os nossos nomes todos ali.
 
 Aos poucos começamos a entender porque Sumarezinho nunca sucumbira ante os ferrenhos ataques terroristas do Diabo: Conceição não dormia, ela orava!
 
Ela clamava!
 
 Vi o nome de quem nunca a cumprimentou! Vi o nome de pessoas que a chamavam de "velha fedida"! Vi o nome de gente granfina que nunca imaginou ser alvo das orações de alguém.
 
 Ali estava um tesouro incomensurável, em "vasos de barro", em papel velho e amarelo, que representava muito mais do que todos nós um dia já havíamos oferecido a alguém ou a Deus.
 
 O meu nome estava lá. Cada situação, cada dificuldade, Cada desafio. Conceição orava por mim. E por que? O que eu havia feito para merecer as suas orações?
 
 O que os pastores que nunca a recomendavam para cargo algum faziam para figurar em suas constantes súplicas? Cada presidente da República, cada artista de TV, cada pregador visitante, cada criancinha que nascia, estávamos todos lá, sendo apresentados a Deus pela Conceição.
 
 Minhas palavras na época foram: "Meu Deus, quem ocupará o lugar dela?" Ninguém. Aliás, ninguém de que se tenha notícia, pois pode bem acontecer de outra Conceição ter se colocado "na brecha" e esteja orando, orando, orando...
 
 Como sinto vergonha, dor, rubor de faces, ante a grandeza da Conceição e a minha pequenez! Ela nunca pediu NADA para si, nada havia em seus cadernos por si própria, mas pedia tudo para os outros! Que resignação, que vida em prol do próximo, que abnegação desmedida!
 
 Conceição é uma das heroínas da fé que passearão com Cristo com vestes resplandecentes e coroa na cabeça. Em lugar da muleta terá palmas para saudar o Rei por quem viveu o tempo todo em que foi crente. Seu nome está não em um caderninho, mas no Livro da Vida do Cordeiro!
 
 E eu me pergunto: quem, além da Conceição, foi tão esquecido quanto ela? Nós não éramos dignos de uma mulher de sua qualidade e coração! Ela foi "um dom de Deus" para nós, foi a nossa intercessora.
 
 O que eu tenho sido nas mãos de Deus? O que nós temos sido diante d'Aquele que um dia teve aos Seus serviços uma serva como Conceição?
 
 Quisera eu que mais Conceições surgissem hoje. Talvez  pela falta delas é que nossas igrejas estão tão pobres espiritualmente, ainda que muitas tenham tesouros que a traça corrói e os ladrões roubam! As riquezas que Conceição buscava as nossas igrejas hoje têm esquecido, por isso cambaleiam ante os "Boeings" que o Diabo-Terrorista atira contra as nossas estruturas interiores.
 
 "Senhor, obrigado porque um dia houve uma Conceição que orou por mim". Obrigado porque as orações dela foram atendidas. Ajuda-me, Senhor, a seguir o exemplo daquela tua serva, há tantos anos dormindo em Cristo, para que novos heróis e heroínas na fé se apresentem para ocupar a
 
brecha que ficou vazia.
 
 Em nome de Jesus. Amém."
 
 Pr. Wagner Antonio de Araújo

Jorge Pedrosa_21/06/06 Prezado Pastor Wagner Antonio de Araujo, Li uma longa e linda história sobre uma senhora de nome Conceição ( www.uniaonet.com/bnovascronicas.htm ) e cujo relator era o senhor. Gostaria de saber se esta história é real mesmo porque foi muito significativa para minha vida, certamente esta história mudou o rumo da minha vida porque hoje sinto que estou com uma doença grave, embora em alguns exames nada tenha aparecido de relevante, mas tenho sentido e tenho orado muito mesmo. Nunca orei tanto e como esta senhora citada, tenho orado com muito amor por tantas pessoas, não tenho esquecido de ninguém. Não tenho a intenção de trocar nada com Deus, pois sei bem que um simples toque de Deus, estarei curado de qualquer que seja a enfermidade e hoje já não sinto mais medo de morrer porque sei que estarei no descanso eterno com o Senhor, mas quero fazer a Obra de Deus. Só tenho 45 anos de idade e agora despertei definitivamente para esta necessidade de servir verdadeiramente ao Senhor, muito embora eu já estivesse dentro de Igreja Evangélica há muito tempo. Chegou a hora de eu trabalhar, levar o Evangelho de Jesus, levar a Palavra viva de Deus e que já estou fazendo. Por isso peço a Deus mais uma chance de viver com saúde para serví-lo e mais nada. Peço que o senhor ore por minha vida, para que Deus me cure de qualquer possibilidade de estar com uma grave enfermidade e que me escreva, por favor. Estarei, como a dona Conceição, orando por sua vida e por sua família por muitos anos. Um grande abraço e a Paz do Senhor Jesus! Jorge Antonio de Almeida Pedrosa Florianópolis/SC
recebi esta mensagem de uma irmã da Igreja Cristã Maranata de Ubá/MG.


09 - E AINDA ESTOU AQUI...

Corria o ano de 1982. No auge dos meus 17 anos, lá estava eu, buscando servir a Deus, na Igreja Batista de Sumarezinho. Já havia sido professor de Escola Bíblica Dominical, presidente da União de Jovens, líder de juventude na associação de igrejas batistas da região oeste da capital, etc. Eu não era o melhor. Havia muitas outras pessoas melhores do que eu, mas, citando o poeta, "Havia gente bem melhor, mas o meu nome eu escutei..." E, se eu escutara o meu nome, nada mais importante para mim do que servir ao Senhor. Era estudante colegial à noite e auxiliar administrativo no BCN SERVEL de Alphaville, em Barueri, Grande São Paulo. Comecei ali como office-boy, e, digo sem pestanejar: foi a melhor fase da minha vida, em termos profissionais!

Contudo, era época de primavera. As rosas desabrochavam nos jardins, mas as chuvas da primavera traziam também alguns virus, algumas enfermidades. A molecada contraiu catapora. Eu, que não era vacinado (no meu tempo de bebê não havia o remédio disponível), acabei por contraí-la. O médico da empresa deu-me uma semana de licença. "Que bom! Vou descansar!" Descansar? Como? Coçava tudo! Eu não parava de me coçar, tinha febre, e até a fome havia perdido, o que realmente denota uma enfermidade considerável para mim...

A semana passou rapidamente. Meu pai rumara para Salvador, para participar do Centenário dos Batistas Brasileiros. Fora com a Igreja Batista Betel, com o saudoso caravaneiro Pr. Silas Mello. Mamãe e meu irmão é que estavam em casa.

No dia marcado retornei. O médico, como de praxe, examinou-me detalhadamente. Ao usar o estetoscópio no meu peito, fez cara de suspense, ficou pálido e não parava de auscultar-me. Perguntei-lhe o que era. Ele nem respondeu. Preparou uma guia de internação para o ambulatório central. Gelei. Caro leitor, você também não ficaria atônito? Eu fiquei.

Liguei para a minha mãe, que rumou logo para a Vila Mariana. Eu fui de carro da empresa. Lá chegando, o outro médico me examinou. Imediatamente tomou o telefone na mão: ligou para uns 4 hospitais, gritando com os atendentes que me arrumassem uma vaga, porque era caso de vida ou morte. "Vida ou morte?!!"

Por fim, corremos ao pronto socorro do Hospital São Joaquim, na Beneficência Portuguesa. O médico exigiu todos os exames novamente. Surgiu em mim a esperança de que fosse tudo um grande mal-entendido. Pedi à minha mãe que me preparasse aquele bife à milanesa para o jantar, porque tinha confiança de estar em casa à noite.

O médico, depois que obtivera o resultado dos exames, chegou de mansinho, colocou a mão no meu ombro e disse: "Está vendo aquela maca? Está vendo aquele soro? Está vendo aquele enfermeiro? É tudo para você. Suba, porque você será internado imediatamente na UTI."

Amigos, minha mãe, pobre mulher, começou a chorar desesperada. Os filhos eram toda a sua riqueza. Mulher sofrida, de corpo frágil pelas interpéries até então enfrentadas, agora ficara frente à frente com um destino devastador! O médico confidenciara-lhe que o meu caso era gravíssimo, provavelmente irreversível. A catapora havia infeccionado vários órgãos do meu corpo, principalmente o coração. Não sabiam bem o que fazer, mas iriam tentar de tudo. Incentivou-a, porém, a deixar as documentações em ordem, a verificar preço para caixão, as formalidades de sepultamento, etc. "Minha senhora, talvez ele não passe desta noite".

Eu, deitado naquela maca, imaginava um jeito de fugir dali. Detestava hospitais, morria de medo de injeções, tinha ânsia de vômito com o cheiro forte de éter, estava no lugar onde eu realmente não queria estar.

O elevador demorava a chegar. Quando chegou, o enfermeiro gritou com a ascensorista, dizendo: "Você quer que o moleque morra no elevador?" Pensei: "Meu Deus, o que estará acontecendo?" Ao chegar, obrigaram-me a me despir. Fim do meu sonho de fuga! Fugir nu era demais para mim. Resignadamente e à força, submeti-me ao hospital. Logo colocaram-me um soro, deram-me umas seis injeções doloridas, rasparam o meu peito, ligaram eletrodos, três máquinas com o mapeamento do meu coração, cérebro e outras funções. Enfim, virei um autêntico "ROBOCOP" enferrujado... Logo o companheiro do lado veio a falecer - minha primeira experiência dura com a morte! Vi várias ali. Escutei gritos aterrorizantes, de pessoas que desciam da cirurgia, que não suportavam a dor da enfermidade, e que partiam deste mundo cheias de sofrimento. Logo depois transferiram-me para um quarto isolado, pois eu era uma ameaça à saúde de todos: estava convalescendo da varicela...

Lá fora, minha mãe tentava encontrar forças para voltar para casa. Ligou para a Mocidade da igreja, que correu ao hospital, visando receber informações, boletins médicos, etc. Meu pai foi notificado e estaria voltando assim que fosse possível. O pastor da igreja também estava em Salvador. Segundo minha mãe, foi uma noite não dormida, foi uma noite de vigília. No domingo, segundo dia de UTC - UTI, o médico de nossa igreja foi visitar-me. Ao falar com a junta médica, ao reunir-se com a equipe, muniu-se de informações preciosas. Seu testemunho no culto da noite em nossa igreja foi: "Irmãos, eu sou médico, falarei como profissional da medicina. Nosso irmão Wagner está com uma enfermidade terrível. Só um milagre poderá tirá-lo de lá. Oremos para que ele parta em paz e que Deus console a família". Comoção geral.

O meu coração batia sem ritmo. Parava um pouco, batia um pouco, semelhante aquele comercial de companhia aérea, onde diziam "viaja um pouquinho, descansa um pouquinho, etc." Numa das passagens de turno médico, (eu não dormi um minuto dos 3 dias e meio de UTC - UTI), os médicos disseram: "Às três horas ele teve princípio de infarto; às 5 ele foi socorrido com medicamentos por ameaça de derrame, etc". Enquanto diziam isso, o meu coração disparou. Perceberam que estavam falando muito alto e que eu estava ouvindo.

"Acho que vou morrer". Foi a conclusão a que cheguei. Naqueles três dias fiquei amarrado a 4 enfermeiras, cada uma com um turno de 6 horas. Elas eram as únicas pessoas com quem eu podia conversar. Em sendo JESUS o meu grande assunto, acabei por contar toda a história da criação, a formação do povo de Deus, os reis, os profetas, o ministério de Cristo, os atos dos apóstolos, as profecias do fim do mundo, etc. Acredito piamente que, se eu ficasse um pouco mais ali, as enfermeiras é que precisariam ser internadas. Elas não me suportavam mais! Mas o que é que eu podia fazer? A boca fala do que o coração está cheio, e eu tinha que lhes falar como estava feliz por ter Jesus no meu coração!

Fiz uma oração. Lembro-me dela, porque foi um verdadeiro "a.C./d.C." na minha vida. Eu disse:

"Senhor, eu acho que vou morrer hoje. Talvez amanhã, não tenho bem certeza, mas as coisas estão muito difíceis. Quero agradecer-te pelos 17 anos que vivi. Senhor, quantas coisas eu pude fazer! Estudei, brinquei, chorei, apanhei, conheci lugares, me converti, trabalhei na igreja, falei de Jesus, foi muita coisa boa. Muito obrigado. Quero que o Senhor me perdoe as faltas que me são ocultas. Mas gostaria de pedir-te uma coisa: gostaria de não morrer. É possível, Senhor? Bem, se o Senhor achar que é, então eu farei uma coisa, quando sair daqui: serei pastor. Não estou chantageando a ti, ó, Deus. É uma oferta de gratidão. Terei prazer em fazê-la. Em nome de Jesus. Amém."

Acalmei o coração. Nessa hora entrou na UTC o Dr. Hugo, um venezuelano. Levaram-me de cadeira de rodas à sala de um moderno equipamento recém-instalado no hospital, um tal de "ultra-som". Eu já não andava mais. Colocado em outra cama, recebi aquela dose generosa de gosma pelo peito. O médico começou a apertar uma espécie de microfone na gosma espalhada, e via um monte de chuviscos num monitor ligado ao equipamento. Enquanto ele passava a máquina em mim, uma listagem saia do computador. Quando ele leu a listagem, saiu correndo no corredor, gritando: "Potássio! Potássio!" Logo uma enfermeira, junto com ele, trouxeram outro soro. Arrancaram o que estava em mim e puseram o novo. Quando o líqüido correu a minha veia, eu gritei no corredor. O médico mandou adicionarem xilocaína, mas, de forma alguma deixassem de me injetar aquela substância.

A igreja orava. O povo clamava a Deus. Meu pai e o pastor chegavam de viagem. A mocidade estava triste, apreensiva, aguardando nas misericórdias do Senhor, que são a causa de não sermos consumidos.

Após dois vidros de soro e umas 3 horas depois do início do processo, o meu coração foi ganhando ritmo, ganhando nova vida, entrando na normalidade, e eu fui sentindo sono, um gostoso estado de sonolência benfazeja. Quando acordei, estava num quarto. Era o sexto andar da ala nova do hospital. Eu tivera melhora. Deus ouvira as orações, em especial a minha, que era o maior interessado no assunto. Ele concordara com o oferecimento que fizera. Seláramos um acordo com aquela dedicação. Foram mais 9 dias de hospital. Fiquei sabendo do meu problema: eu nascera com uma grave disfunção genética, má formação. O nome das enfermidades que eu tivera: miocardite, endocardite, taquicardia crônica, prolapso da válvula mitral, ausência generalizada de potássio no sangue. Não sou médico, não entendo disso, mas sei que eu deveria estar morto, à luz das estatísticas. Mas estou aqui, vivo para a glória de Deus. Bendito seja o Senhor, o médico dos médicos, doutor dos doutores, que tudo faz como lhe apraz!

Os nove dias de quarto normal foram inesquecíveis. Os enfermeiros marcavam em seus relógios o horário das 22 horas. Vinham uns 15 no meu quarto. Lá eu pregava num culto improvisado e só eu e outros 3 cantávamos, porque os outros nada sabiam. Dos três que cantavam, dois eram desviados do Evangelho e só um era crente fiel. Ao final, bendito seja Deus, 8 decisões ao lado de Cristo. Aleluia! Cheguei acompanhar a história de alguns deles.

Setembro de 1982. Dezembro de 2001. Estou há 19 anos vivendo um tempo extra. Cresci (e engordei também...). Tive recaídas, tenho crises de quando em quando, tomo 18 comprimidos diários, faço acompanhamento, mas, quem me vê, é incapaz de dizer: "ele é doente". Exceto pelos exercícios físicos, dos quais sou proibido, levo uma vida absolutamente normal. E por que? Porque Deus quis assim.

E eu sou pastor. Ó, inaudita felicidade, pude cumprir a minha parte da oração! É claro, eu já pensava nisso desde os 14 anos, mas ali foi o meu chamado absoluto! E aqui estou, com 10 anos de caminhada pastoral.

O futuro? O futuro para mim é Cristo. O passado? Dias inesquecíveis com o Senhor. O presente? Bem, o presente eu posso construir. A nossa vida é a colheita do que semeamos. Quero continuar semeando boas sementes. Tenho certeza de que elas produzirão muitos frutos. E eu ficarei feliz em ver que não atravessei a vida em vão. Quero viver cada dia no centro da vontade do meu Pai celestial.

Glórias, pois, a Ele.

E obrigado pela paciência, dileto leitor. Obrigado pela leitura.

Pr. Wagner Antonio de Araújo,

Igreja Batista Boas Novas, Osasco, SP.


MEMÓRIAS

PASTORAIS
número 10
 
32 . UM  DOMINGO

 ANTES DO NATAL

 

 

 

21/12/2003

 

Wagner Antonio de Araújo

 

TENTAÇÃO

 

Geralmente sofro uma grande tentação aos domingos: a carne, oposta ao espírito, sente uma grande vontade de não ir ao culto. Satanás, que usa a carne, enche o meu coração de má vontade e de desânimo. No princípio eu achava que isso era bobagem, era apenas cansaço. Depois, verificando minuciosamente, percebi que faz parte de um ataque maligno para nos fazer esfriar na fé, desistir, enfraquecer. Então cheguei à seguinte conclusão: O MELHOR MOMENTO PARA SE IR A IGREJA É QUANDO NÃO SE TEM VONTADE. É justamente quando estamos sem vontade que mais precisamos. Assim, por maior que seja o desânimo, por maiores que sejam as justificativas para não ir, eu vou. E como sou abençoado!

 

O que? Pastores também sentem desânimo e vontade de não ir a igreja? Claro! Somos seres humanos! Só que muitos não dizem. Eu digo. E creio que, assim, acabo ajudando quem também sente e tem vergonha de dizer. Então, ambos, o leitor e eu, faremos tudo para vencer o desânimo!

 

 

 

 

 

NATAL DO PRIMEIRO DE MAIO

 

"Cadê o nosso povo?", foi o que perguntei às irmãs Júlia e Regina, a primeira, cobrando a presença dos alunos da Escola Bíblica Dominical; a segunda, cobrando participação no Natal que faríamos, uma vez que ela tinha passado a madrugada arrumando os presentinhos.

 

Sim, o nosso povo falhara. É preciso entender que as pessoas têm parentes, têm férias, têm viagens, e que nem sempre contamos com elas nos trabalhos. Mas quando a maioria delas resolve ir para a praia no mesmo dia, então ficamos tristes e preocupados. Nosso povo, comumente em número de 40, não passava de 12 nesta manhã.

 

No dia anterior, eu, o Jhonatan e o Washington fomos à Rua 25 de Março, atacadista de miudezas, para comprar presentinhos de Natal para as crianças do bairro Primeiro de Maio. Conseguimos comprar 50 acquaplay de bolso e 50 massinhas de modelar por R$90,00 (eu pechinchei muuuuuito...). Iríamos até o bairro deles, numa escola, levar a cantata e os presentes. Mas fomos alertados a tempo de que alguns marginais poderiam colocar a perder a comemoração, provocando uma tragédia. Então desistimos. Celebraríamos o Natal deles no nosso templo mesmo. Um deles, o Donizete, possui uma Kombi, e a encheria de crianças, trazendo-as. Era essa a nossa confiança para esta manhã.

 

Eram 9:45 e não tínhamos mais do que 15 pessoas, e apenas 4 crianças. Vamos esperar mais um pouco. 9:50, 9:55, às dez horas chegou uma kombi lotada de crianças. Chegou, descarregou e foi embora, com a promessa de trazer mais gente. Dez minutos depois mais uma kombi. E até às 10:30 tivemos o templo cheio de crianças! Que beleza! "Deus continua mudando e aumentando o auditório!" Como foi lindo ver todas aquelas crianças! Certamente o Senhor viu o meu lamento, quando em julho só tínhamos uma criança, a Bárbara. Hoje tínhamos que conter a molecada para não derrubarem o templo... Que doce bagunça!

 

 

  

 

UMA LINDA CANTATA

 

A Bruna e a Jaqueline fizeram um trabalho árduo e promissor: treinar crianças do bairro, totalmente desconhecedoras da bíblia e do que era uma igreja, ensinar-lhes a cantata, prepará-los com as vestimentas e apresentá-los. Foi lindo! Tinha jogral, tinha dramatização, cada um fez a sua parte e foi lindo! No final, aplaudimos de pé, com longa duração!

 

 

 

PRESENTES?

 

Então eu disse: "Bom, acabou a cantata, vão pra casa e voltem à noite, e no dia 24 também tá?" Daí eles disseram: "Não, a gente quer presente!" "Como? Presente? Pra que?" "Queremos presentes! Queremos presentes!" Então Regina, Bruna, Jaqueline, Adriana, as nossas responsáveis, entraram com os pacotinhos de presentes. Que alegria! Que festa! Que lindo contemplar os olhinhos da molecada brilhando porque ganharam um presentinho! Acredito que hoje elas nem dormir irão, porque estavam deslumbradas! Algumas nunca ganharam presente na vida! Aprenderam de Jesus, desaprenderam sobre Papai Noel (apesar de ser um conto muito lindo), e festejaram o seu Natal! Pedimos auxílio a empresários. Apenas dois se manifestaram. Mas não importa, nós juntamos o dinheirinho e compramos lembrancinhas. Os adultos ganharam um panetone e um Novo Testamento, e as crianças ganharam massinha, acquaplay, roupinhas e livrinhos evangelísticos!

 

 

 

A IDADE DA MAMÃE

 

Após algumas caronas, vim para casa. Mamãe estava cochilando com a cabeça caída, em sua poltrona de idosa, sozinha, enquanto a porta estava aberta. Eu entrei, afaguei os seus cabelos e a saudei. Ela despertou, disse que a Milú tinha ido comprar salsichas para o meu almoço (estou em regime alimentar DE VEZ EM QUANDO...).

 

Eu olhei bem para a minha mãe. 73 anos de idade, sofrimentos mil. Colheita de café, milho, algodão, feijão, laranja, e, depois, quando jovem, carregadora de caixas em indústria, pintora de peças de automóveis, serviços pesadíssimos, que lhe custaram a saúde das pernas e uma bela trombose. Depois, cuidar do meu pai até a sua morte, em 1991. E, então, como uma vela se apagando, ela não conseguiu mais descer as escadas de casa, e há dois anos não sai mais da sala, do quarto e do banheiro. Meu Deus, como eu gostaria de remoçar a minha mãe! Como eu gostaria de poder fazer alguma coisa por ela! Ela festeja as notícias que trago, ela se alegra com o meu irmão em sua vida empresarial, ela se entristece com os cultos que perde em sua igreja (Igreja Batista de Vila Pompéia, capital SP) e ouve a Rádio Melodia o tempo todo! Meu Deus, como a minha mãe é preciosa!

 

 

EVOLUÇÃO

 

Depois do meu segundo banho, o da tarde, pus-me à caminho. Nuvens enormes, escuras e ameaçadoras cobriam a abóbada celeste paulistana. Eram 17 horas. De minha casa até a igreja são 25 quilômetros, pela Marginal do Rio Tietê. No caminho peguei pouca chuva, mas pude olhar muito para o céu, que identificava chuvas pesadas em outras áreas.

 

Então pensei: Como pode um infeliz dizer que tudo no universo é mera obra do acaso? Alí, diante dos meus olhos, estava um verdadeiro sistema inteligente de hidratação e regação, um sistema complexo e muito ordenado: o céu em cima estava escuro, muito escuro. Embaixo circulavam em sentido contrário pequenas nuvens claras, como se fossem soldados que buscavam ser a proteção da retaguarda ou batalhão de suprimentos. Ao lado ficavam nuvens de barulho, de onde saíam faíscas imensas e ribombavam trovôes colossais. Nas beiradas ficavam nuvens que mais pareciam estar levantando as abas do vestido ou da calça, exibindo um cinza mais claro, que era a área atingida pela chuva. Bem, como alguém ainda pode olhar esse sistema e acreditar que tudo não passa de luta pela sobrevivência de espécies? Que espécie estava ali lutando? A ACQUAS VIVUS NATURALIS? A NUVINEZIS DICHUVUS? Não, meus amados leitores, o sistema evolutivo é perverso, é egoísta, é a sobrevivência do mais forte. E é miseravelmente falso. Há um Deus por trás de tudo isso! Aleluia!

 

Sim, Deus projetou e criou todo o universo! Há uma ordem justa e perfeita, arquitetada pelo grande Criador, que faz com que chuvas tremendas alimentem e realimentem a terra. Que maravilha! Olhando da janelinha do meu automóvel, eu cantava: "Então minh'alma canta a ti, Senhor, grandioso és Tu, grandioso és Tu!".

 

 

 

AUDITÓRIO E TEMPESTADE

 

Tudo o que Deus faz é perfeito. "Mas, Senhor, não poderia fazer a chuva esperar uma hora apenas?" A resposta foi NÃO. Deus sabe o que faz. Contudo, a igreja estava praticamente vazia às 18:45, faltando 15 minutos para o culto. "Confiemos nele já, vencedores nos fará", a mensagem do lindo hino. Era o que eu precisava, sem dúvida alguma. E valeu confiar!

 

Aos poucos as pessoas foram chegando. O Donizete trouxe a sua kombi lotada de crianças do 1o. de maio. E adultos vieram. Gostaram dos panetones e dos Novos Testamentos, decidiram voltar para agradecer (já pensou se todos fossem assim?) A Izamara Oliveira, nossa preciosa e talentosa treinadora de vozes e artes, membro da Igreja Batista Central de Guarulhos, e apaixonada pela Boas Novas, estava à frente. Destacou a Bruna e a Jaqueline para a apresentação.

 

Mais uma cantata. Que coisa bela! Que coreografia infantil linda, junto à mangedoura, junto ao povo, mostrando na linguagem de criança a realidade do Natal! Foi inesquecível! Após as apresentações, todos aplaudimos calorosamente, obrigando-os a repetirem o último hino, como fazem os conjuntos internacionais. E como foi gostoso ver a molecada fazendo arte, cantando, brincando! Bruna e Jaqueline: Vocês são ótimas!

 

Depois ainda tivemos bolo e torta, com refrigerantes.

 

 

FIM DE NOITE

 

O meu gabinete (aliás, nem sei se é meu mais, porque a turma o invade, toma conta dos sofás, da minha mesa, do carpete, eu tenho que pedir licença para entrar...) estava bem movimentado nesta noite. Última sessão de fotos para o anuário, reunião com seis ex-membros, que vieram nos visitar, reunião com o Pr. Aparecido e seu filho Roger, reunião com a comissão de anuário, reunião sobre o passeio do dia primeiro, muita coisa. É claro, algo aconteceu dentro de cada um de nós: percebemos um VAZIO. E, para esses VAZIOS, o melhor mesmo é UM JANTAR. E foi pra lá que fomos, eu, Izamara, Jhonatan e Washington. Comer frango na tábua. Papear. Orar. Como foi bom!

 

E agora vou agradecidamente deitar, dizendo ao Senhor: muito obrigado, ó, Deus, por um domingo tão belo e tão bom!

 

Eu espero que partilhar este domingo com os meus diletíssimos leitores contribua para que orações sejam feitas por mim, pela Igreja Batista Boas Novas de Osasco e que sirvam de estímulo para quem se vê pequeno e se sente pequeno: é tempo de viver intensamente a bênção da vida! Sejamos tudo aquilo que o Senhor tenciona de nós!

 

Deus a todos abençoe.

 

 

Wagner Antonio de Araújo

pastor da

Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP

 

bnovas@uol.com.br


MEMÓRIAS PASTORAIS

número 07
 
 
33.Revendo o Caminho
 
 
"Jhow (Jhonatan), escute-me com atenção", dizia eu, sentado numa cadeira à porta da casa do Pr. Dionísio, em Luiziânia, "quem semeia amor, amor colherá, quem semeia respeito, respeito obterá. É certo que nem sempre é assim, mas no geral o é. Seja um jovem bondoso. Procure valorizar as pessoas. Nunca deixe-se levar pelo orgulho e a presunção. Respeite os mais velhos, reverencie a experiência. E nunca abandone os seus verdadeiros amigos. Certamente Deus será com você".
 
Eu estava pensando exatamente nessa frase, dita ao Jhonatan, meu companheiro de viagem, no último domingo à tarde. Refletia sobre todas as coisas acontecidas e as tremendas implicações da minha última aventura. Quero partilhá-la com todos vocês.
 
 
NOV, 30, SÁBADO, 9:15 a.m.
 
Saí de Osasco, rumo a Lins, interior de São Paulo. São 446 quilômetros de distância. Para não ir sozinho, convidei o jovem vocalista da banda Philos, meu discípulo no Discipulado Dinâmico, Jhonatan, a quem trato como um filho por consideração. Ele não me deixaria dormir no caminho.
 
Pelas misericórdias do Senhor o carro estava em bom estado, a gasolina daria para chegar ao destino. Fomos ouvindo as fitas mais preciosas do momento: GRUPO ELO, GRUPO LOGOS, VENCEDORES POR CRISTO, BANDA ÁGAPE, LOS ANGELES MASS CHOIR. O clima, frio e nublado, deu lugar ao belo e maravilhoso azul do céu, logo após Sorocaba. Já era possível tirar a blusa.
 
NOV, 30, SÁBADO, 11:15 a.m.
 
No quilômetro 198 da Rodovia Castello Branco, paramos para reabastecer - a barriga! RODOSERV, que lugar excelente! Lá pudemos comer um bom "pão com ovo e tomar uma tubaína". Claro, eu comi menos, porque o Jhow está em plena fase de crescimento, aos dezoito anos. E eu estou em fase de crescimento também ... sõ que dos lados... Gastamos um tempinho para observar as enormes carpas criadas num lago dentro do restaurante.
 
 
Depois disso, estrada de novo. No 203 saímos rumo a Botucatu. Em Botucatu pegamos a Rodovia Marechal Rondon e seguimos. Ah, como eu gosto dessa região! Passamos pela saudosa São Manoel, cidade onde refugiei-me por uma semana, quando mortalmente enfermo há 4 anos atrás. Depois sentimos o odor forte de óleo de Lençóis Paulista, passamos por Agudos, e, enfim, chegamos a Bauru.
 
Mas havia ainda muito chão pela frente. Sem parar, fomos ganhando o interior. Pedágios, pedágios, pedágios. Meu Deus, como são caras as nossas estradas paulistas! Boas, porém, caras.
 
 
NOV, 30, SÁBADO, 2:30 p.m.
 
Chegamos a Lins. Fomos diretos ao BarraVento, uma pousada bem no final da avenida de entrada. Ali eu já fizera um retiro espiritual com o Senhor. Ali ficaríamos por esses dois dias. Negociação de preços (eu sou pechincheiro ao extremo), escolhemos o apartamento 6. Malas fora do carro, bíblias à mão, ar condicionado ligado, enfim, um pouco de descanso. E o que fazer, cansados e com sono, além de estarmos com fome? "Primeiro o Reino de Deus". Fizemos o nosso primeiro momento devocional. Joelhos em terra, bíblias abertas, oramos, lemos a Palavra e cantamos a Deus. Dormir? Não, não havia tempo hábil. Tentei localizar o Pr. Dionísio, de Luiziânia, onde eu iria pregar no dia seguinte, mas o telefone não atendia. Logo, só restava tempo para tomarmos banho, nos arrumarmos e irmos à casa do noivo. Foi o que fizemos.
 
 
NOV, 30, SÁBADO, 5:00 p.m.
 
Encontramos o Pr. Timofei Diacov descansando e conversando com a parentada. Casa cheia, muitos russos presentes. A família concentrou-se. O povo de São Paulo, de Tupã, de Varpa, de toda a região, estava chegando. Todos queriam dar um beijo no noivo. Perguntei se haviam colocado a polícia federal nas saídas da cidade, para não deixarem a noiva fugir, disseram que estava tudo em ordem, o delegado era amigo da família...
 
Enquanto conversávamos, a hora passava. O noivo estava tranqûilo, eu é que me desesperava, pois já estávamos quase chegando às 18 horas e o noivo não se arrumava. De repente chegaram parentes de Varpa e Tupã, gente maravilhosa. Uma senhora muito distinta e elegante apareceu. Seu nome: ZINA. O Pr. Timofei introduziu-me. Ela então perguntou: "Esse é o Pr. Wagner da Boas Novas de Osasco, da viagem para Goiânia, do virus no computador? Foi por ele que eu soube que o senhor iria casar-se, Tio Timóteo!" Poxa, eu fiquei emocionado! Até em Tupã sabiam do virus do meu velho micro! Que poder de comunicação tem um computador na rede! Bem usado transforma-se em bênção!
 
NOV, 30, SÁBADO, 6:30 p.m.
 
O noivo pegou carona comigo. E o outro pastor, que iria celebrar o casamento (eu iria participar em algum momento), tinha mais um casamento no mesmo horário, na cidade de Cafelândia e não poderia estar. Logo, eu celebraria toda a cerimônia.
 
Cheguei com o Pr. Timofei, a igreja estava cheia. Fiz um baita alvoroço na entrada, buzinando muito e muito (eu gosto de um buzinaço...). Claro que todos ficaram olhando para fora e desconfiaram que, ou era alguém maluco, ou o noivo que estava chegando. Era só o noivo.
 
Ao entrar e contemplar o auditório, lembranças vieram-me à mente. Ali era a IGREJA BATISTA ÁGAPE, a segunda da cidade. Muitas pessoas que estavam presentes eram da PRIMEIRA IGREJA BATISTA. E eu conheci o sorriso de alguns. Meu Deus, eram eles!
 
Lá estava o Marcão, que me presenteou o seu quepe de soldado, ele servia e eu tinha 14 anos, ele me deu de presente o boné! E agora ele me apresentava os filhos de 16 e 18 anos! Lá no meio estava o Elias, também soldado na mesma época, com uma linda família! À frente estava a Silvana! Ah, Silvana, que moça bonita ela era, e que mulher bonita continua sendo! Mas, espere, e esse aqui? Wagner? Sim, Pr. Wagner Lucindo, seu esposo! E essa morena linda, quem é? Sua filha??? Que jovem linda, meu Deus! E esse garotão? Seu filho? Não acredito! Deixe andar mais um pouco... Boa tarde, tudo bem? Olha a família Soler! Tia Rute! Como está? Ah, quantos beijos e abraços de gente que me viu pequeno! A última vez em que preguei na Primeira Igreja da cidade eu ainda tinha 16 anos! A família Vigarani, O João Miguel, o povo de Cafelândia, gente , que maravilha! Até o irmão Resende, de bengala e tudo! Como a vida passa!
 
 
Infelizmente esta é a única foto que funcionou. O meu excelente fotõgrafo é excelente cantor, mas queimou todas as fotos de Lins, exceto essa... Aí está a entrada do Pr. Timofei para o seu casamento.
 
A noiva, irmã Rute, eu a conheci no altar. Que mulher graciosa e maravilhosa! Sua beleza e fineza a todos encantava! A doçura com que olhava para o Pr. Timofei era emocionante. Eu espero conhecê-la bastante, daqui para frente. No momento, o que posso dizer é que tive a melhor das impressões.
 
Muitas músicas lindas. Um lindo dueto, outro lindo solo, entradas dos padrinhos, daminhas, alianças, tudo impecável. Consegui até fazer a irmã Zina cantar um hino em russo, em homenagem ao Pr. Timofei!
 
Pregar no casamento de quem me batizou! Pregar no casamento do meu Pai na Fé! Claro que me emocionei. Mas fui até o final. Na saída do casal, exclamei, quando já estavam no final do corredor: "Irmã Rute, Pr. Timofei, Deus lhes abençoe, e sejam felizes!" Aplausos calorosos de todos.
 
Festa? Um bolo impecável, muito refrigerante - nem senti falta das tubaínas... - , muita gente bonita. Uma senhora metodista, de 82 anos, extremamente elegante, tomou o meu braço, olhou-me firme e disse: "Pastor, eu tenho 82 anos de vida, sempre fui metodista, meu pai era pastor, tenho irmãos pastores. Eu nunca ouvi ou vi uma cerimônia e uma mensagem como essa. Muito obrigado". Não preciso dizer que me emocionei.
 
 
NOV, 30, SÁBADO, 10:30 p.m.
 
Jhow e eu, após a festa e a lanchonete, nos recolhemos, aguardando algum telefonema de Luiziânia. O que tocou foi o interfone, me chamando na recepção. Era o André Soler, vice-presidente da Primeira Igreja Batista de Lins, convidando-me para pregar pela manhã. André, meu contemporâneo! Irmão do Adir, que namorou a mesma garota que eu tinha namorado! Velhos tempos! Agora ele veio com uma esposa muito bonita e nobre, e um lindo garotinho loiro nos braços! Que alegria! Claro que eu aceitei!
 
Domingo, 01/12/2003, manhã
 
 
Jhonatan e eu nos levantamos cedo, pois a pousada serviria um bom café da manhã. De fato um café precioso. Mamão, suco de laranja, geléia, queijo, pão, etc. (é bom eu parar por aqui, senão irei assaltar a geladeira).
 
Descemos a avenida e procuramos a igreja. Como sempre, me perdi um pouco, mas, com jeito, acabei encontrando-a. Lá estava, como sempre, a Primeira Igreja Batista, tão bonita, elegante e laboriosa!
 
O André Soler estava dirigindo a Equipe de Louvor. Excelentes cânticos, excelentes músicos. Logo a palavra foi entregue a mim. Falei sobre A PARÁBOLA DAS LARANJEIRAS e, novamente, fui chamado de PASTOR LARANJA no final do culto. Identifico-me tanto com esse texto e essa parábola, que acabo também esperando o final da mesma com emoção! Louvo ao Senhor pelos resultados.
 
Neide, a esposa do André, lecionou para os jovens. Excelente aula sobre mordomia. Ao final da Escola Bíblica Dominical, as despedidas costumeiras. Um garotinho, o Gerson Júnior, veio me abraçar. Me abraçou com tanto carinho e não me soltava mais! Um garotão esbelto de 11 anos, não queria me deixar, e eu o abençoei ali! De repente fiquei sabendo que era filho do Gérson, um contemporâneo, hoje próspero empresário na região! Que carinho do menino, do irmãozinho e do primo! Ao irmos embora, um carro sinalizou. Paramos. Era o Gérson, que não estava junto dos filhos e esposa (porque não freqûenta a igreja), mas que veio me dar um abraço (e ouvir um sermão...). Junto dele o garotinho, me abraçando com tanto afeto! Deus, abençoa essa família!
 
Domingo, 01/12/2003, hora do almoço
 
Estávamos verdes de fome. Principalmente o Jhow, pois eu não sou de comer muito... Fomos à casa do Pr. Timofei. A irmã Rute nos convidou para comermos macarrão. Lá chegando, vimos que a parentada estava quase toda por lá ainda. Pensei: será que vai dar pro Jhow comer?
 
Ah, e como deu! O molho foi preparado pelo pastor e o macarrão pela irmã Rute. Eles se completam, se combinam! Espero que seja sempre assim. Serviram-nos macarrão, salada, carne, enfim, uma suculenta refeição. Para sobremesa, sorvete de amendoim e creme. Que comidão!
 
Mas tivemos que sair correndo, porque ainda iríamos para outra cidade.
 
Domingo, 01/12/2003, tarde
 
Corremos à pousada, nos arrumamos correndo e "picamos mula", afundando-nos mais ainda para o interior, via Marechal Rondon. Fomos até a altura do 510, quase em Penápolis. Alí há uma estrada simples, que marcava Alto Alegre, Luiziânia, Jatobá, Reginópolis. Era lá mesmo.
 
O sol estava quentíssimo. O verde dos campos brilhava no calor da tarde. E eu estava preocupado, porque não sabia nem aonde ficava a igreja, nem a casa do pastor e não tinha o número de telefone. Mas, se a cidade fosse realmente pequena, acho que o povo poderia nos ajudar.
 
Chegamos a Luiziânia. Que lugar gostoso! Que pequenina cidade! Quatro mil habitantes apenas. Vimos um sorveteiro e resolvemos parar para perguntar. Ele nada sabia, mas indicou-nos a sorveteria. Lá sim, fomos atendidos e informados: a igreja estava a 150 metros de distância! Que bênção! Mas, entre uma informação e outra, tomamos sorvetes. E aproveitamos para instar com um jovem, desviado da Assembléia de Deus, para que voltasse para o Senhor.
 
Achamos a igreja. Uma fachada linda! Templo cheirando a carro zero quilômetro! Como a porta estava aberta, entrei.
 
 Logo vi a minha querida Valéria, tocando órgão e ensaiando com a moçada. Valéria é a esposa do Pastor Dionísio.
 
O Pastor Dionísio foi meu seminarista na Igreja Batista Boas Novas do Jardim Brasil, e eu tive o privilégio de encaminhá-lo ao concílio examinatório, ordenatório e à Ordem dos Pastores Batistas do Brasil. O tempo passou, mas ficou uma grande amizade.
 
Quando foi pastor em Jardim Santana, zona leste de São Paulo, ou Piracicaba, eu o visitei. Agora eu também fiz questão de vê-lo e prestigiá-lo nessa nova empreitada pastoral. Na foto ao lado a Valéria está ao meu lado e ao lado do Jhonatan.
 
Cansados, mas felizes, Jhow e eu fomos até a casa do pastor, conhecer seu barraquinho. Meu Deus, que barraquinho! Uma casa imensa, com 3 quartos, sala, uma cozinha que dá 3 da minha, área de serviços, quarto de bagunças, quintal do tamanho de uma pequena quadra, enfim, uma casa magnífica! A igreja alugou para abrigá-lo. Ele merece, é um bom homem, digno e fiel.
 
Conversamos muito, muito e muito. Falamos sobre as oportunidades que ele agora tem como pastor de uma igreja maravilhosa, com um povo bom e próspero também.
 
Contou-me que a igreja em poucos meses levantou o templo inteiro, completo! Então eu fui conhecer o templo. Irmãos, que templo! O salão de cultos abriga umas 150 pessoas. Os banheiros são finamente acabados. Atrás temos salas de crianças, jovens e adolescentes. Lá no andar de cima uma cozinha montada e uma área para lanchonete ou sociabilidades que dá o tamanho do meu salão na Boas Novas! E, aos fundos, outra área excelente para lazer! E então fui conhecer o gabinete do pastor... Que lugar fantástico! Ar condicionado, uma estante de luxo, suas mobílias, tudo do bom e do melhor! Também pudera: a cidade recebeu um pastor de ótima qualidade, faz jus ao investimento. Na foto, estou um tanto que à vontade no gabinete do meu pupilo... E, na foto ao lado, o Pr. Dionísio e eu, com gratidão ao Senhor por esse encontro inesquecível!
 
Mas o mundo realmente é muito pequeno. Eu jamais conheceria a cidade se não fosse pela ida do meu amigo para lá. E quem sairia perdendo seria eu, porque é um lugar maravilhoso. Mas o Dionísio levou-me para ver uma família. O Sr. Jaime e a Dna. Ana Célia, que são pais de um ex-ovelho meu na Boas Novas! O Jaiminho, o filho, está em Maringá, no Paraná, e eles, os pais, estão em Luiziânia! Que alegria reencontrá-los e travarmos um gostoso diálogo! Que sítio maravilhoso é o deles! A foto mostra a família.
 
A igreja é pequena, porém, eclética e muito bem representada. O prefeito e a esposa são membros. O médico da cidade também. Há lavradores, cortadores de cana, comerciantes, donas de casa, uma igreja maravilhosa. Poucos, mas com tudo para conquistar outra parcela da cidade para Cristo. Um detalhe interessante:
 
Houve uma história muito cômica, mas que mostra o prestígio dessa igrejinha. Um dia desses aconteceu um tumulto no bar. O padre foi chamado às pressas. Chegando lá, desabafou: "Mas que coisa! Vê se tem alguém da igreja batista aqui! Só tem ovelha minha! Vocês não têm vergonha de beberem e brigarem?" Numa outra ocasião um grupo evangélico jogou uma pedra na vidraça. O padre falou para os que estavam próximos: "com certeza não é ninguém da batista". Que bom! Se o padre vê Cristo em nós, bendito seja o Senhor! Quem sabe uma hora dessas o Dionísio come um pão com ovo com o padre e o evangeliza evangelicamente.
 
EU IA TERMINAR NESTE E-MAIL,MAS FICOU LONGO DEMAIS.
 
FAREI UM OUTRO PARA ENCERRAR.
 
CULTO DA NOITE, DOMINGO, 30/11/2003
 
(só agora percebi que estou colocando datas erradas. Por favor, considerem todas as demais com um dia a menos, pois domingo foi dia 30 e não dia primeiro. Falha do computador...)
O culto da noite foi simplesmente uma bênção para a minha vida. Aos poucos o povo foi chegando. Jovens, famílias, crianças, não muita gente, mas gente boa. Lá encontrei o Sr. João Soler, irmão do conhecidíssimo Salvador  Soler, pastor batista na capital. Lá encontrei gente que foi do Jardim Brasil, da igreja do Pr. Josué Nunes de Lima. E lá encontrei Deus, dentro de corações tocados pelo Espírito do Senhor.
 
Preguei sobre AMAS-ME?, baseando-me em João 21. Ao longo da mensagem, acabei me emocionando. Então o Espírito Santo tocou em meu coração para que eu fizesse um apelo aos presentes, para que viessem à frente, manifestando a intenção de amar de forma mais profunda ao Senhor Jesus. Que coisa fabulosa! Cerca de trinta pessoas vieram, comprometendo-se a santificar suas vidas em prol do Reino de Deus! A foto ao lado mostra o momento das decisões. E a de cima o instante do apelo.
 
Sim, ao final, todos felizes e contentes, cumprimentando os ministros do Evangelho à porta e seguindo para os seus lares. Alguns iriam para as casas das ruas próximas, outros iriam para os sítios, outros para a fazenda. Eu fiquei um pouco mais com o Pr. Dionísio. Fomos ao gabinete conversar.
 
DÊ VALOR À SUA PATERNIDADE
 
Mas, enquanto conversávamos, bateram na porta. Era o Jhonatan. Aproximou-se com respeito e cuidado. Pediu perdão por ter incomodado, mas me falou:
 
- Pastor, posso pedir uma coisa?
 
- Sim, filho, o que é?
 
- Posso ir até a praça, alí na sorveteria?
 
- Pode, mas volte logo, porque temos que retornar para Lins. Você tem dinheiro?
 
- Não, só vou dar uma volta.
 
Então tirei da carteira o dinheiro, coloquei em sua mão, dei-lhe um beijo e disse:
 
- Tenha cuidado. Vá com Deus.
 
E ele foi. E, enquanto eu guardava a carteira, olhei para o Dionísio e senti o rosto corado de emoção. Eu disse:
 
- Dionísio, hoje eu fui PAI! Meu Deus, que gostoso ser pai!
 
Ah, prezado leitor, um simples gesto como esse me trouxe tanta alegria e felicidade! Ainda agora, quando me lembro, sinto arrepiar-me o braço, pois é a melhor sensação do mundo ser responsável por um filho, uma filha, por alguém, um garoto ou menina que dependa de você! Como fui feliz naquele instante! Obrigado, Senhor!
 
Bem, o Jhow não foi passear na praça sozinho. Além de outras pessoas queridas, estava uma linda princesa, uma jovenzinha consagrada e fiel a Deus, muito bonita e simpática. A Andréia. Que bonita amizade não surgirá de um sorvete? E o que o futuro não reservará? Fiquei muito feliz e orgulhoso do meu filho.
 
 
VOLTA AO LAR, 01/12/2003, SEGUNDA-FEIRA
 
 
Arrumar a bagunça no apartamento foi difícil. Dois rapazes num mesmo apartamento são um caso de polícia. Havia roupas até no abajur! Garrafa de água, latinha de guaraná, vidro de perfume Boticário, pasta de dentes, moedas, bíblia, estava uma confusão! Mas em uma hora colocamos tudo em ordem, isto é, tudo nas sacolas.
 
Ao pagar a conta, a Dna. Alba, proprietária, fez perguntas sobre a diferença da fé evangélica e da fé católica. Tive a oportunidade de lhe expor as três bases da fé católica (bíblia, tradição e santo magistério) e a única base da fé evangélica (a bíblia). Falei sobre o papel de Cristo como único Mediador, a impossibilidade de Maria ser onipresente, etc. Ficamos por quase uma hora conversando. Foi muito bom.
 
E a volta foi boa, sem contratempos. Às sete da noite já estávamos em nossas casas.
 
 
 
Bem, espero que tenham sido edificados com a nossa viagem. E eu agora vou dormir, porque já estou muito cansado. Repartir com os meus amigos as aventuras no Reino é um prazer. Espero não ter enfadado os leitores. Poderia viver as experiências e guardá-las para mim. Mas o coração pede e a mão funciona: tenho que escrever. Bem, feito está. Já foi.
 
 
 
Que Deus a todos abençoe.
 
 
Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas, Osasco, SP

34.O TELEFONE TOCOU ( NATASHA & LUCIANO.)

 

Alô ?

 
Alô. Luciano?
 
Sim. Quem é?
 
Não conhece mais a minha voz?
 
Não estou conseguindo identificar. Quem está falando?
 
Nossa, como foi fácil pra você me esquecer... Acho que não tivemos muito significado...
 
Nathasha?!
 
Oi...
 
Que surpresa você me ligar! Pra quem disse que queria me esquecer para sempre ...
 
Vai ofender? Eu desligo!
 
Fique à vontade, querida. Quem ligou foi você mesmo...
 
Não, espere, não vou desligar. Desculpe. É que estou aborrecida, só isso.
 
Tá. E o que você quer?
 
Nada. Eu só queria ouvir sua voz.
 
Só? Então já ouviu. Mais alguma coisa?
 
Espere, pare de ser grosso. Não, desculpe, não desligue. É que eu estou me sentindo muito sozinha.
 
Foi você quem quis assim, querida. Sorva do seu próprio veneno.  
 
Realmente você não muda. Só sabe acusar...
 
Bom, vou desligar. Tchau...
 
NÃO, PELO AMOR DE DEUS, não desligue, espere, preciso te dizer algo...
 
Fala logo, Natasha, tenho que trabalhar.
 
Eu estava errada. Me perdoe.
 
ERRADA? Você estava errada? Tem certeza disso? Será que não é um pouco tarde pra dizer isso?
 
Mas agora eu reconheço...Por favor, amor, me perdoe!
 
Agora? Depois que você acabou comigo, querida? Até hoje eu pago o mico do papelão que você me fez passar... Convites distribuídos, acampamento alugado, comida encomendada, viagem paga, meu casamento com você, tudo perdido... (Luciano suspira). Sofri, sofri mesmo. Queria matar você! Droga, por que eu tive que amar você? Mas tudo bem. Já faz dois anos... Ah, meu Deus, dois anos...
 
Luciano, pelo amor de Deus, me perdoe!
 
Pra que você quer o meu perdão? Você nem ligou pra dizer que já estava com outro cara. Pra que perdão? Vai viajar com ele, vai viver com ele, meu bem... Só me deixe em paz, por favor (Luciano chora baixinho).
 
Sem se dar conta, Luciano percebe uma pessoa na porta do escritório. Era ela. Natasha estava olhando pra ele. Ela falava do celular. Luciano fica perplexo, alegre e triste - ela está linda, belíssima, muito elegante. Mas seu rosto está abatido, cansado, doente. Na mão tinha uma sacola. Aproximou-se da mesa de Luciano, e, com olhos lacrimejantes, desligou o celular, olhou para ele e disse:
 
Oi, amor.
 
Oi, Natasha. Pare de me chamar de amor. Você tá um caco, filha!
 
Olhos baixos, Natasha começa a tirar da sacola algumas coisas: uma caixa do correio com um CD do Demmis Roussos, que Luciano havia enviado de presente no aniversário, uma boneca de porcelana numa casinha de papel, um celular pré-pago, alguns livros devocionais, uma bíblia de Genebra e um pacote de fotografias. Luciano a observava, perplexo, triste, e via as lágrimas de Natasha molharem a fórmica da sua escrivaninha.
 
Cada objeto tirado era uma facada no coração sofrido de Luciano. Algumas coisas lhe custaram caro, ele fizera grande esforço para pagá-las. Mas, pensava ele, se era pra ela, valeria à pena o esforço. Quando tudo terminara, ele se arrependera de tanto gasto desperdiçado...
 
Pensei que você havia jogado as coisas que lhe dei, Natasha...
 
Eu nunca me esqueci de você, Luciano. Eu errei. Errei muito, me perdoe...
 
Luciano, jovem advogado, lutador com as interpéries da vida, sabia que Natasha poderia estar mentindo, como tantas outras vezes, quando namoravam e mesmo quando eram noivos. Mas havia um quê de diferente no olhar vermelho de Natasha.
 
Por que você veio hoje aqui, Natasha? Deu alouca? O que te traz aqui?
 
Natasha suspirou, chorou, recompôs-se e disse:
 
Estou com câncer, Luciano...
 
CÂNCER? Luciano petrificou-se.
 
Sim, amor, eu vim me despedir. Saí do hospital à força, pra falar com você e pra morrer em casa...
 
Luciano não esperava por essa. Veio-lhe à memória uma de suas discussões, onde Natasha, na hora do nervoso, dissera: "E daí, Luciano? Que se dane a igreja, que se dane o pastor, que se dane você, e se Deus achar que estou errada, que me castigue..." Nossa, era como se a cena passasse de novo na mente de Luciano.
 
Como foi, Natasha?
 
Depois que eu deixei você, amor, fui caindo no abismo, afastei-me do Senhor, fui morar com o André, abandonei a Cristo. Eu estava cega. Mas Deus me amava, Luciano. Se eu não fosse dEle, estaria numa boa agora, bem com o André, bem comigo e pronta pra ir pro Inferno. Mas, por amor, Deus veio corrigir-me. Ele repreende e castiga a quem ama. Ele me ama, Luciano! Estou doente. Mas estou bem, porque estou podendo vir até você pra pedir perdão! Nunca fui feliz, nunca tive paz, saí de casa com 3 meses de vida a dois. O André me batia, me traía, eu fugi.
 
E ele não foi buscar você de volta?!
 
O André foi assassinado, Luciano. Tráfico de drogas.
 
Luciano estava perplexo.
 
Luciano, estou voltando pro Senhor, estou me preparando pra partir. Mas tenho que receber o seu perdão, amor! Sei que nunca irei compensar o que lhe fiz, mas... por favor... ME PERDOA, AMOR!
 
Luciano olhou para aquele resto de mulher - outrora tão orgulhosa, ostentando tanta beleza e auto-suficiência, confiando tanto em seu corpo e em sua fulgurante beleza, e agora, bonita ainda, mas notadamente pálida, enferma, cheia de hematomas nos braços, pescoço e pernas, e triste, profundamente triste, a implorar-lhe perdão para morrer em paz!
 
Cena patética! Ali estava quem Luciano mais amara na vida, quem mais o fizera sofrer, a depender de uma palavra apenas, para morrer em paz!
 
"Hora da vingança", veio-lhe à mente. Claro, agora seria a hora da revanche! Mas Luciano era um moço crente, de bom coração, e seria incapaz de reter a bênção para aquela a quem tanto amara e que, infelizmente, ainda tanto amava e tanto o fazia sofrer...
 
Quer que eu perdoe você, Natasha?
 
SIM, PELO AMOR DE DEUS, Luciano! Nunca mais tomei a Ceia do Senhor, nunca mais louvei ao Senhor com alegria, nunca mais fui membro de igreja, não agüento mais! Aceito as conseqüências, mas, por favor, diga que me perdoa!
 
Enxugando as lágrimas, refazendo-se, Luciano olhou-a no fundo dos olhos, tomou as suas duas mãos, que estavam frias como as de um defunto, e lhe disse, num terno sorriso misericordioso:
 
Querida: desde que você foi embora eu já havia lhe perdoado. Mas, se você quer escutar e sentir paz, ouça-me: EU PERDÔO VOCÊ POR TUDO QUE ME FEZ. VOCÊ ESTÁ LIVRE EM NOME DE JESUS!
 
Natasha tremeu. Gritou "aleluia", sorriu, chorou, e caiu desmaiada.
 
Logo o assistente de Luciano veio ajudá-lo, e, colocando-a no carro, levaram-na para o hospital. Luciano tinha o telefone de toda a família ainda, ligou e avisou. Em uma hora todos estavam ali na recepção, tristes, aflitos, alguns desesperados. Chegou o pastor. A família implorou-lhe que fosse até a UTI orar com ela. O pastor, que conhecia o Luciano, olhou bem pra ele, pensou, fechou os olhos em oração, e, a seguir, falou:
 
Quem tem que entrar é o Luciano. Vá lá, Luciano. Eu conheço o diretor da UTI, pedirei autorização.
 
EU, PASTOR?
 
Sim, filho. Ela é o seu amor.
 
FOI, PASTOR..
 
Não, filho. Deus o uniu a ela novamente, ainda que seja na despedida.
 
Luciano não sabia o que fazer. A família, desconsolada, chorava, mas a mãe, certa do que tinha que ser feito, empurrou o Luciano até a porta, dizendo: "Vai, filho, corre, antes que seja tarde!"
 
Ah, aquele corredor que dava para a UTI parecia não ter fim! Cada passo dado era uma lembrança: o primeiro beijo, a primeira maçã-do-amor, o primeiro jantar, o primeiro por-do-sol juntos; o dia em que viajaram num encontro missionário, o dia em que foram juntos à praia e que ele deu de presente a primeira rosa! O jantar de noivado, os telefonemas, tudo. Não sobraram recordações da tragédia, da traição, do desprezo. Na verdade quem ama guarda as más experiências numa sacola furada. E Luciano fez assim.
 
Vestido com o jaleco, a máscara e o sapato de pano, Luciano entrou. Vários boxes onde pessoas definhavam. Lá estava Natasha, no número 6. Estava no respirador artificial, cuja sanfona funciona como um pulmão e faz um barulho horripilante. Estava linda, mas totalmente ligada a aparelhos, notadamente cansada, em coma, morrendo. Luciano sentiu sua dor. Chorou. Tremeu. Segurou forte a mão de sua amada. Pensou em Cristo, que dera a vida pela noiva, pensou em Oséias, que aceitou a esposa adúltera novamente, pensou em Deus, que tantas e tantas vezes tratou a Jerusalém com compaixão. Quem era ele para não perdoar? Quem era ele para não acolher?
 
Então orou.
 
"Senhor, o que posso dizer? Minha garota está morrendo! Ex-garota, claro. Mas mesmo assim está doendo, Pai! E eu sou impotente diante de tudo isso! Essas máquinas, esse cheiro de éter e de carnes inflamadas, esse barulho infernal, meu Pai, o que posso dizer? Que deixe a minha garota morrer em paz? Sim, Senhor, leve-a para a tua glória! Eu a amo! Mas sei que tu a amas mais do que eu! Abençoa a Natasha. Em nome de Jes...
 
Subitamente Luciano pensou em completar a oração com o seguinte pedido:
 
"Mas, Senhor, se ainda houver um espaço para ela viver para ti, recuperar parte do tempo perdido, se na tua infinita misericórdia não for demais, por favor, Senhor, cura a tua serva. Ela já sofreu bastante, ela aprendeu, Senhor. Até eu, que fui o mais ofendido, já a perdoei! Por favor, Senhor, se der, devolve-lhe a vida! Mesmo que não seja pra viver comigo. E agora sim, em nome de Jesus. Amém".
 
Por favor, me avisem - disse Luciano aos familiares - , me avisem quando tudo terminar. Quero estar presente.
 

E foi embora. Tirou a tarde para viajar, seu hobby preferido: foi pra uma cidadezinha próxima, ver o por-do-sol.

 
Qual será o final, dileto leitor? Quer sugerir-me? Apesar de estar pronto, quem sabe a sua opinião possa fazer diferença no futuro de Luciano e também no futuro de Natasha...
 
 Escreva-me. SÓ PRO MEU E-MAIL - NÃO RESPONDA NAS LISTAS...
 
bnovas@uol.com.br 
PARTE FINAL
 
No caminho, ao longo da rodovia, seus pensamentos corriam mais que o vento: por que tudo isso estaria acontecendo? As coisas não poderiam ter sido mais fáceis? E agora? Ele, no carro, ela no hospital, a lembrança daquelas máquinas monstruosas de prolongar a vida não lhe saíam da memória... As lágrimas corriam, misturadas à poeira do vento seco do caminho.
 
Revoltado com tudo isso, parou o carro no acostamento. Encontrou uma estradinha de terra. Devagar, como a seguir um féretro, entrou pela rota dos sitiantes. Subiu devagar a montanha, encontrou um mirante. Parou, abriu a porta, e, num grito de dor e lamento, chorou. Ah, como chorou! Seu pranto escorria pela porta do carro. Os pássaros, assustados, aquietaram-se nas árvores, contemplando aquele misto de dor e revolta. Parecia que todo o mundo fazia silêncio em respeito a tanta dor.
 
Deus, por que? Por que? Por que? Por que tive que amá-la? Por que tive que vê-la? E agora, Senhor, o que fazer? E se tu a levares? O que será de mim? Eu já estava quase esquecendo, Senhor! Agora tudo volta a doer! Senhor, Senhor...
 
Cansado de tanto chorar, entrou no carro e deitou-se, estendendo o banco para o fundo. Travou a porta, colocou uma fita de música clássica e desfaleceu. Ali estava um moço de valor, que amava e que lutava entre sua vontade e a vontade de Deus.
 
Sonhou durante o sono, no delírio da febre. Sonhou estar na igreja. Viu o pastor a pregar, e, ao seu lado estava Natasha, bonita e sorridente. Lá do púlpito o pastor dizia: "Aquele que amar mais à sua mulher, mais do que a mim, não é digno de mim - palavras de Jesus!" E, aos poucos, o sorriso de Natasha foi sendo coberto por uma neblina e desaparecia. Assim acordou.
 
Assustado e cônscio de que Deus falara com ele, pôs-se a orar, dizendo:
 
Senhor, sei que é difícil, mas tenho que fazer isso. Confesso que estou revoltado, ó, Pai. Quero fazer a minha vontade, não a tua. Eu não estou conseguindo aceitar a tua vontade, caso seja a de levá-la embora! Sei que estou errado, Senhor, e sei que é isso que quisestes me falar. Senhor, sou teu servo e quero te obedecer. Se irás tirar a Natasha mais uma vez, tira-a, apesar de mim. Por mais que isso doa, Senhor, prefiro assim: não quero perder-te Senhor. Só me ajude e console o meu coração... Tu sabes o que será melhor para ela, e também melhor para mim. Em nome de Jesus, amém. 
 
Voltou a dormir.
 
Toca o celular.
 
Alô?
 
Luciano?
 
Sim, sou eu.
 
Aqui é o pastor, filho. Como você está?
 
Bem mal, pastor. Mas sobrevivendo...
 
Eu orei por você, garoto. Pedi a Deus para lhe fazer suficientemente forte para renunciar, se preciso for. Você quer conversar sobre isso?
 
Pastor - disse, sorrindo o rapaz, - já o ouvi pregar agorinha mesmo no sonho, já renunciei a Natasha. Está doendo, mas estou em paz. Obrigado.
 
Ótimo. Então volte pro hospital, Luciano. A Natasha acordou e saiu do estado crítico. Ela quer ver você...
 
O QUE??? SÉRIO, PASTOR?
 
Séríssimo. Vem com calma, mas acelera, filho...
 
Não levou hora e meia e Luciano estava entregando a chave do carro pro manobrista do hospital.
 
E a Natasha? , perguntou à mãe dela.
 
Filho, corre, ela está chamando por você! Vai, filho! Deus está agindo! Eu já a vi, mas ela teima que quer ver-lhe!
 
Agora o corredor do hospital era longo demais para ele. Se pudesse, daria três passos em um, para chegar mais rápido e contemplar o rosto de sua amada. Seu coração estava disparado, pensava no que ouviria e no que diria. O suor lhe escorria pela face e as vistas estavam enfumaçadas. Correu a vestir o jaleco, o sapato de pano, as luvas e a máscara. Box 06. Lá estava ela, e três médicos palestrando. Ao olharem o rapaz, perguntaram:
 
Você é o Luciano?
 
Sim, doutor, sou eu. Por que?
 
Converse um pouco com ela. Ela gritou o seu nome por mais de meia hora e nos deixou quase loucos! Isso é que é amor! Mas seja breve, ainda não entendemos essa súbita melhora. Temos que medicá-la novamente.
 
Aproximou-se do leito. Os lábios de Natasha estavam sangrados, a boca ferida, canos haviam saído da garganta, o pescoço estava com fios, braços e pernas com soro, sondas, enfim, uma cena dramática, mas não tanto quanto na última vez. Pelo menos o respirador artificial estava desligado, e em silêncio...
 
Lu..cia..no.. me.u...a..mor....
 
Fala, querida, eu estou aqui!
 
Je..sus....veio..a..qui! Eu..vi!
 
Luciano deixou as lágrimas verterem de seus olhos, lágrimas quentes e profundas.
 
Você estava sonhando, querida.
 
Nã..ão, meu ..a..mor, Je..sus veio...me di..zer.. uma..coi..sa!
 
Um tanto alegre, mas também incrédulo, Luciano pergunta:
 
E o que Jesus lhe disse, amor?
 
Dis.se...que.. vo..cê..me ama..va e..que..es.ta...va... (cof! cof!) es..ta..va. orando lá..num sí..tio.. por..mim...e ..lu..tan..do ...para me renun..ciar.. 
 
Luciano gelou. Natasha completou:
 
E..le.. me..dis..se..que..a.ceitou..a.sua..or.a..ção!
 
Agora ele estava arrepiado. Não só isso, ele estava com as pernas totalmente moles e adormecidas, num misto de medo e perplexidade.
 
E sobre você, amor, ele disse alguma coisa?
 
Dis.se..pa..ra....que..eu não ...pe..casse.. de nno..vo... - Natasha adormeceu.
 
Natasha!!! Natasha!! Não morra!!!
 
Calma, garoto - disse o médico - ela só adormeceu. Fique tranqüilo, mas saia agora, temos que seguir os procedimentos necessários.
 
E assim foi.
 
Natasha saiu do hospital em 20 dias. Sem explicação convincente, os médicos quiseram impetrar a si mesmos um erro de avaliação e diagnóstico,dizendo que pensaram que havia câncer onde nada existia, mas não sabiam explicar as dúzias de exames, de biópsias, de ressonâncias e de quimioterapias feitas. Claro, grande parte da medicina desconhece o poder de Deus, a misericórdia do Altíssimo. E um câncer desaparecido tem que parecer um mero "erro médico". Mas o milagre acontecera de fato...
 
Outra tarde, fim de expediente no escritório de Luciano, Natasha de pé em frente à escrivaninha de trabalho dele.
 
Luciano, de agora em diante eu viverei cada dia como um milagre do Senhor, e viverei apenas e tão-somente para a glória dele.
 
Que bom, Natasha! Espero que você seja feliz! Orarei sempre por você!
 
Luciano...
 
Fale, querida.
 
Quero pedir só mais uma coisa.
 
Se eu puder atender...
 
Eu quero me casar com você e ser a sua mulher, a sua companheira, e servir ao Senhor ao seu lado. Eu te amo! Me perdoe por tudo que fiz!
 
Era tudo o que o rapaz queria ouvir. Sorridente, abriu a gaveta da escrivaninha e tirou uma linda boneca de porcelana, numa casinha de papelão, idêntica à primeira, presenteada quando começaram a namorar. Levantou-se, entregou-lhe a boneca, abraçou sua amada pela  cintura, trazendo-a para junto de seu rosto, e lhe disse, com um brilho jamais visto em seu olhar:
 
Eu perdôo você e quero recebê-la como minha esposa, amor. Eu te amo!
 
Também te amo, querido!
 
Não se podia descrever o que era mais bonito e brilhante; se o brilho do sol da tarde, clareando toda a sala pelas vidraças, ou se o brilho do beijo de Natasha e Luciano, ao som da mais linda música que o mundo pode ouvir: o palpitar de dois corações apaixonados. Aliás, apaixonados por Deus primeiramente, e, por causa do Senhor, apaixonados um pelo outro...
 
----
 
O resto?
 
Bem, essa já será uma outra estória, para uma outra "PÁGINA SOLTA"...

Eu decidi republicar o texto NATASHA & LUCIANO.
 
Enviei a primeira parte.
 
E os retornos novamente surgiram.
 
 
Quero partilhá-los com todos.
 
 
Obrigado.
 
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo.
 

 
Natasha está no hospital. Luciano, após orar junto ao leito dela, vai para o interior, ver o por-do-sol. Como acabará essa estória?
 
Os leitores participaram.
 
Aqui estão suas palavras:
 
=======
 
 
Olá Pastor...o meu final seria com Deus atendendo a oração  do rapaz, pois o amor está a cima de tudo.
No amor de Cristo,
Rosâne
 
============
 

Pastor bom dia e muita paz,

 

Acho q. a Natasha deveria viver, pois ela seria um bom testemunho p/ as nossas jovens q. tem todo amor, dentro do seu lar e mesmo assim pensam em dar essas cabeçadas.

 

Graça e paz em nome de Jesus,

 

Patrícia dos Santos Duque

 
==============
Creio que o Senhor é o Deus de milagres. Acho que ela foi curada e o Senhor deu a eles a oportunidade de viver felizes!!!
 
 Luciana Maia
 
=================
 
Porém o Senhor tem planos que o coração do homem não
conhece.
No outro dia Luciano foi normalmente ao seu trabalho,
onde enfrentaria mais um dia numa selva onde o mais
importante era vencer.
Mas em nenhum momento ele conseguia tirar da sua cabeça
o ocorrido no dia passado, e descobrir que que é muito
bom poder perdoar, e sentir que é muito melhor dar do
que receber.
Às 13:23 , quando Luciano já saia para seu atrasado
almoço, Josefa, sua secretária e amiga, o para no
corredor dizendo ter uma mulher muito falante ao
telefone, dizendo ser tia de uma ex.
Naquele Momento passa por sua cabeças momentos
inesquecíveis: alegrias , brigas , festas ,
cultos,olhares e juras de amor que prometeram ser
eternas.Mas ......ao mesmo tempo vem em sua cabeça o
fim de uma vida , o escurecer da noite, últimas
palavras  pronunciadas. Vem o fim.
Reluta em não atender, mas pensa que é melhor acabar
tudo de uma vez e ter coragem de por um ponto final em
uma estória que ele pensou que já tinha acabado e do
nada ressurgiu.
-Luciano falando!
-Oi Luciano .É Lídia , a tia da  Natasha,lembrasse?
-Claro , como ela está?
-Temos boas notícias, os médicos falaram que ela estava
desacreditada pois nunca havia consultados médicos
especializados por falta de recursos.Como nós a levamos
para um bom hospital , já foi diagnosticado algo
diferente, e com boas probabilidades para o tratamento.
Vamos começar o mais rápido possível, a família já está
arrecadando dinheiro e vamos ajudá-la.
Antes de desligar o telefone , Luciano oferece ajuda  e
se despede.
A fome já havia passado , um nó na garganta tinha que
ser desatado.
Pegue o carro , todos acham que ele vai almoçar, mas o
destino é outro.Vai praticar seu hobby seu preferido:
ir para uma cidadezinha próxima e ver o sol se por, mas
agora não vai pedir a Deus, vai agradecer por dois
motivos:o milagre operado em Natasha, e a vontade de
viver um novo amor com um novo perdão.

Pastor , sei que está estória é fictícia, mas DEUS um
dia operou um milagre real em minha vida , por isto
sempre creio que podemos vencer tudo com Jesus ao nosso
lado.
Marco

memórias pastorais

 13
 
35. Pastores Batistas Unidos
 
Participar do 59o. Retiro Espiritual de nossa Ordem dos Pastores Batistas do Brasil - Secção São Paulo, foi simplesmente maravilhoso. Às vezes só as fotos dizem tudo. E este é o caso. Foi como se tivéssemos tido um vislumbre da doce e maviosa comunhão celestial, aqui mesmo, na Terra!
 
 
Estávamos em mais de três centenas de pastores. Obreiros do Senhor das mais variadas linhas de ação, dos mais variados campos de trabalho. Gente do campo, da cidade, gente simples, gente altamente intelectual, outroz bastante modestos, pastores novos, outros velhos, bonitos, feios, pobres, ricos, casados (dois solteiros), enfim, um encontro inesquecível.
 
Fez-me lembrar o ano em que eu fui admitido no grêmio da comunhão de pastores. Era 1992 e eu estava muito ansioso por participar. Como fui agradecido ao Pr. Jonas Alves Costa, que assinou a minha primeira carteirinha!
 
 
Presenças ilustres marcaram esse retiro, ocorrido nos dias 05, 06, 07 e 08 de janeiro. Na foto acima, o Pr. Sócrates, Secretário Geral/Diretor Geral da CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, homem de uma intelectualidade e preparo inigualáveis e nem por isso orgulhoso ou pedante; muito pelo contrário: tremendamente humilde e simpático. Eu estou ao meio, e o Pr. Josué de Melo Salgado, nosso brilhante conferencista e pastor da IGREJA MEMORIAL BATISTA DE BRASÍLIA, um dos mais importantes líderes batistas do país. Suas conferências foram simplesmente transformadoras. Falou-nos sobre a o aspecto sacerdotal na função pastoral, não retomando a prática do sacerdócio, mas comparando-a à postura que deveríamos ter frente ao chamado do Senhor. Seriedade, dedicação, consciência de vocação, integridade, etc. Maravilhoso!
 
Quero partilhar uma experiência por ele contada.
 
Contou-nos que, em Olinda, Pernambuco, lá pelos anos 1981 e 1982, o país atravessava uma grave crise de desemprego, e que, principalmente a área da construção civil, atravessava um período ruim. Ali, numa pequenina igreja, estava um jovem pastor, em início de ministério, junto de sua querida esposa. Eles estavam passando sérias dificuldades financeiras. Tomavam duas conduções para ir até a igreja e nem esse dinheiro eles tinham naquela tarde, para irem ao culto de oração. Assim, o jovem pastor ligou para o vice-presidente, solicitando-lhe que dirigisse o culto, sem explicar os motivos. Então conferenciou com a esposa, perguntando o que fariam, pois estavam realmente sem recursos para sobreviver. Surgiu-lhes a idéia de pedirem emprestado para alguém o dinheiro mais urgente. Mas concluíram que seria apenas deixar o problema em maior tamanho, pois, se nada tinham agora, como pagariam a quem lhes emprestasse? Então dobraram os joelhos e oraram, dizendo: "Pai, tu prometestes que nos sustentaria. Confiamos em ti e aguardamos nos teus cuidados". Era 23 horas e bateram à porta. Não era um horário normal para receber visitas, pois a região era perigosa. Ao abrirem a porta, viram a presidente da Sociedade Feminina Missionária da igreja, com muitos víveres em forma de cesta básica. Eles perguntaram o que era aquilo e porque ela estava ali numa hora daquelas. Ela lhes disse que, durante o culto de oração, Deus tocara em seus corações, em toda a igreja, de que o pastor estava precisando, e estava precisando com urgência; por isso não esperara nem o dia seguinte. Assim, dispôs-se a trazer naquele mesmo momento. E realmente eles estavam passando necessidades. Ali mesmo agradeceram os cuidados do Pai celestial. Esse pastor era ele mesmo, Pr. Josué de Melo Salgado e sua esposa.
 
Não é preciso dizer que todos choramos naquele instante, agradecidos ao Senhor por cuidados tão paternais.
 
 
Aqui outra foto importante. Da esquerda para a direita, o Pr. Ozeías, auxiliar na Igreja Batista do Jardim Iva, SP, atualmente trabalhando com presídios no estado. Ao seu lado o Pr. Josué de Melo Salgado, da Memorial Batista de Brasília. Depois o Pr. Josué Nunes de Lima, uma coluna batista viva, um líder e exemplo para todas as gerações. Ao seu lado o Pr. Natanael Barros de Almeida, autor de diversos livros, entre eles "Tesouro de Ilustrações", conhecidíssimo. Após mim o Pr. Aparecido Donizete Fernandes.
 
Só a eternidade irá computar o quanto esse encontro foi proveitoso para todos nós.
 
Sou muito agradecido a Deus, primeiramente, porque Ele, através de Cristo, salvou-me dos pecados e do inferno, chamando-me para o Ministério Pastoral. Sou agradecido a Deus por ter sido membro de boas igrejas, Sumarezinho, Vila Mirante e Vila Souza, todas na cidade de São Paulo, e por ter tido excelentes pastores- Pr. Timofei Diacov, Pr. Manoel Waldemur Pereira Correia, Pr. Antonio Mendes Gonçales, Pr. Albino Faustino, Pr. Rivaldo Barreto e Pr. Bonifácio Freire Cavalcanti. E louvo a Deus pelo preparo teológico que tive oportunidade de receber, tanto na Faculdade Teológica Batista de São Paulo, como na Universidade Brasileira de Teologia. E louvo ao Senhor também por ser membro de um colégio pastoral tão amplo e bonito, vasto e abençoado, quando somos hoje mais de 1500 pastores em todo o estado paulista, e tantos milhares em todo o Brasil. Somos a Convenção Batista do Estado de São Paulo e a Convenção Batista Brasileira!
 
Somos uma denominação, um povo, temos um propósito e um objetivo. E mais uma vez deixamos isso claro para cada um de nós. Ao retornarmos, cada um para a sua igreja, certamente o fogo do entusiasmo, do amor pelas pessoas perdidas e o desejo de acertar nos fará mais produtivos e submissos ao Senhor.
 
Talvez eu não possa participar da CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA, em Belo Horizonte, no próximo dia 20 de janeiro (como eu queria! Mas nem sempre querer é poder, principalmente num tempo de tanta dificuldade econômica). Mas desejo que ela seja uma bênção para todos nós. Os que tiverem o privilégio de ir, por favor, aproveitem muito!
 
E a todos os amigos que leram estas memórias, o meu muito obrigado de coração!
 
 
Wagner Antonio de Araújo.
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP

36.Crônicas de Verão

 
04 - Quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004
 
 
PALAVRAS MEDICINAIS
 
 
Certa feita o Senhor Jesus Cristo falou: “pelas tuas palavras serás condenado, e pelas tuas palavras serás justificado” (Mt 12.37). Tal juízo é sobremodo maravilhoso, porque não tem apenas um sentido escatológico, para o fim dos tempos, mas possui também um caráter presente, atual, dia após dia.

Nós somos o que falamos. Em Provérbios 23.7 nós encontramos a afirmação: “Aquilo que ele pensa, assim ele é”. Nós encarnamos as idéias que temos de nós mesmos e do nosso futuro. “Faça-se conforme a sua fé”, frase costumeira do Salvador (Mt 9.29), é real e atual, devendo ser usada hoje, já!

Portanto, temos que tomar conta de nossa boca (e de nossos pensamentos também, porque não é apenas o que dizemos com os lábios, mas o que dizemos em pensamento também). O Salmista diz: “coloca um vigia nos meus lábios” (Salmos 141.3).

Se nós pensarmos em coisas boas, elas terão solo fértil para acontecer, o que não significa que deixaremos de passar por provações e lutas. O apóstolo Paulo diz, em Fp 4.8: “Ocupem o pensamento de vocês com coisas boas, louváveis, elegantes, virtuosas, puras e justas.” Mente sã, corpo são. Mente bem ocupada, dia a dia bem vivido.
 
Há palavras medicinais que podem operar maravilhas em nossos corações! Precisamos aprender a usá-las e aplicá-las. Afinal, a tendência da carne, pecaminosa, sofrendo a influência do maligno, é para a depressão, para a derrota, para o fracasso, para a tristeza, para o desânimo. Jesus afirmou que veio nos trazer vida, e vida com abundância (Jo 10.10).

Eu, particularmente, se deixado ao léu da minha mente, dos meus traumas (e quem não os tem?) e do meu coração, tenho a tendência de entrar em tristeza e depressão. Como combato e venço tais situações? Com palavras medicinais. A seguir, algumas que me ajudam e me fazem “mais que vencedor por aquele que me amou”, conf. Rm 8.37:

Pensamento: “EU PERDI”. Remédio: “Eu sempre sou conduzido em triunfo porque estou no centro da vontade de Deus. Logo, não perdi, eu ganhei!” (cf. II Co 2.14; 12..10).

Pensamento: “FUI ENGANADO”. Remédio: “Todas as coisas contribuem para o meu bem, Deus permitiu essa tristeza para que eu amadurecesse, e nada poderá me abalar, porque sou como o Monte de Sião" (cf. Rm 8.28; 5.4 e Salmo 125.1).

Pensamento: “VOU DESISTIR”. Remédio: “Jesus disse que aquele que perseverar até o fim será salvo, logo, também salvarei esse projeto com perseverança; em nome de Cristo eu salto muralhas, conquisto exércitos e tenho uma mesa preparada na presença dos meus adversários. Eu já venci!” (Cf. Mt 24.13; Salmo 18.29; Mt 23.12; Sl 23.5)

Pensamento: “FUI INJUSTIÇADO”. Remédio: “O Senhor é quem pleiteia a minha causa, eu estou do lado do bem e da justiça; não há causa perdida para aquele que confia no Senhor; se alguém me lesou de um lado, eu receberei do Senhor muitas vezes mais por outras fontes”. (Sl 43.1; I Pe 3.13; Pv 11.18)

Pensamento: “TENHO MEDO”. Remédio: “O medo é uma forma maquiada de orar; assim, se eu temer, estarei desejando o que temo. Portanto, nada temerei, pois Jesus mandou eu não ter medo. Não estou sozinho, Cristo está comigo, e pela fé eu já contemplo a vitória, sabendo que a vontade de Deus prevalecerá. O meu amor é perfeito e já lançou fora todo o medo.”  (Mt 17.7; Mc 11.24; I Jô 4.18).

Bem, estas são as palavras medicinais que eu uso. Há muitas outras. Mas eu lhe sugiro que escreva as suas. Baseie tudo na Palavra de Deus, pois é ela que é viva e eficaz, e seja alguém cheio de vida e sucesso!
 
Wagner Antonio de Araújo,
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP


03 - Quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004
 
 
TÍTULOS VAZIOS

 
Recebi há pouco uma carta, convidando-me para um congresso em certa igreja. No bojo do convite estava escrito: “Você não deve e não pode perder o evento, porque não serão simples pastores a ministrar a Palavra e a oração, mas bispos, profetas e três apóstolos!”
 

Pensei comigo: já vi esse filme antes. Quer dizer, ver eu não vi. Eu li.
 
Conta-nos a bíblia, em Lucas 22.24-27, que os apóstolos estavam discutindo e polemizando no dia em que Jesus celebrava com eles a Ceia. Era um momento de extrema solenidade e grandioso significado. E em quê estavam ocupados? Em saber quem era o líder, quem era o maior. Jesus afirmou-lhes categoricamente: “Entre vós não será assim, antes o maior entre vós seja como o menor, e quem governa como quem serve”. (v. 26).
 
Em outra ocasião, quando o Senhor fazia o célebre sermão contra os fariseus, declarou em alto e bom som: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é o vosso Mestre, e todos vós sois irmãos. E a ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. Nem queirais ser chamados guias; porque um só é o vosso Guia, que é o Cristo.” Isto está em Mateus 23.8-10.
 
Ou a minha bíblia está desatualizada (há tantas bíblias ao gosto do freguês hoje em dia, não é mesmo?) ou então a igreja evangélica brasileira entrou por uma estrada altamente perigosa. Jesus disse: “Mas o maior dentre vós há de ser vosso servo. Qualquer, pois, que a si mesmo se exaltar, será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilhar, será exaltado”. (idem, 11 e 12)
É que hoje vivemos a realidade defeituosa da “qualidade total”, dos projetos megalomaníacos de ostentação de números e poder em várias de nossas igrejas. É a sedução dos números e a sedução dos poderes.
 
Para demonstrar o poder de Deus apresentam um relatório do número de pessoas que as freqüentam. E, para deixar mais oficial ainda, hierarquizam os ministérios, nomeando pastores simples, pequenos líderes de igrejas insignificantes, até os grandes apóstolos, detentores de maior poder e maior unção. Meu Deus, a que ponto estamos chegando! Por tantos anos lutamos contra a igreja institucional, a igreja-hierarquia, o romanismo, e agora estamos fazendo pior ainda, porque, não raras vezes, os chamados “apóstolos” não possuem qualidades espirituais, intelectuais ou morais nem para serem obreiros! É tão fácil virar apóstolo hoje em dia!

Só fico pensando: o que virá, depois de apóstolo? Sim, porque haverá uma hierarquia, isso está no ser humano. Será superapóstolo? Será querubim? Ou então será o semideus? Meu Deus...

Eu sou um pastor. E o que me faz maior ou melhor que meus irmãos? Nada! Eu sou igual a eles, só recebi do Senhor uma incumbência, uma responsabilidade, e sou duas vezes responsável: responderei pelo que vivo e também pelo que ensino. Mas sou um irmão, e só isso! Respeito o bispado das denominações historicamente episcopais. Mas atualmente a questão não é essa. O que transforma um pastor num bispo, nos novos cultos evangélicos, tem mais a ver com abrangência, carisma e coleta, do que com administração. “Arrecadam mais, ajuntam mais gente”. E aonde está escrito que deveriam ser apóstolos quando alcançassem esses alvos?
 
Hoje, ser pastor parece não ser mais suficiente. Missionário então, só os remanescentes R.R. Soares e David Miranda. Agora a moda é apóstolo, mesmo que não tenham sido testemunhas oculares do ministério de Jesus. Aliás, foi tão difícil achar um substituto para os doze, votaram em Matias, quando talvez Paulo devesse figurar entre eles, e agora temos verdadeiras fábricas de apóstolos.
 
E o que eles têm de diferente? Dizem que são mais ungidos, que manipulam as forças espirituais com maior autoridade, etc. Claro: o pretexto é a abrangência do significado da palavra: missionário, fundador de trabalhos, pioneiro, etc. Ou então as novas profecias que vão aparecendo, recomendando a ressurreição e restauração do "ministério apostolar". E assim vamos caminhando, apostolando a igreja evangélica.

Que Deus nos ajude a voltar às páginas da bíblia! Vamos parar de encaixar pessoas no versículo que cita “apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres” e vamos começar a ter a humildade de dizer: “sou só um servo do Senhor, e nada mais”. Paremos de ofuscar a beleza de Cristo com a feiura da vaidade humana! Paremos de nos autopromover, sob o pretexto da espiritualidade, e vamos fazer valer o nosso título de cristãos!

Ministros: sejamos só irmãos, só pastores, isso já basta. Que Cristo cresça, e que nós diminuamos! Seja Deus engrandecido, e que o Espírito Santo nos ajude! Amém.
 
Wagner Antonio de Araújo, irmão em Cristo, chamado para servir como pastor no rebanho de Deus.
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP

02 - Segunda-feira, 01 de fevereiro de 2004
 
 
TORNEIRAS SECAS

Outro dia eu me peguei admirando a torneira da cozinha. Lembrei-me da semana em que ficamos sem água em São Paulo: caixas d’água vazias, banheiros inutilizados, banhos por tomar, um transtorno! Lembro-me que, ao passar em frente da torneira, eu pensava: “nunca desejei tanto que uma torneira funcionasse! Funciona, torneira! Funciona!” Mas ela não funcionava. Somente alguns dias mais tarde a SABESP regularizou o abastecimento.
 

Às vezes nos assemelhamos às torneiras secas, em nossa vida cristã: por mais que os registros estejam abertos, não há uma gota de água, não há satisfação interior, não há o menor sentimento da presença de Deus em nós. Parece que estamos num deserto, num lugar árido. É como se o céu fosse de bronze e as nossas orações não passassem da cabeça. Estamos secos, estamos com sede.
 

As torneiras só vertem água porque estão ligadas ao cano da distribuidora. Caso contrário, poderíamos viver desejando e nunca veríamos a água chegar. Lembro-me de Lawrence da Arábia, que, numa de suas viagens para a Europa, levou amigos árabes  do deserto para um hotel. Após sair e retornar ao apartamento, encontrou-os arrancando a torneira do banheiro. Ao questioná-los sobre o que faziam, disseram: “Nós queremos levá-la para o deserto, assim teremos água abundante sempre!” Claro que ele teve que explicar-lhes que não era simples assim. Sem canos, sem água.

Mas também é preciso que haja água para ser vertida! Podemos ter o melhor encanamento do mundo: canos de primeira qualidade, dobras, cotovelos e peças de conexão as mais caras e famosas. Mas se não houver água para suprir a canalização, de que adiantará tudo isso?

Vivemos como uma torneira seca: queremos a presença de Deus, queremos ver maravilhas e milagres, desejamos ser ricamente usados, mas nada acontece, parece que estamos vazios, sozinhos, insípidos,  mortos, fracassados. Aquela comunhão de outrora deu lugar a um vazio tão grande e tão intenso!

É preciso fazer a água escoar. É preciso que a distribuidora celestial abra as comportas, os registros, os canos, e faça novamente circular os “rios de águas vivas”, as “fontes de água viva” dentro de nós.  Lembro-me bem que a SABESP só liberou a água quando tudo estava em ordem, quando realmente o reservatório atingiu o nível adequado. Às vezes a água quase chegava, mas não enchia as caixas: o nível era baixo. Também conosco muitas vezes acontece de querermos e de não conseguir uma comunhão plena com o Senhor, porque o nosso nível de comunhão está baixo, está relegado aos segundo plano!

Para que a nossa torneira seca receba novamente a água da comunhão é preciso “voltar ao primeiro amor” (Apocalipse 2.4), reconhecendo que o Senhor já teve muito mais de nós do que tem agora. É preciso sondar o coração “e ver se há algum caminho mau” (Salmo 139.23), pois Deus não permite que a iniqüidade se misture com a santidade (Isaías 1.13). É preciso crer que Deus “é galardoador dos que o buscam” (Hb 11.6) e buscá-lo com fé, que é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não “vêm” (idem, 11.1).

Hoje a torneira seca é só uma página árida nas minhas memórias. A água verte abundantemente por elas e nas caixas. Que assim seja também em nossa vida com Deus: que a graça do Senhor esteja derramada abundantemente sobre nós. Que estejamos na plenitude da comunhão, consolados e consolando, felizes e fazendo felizes os demais, que Jesus em nós seja uma realidade constante!

Torneiras vivas, irmãos!
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
 
texto escrito em 01/10/2003

01 - Domingo, 01 de fevereiro de 2004
 
 
 
AROMA  DE
 PINHO CAMPOS DO
JORDÃO
 
Na manhã deste domingo eu visitei o ponto de pregação de nossa igreja, situado no bairro de Vila Souza, zona norte da capital paulista. Ali, na casa da irmã Leontina, pude servir ao Senhor, pregando a Sua Palavra, como mensalmente o faço. Eu os visito de quando em quando.
 
Ao chegar, somente a dona da casa estava presente, aguardando o início do culto. Porém, em seguida, chegou o querido irmão Israel. Ele, com sua alegria peculiar, o seu jeito humilde e simples, abraçou-me, dizendo: "bom dia pastor! Que bom estarmos na Casa do Senhor!" E, com o seu abraço, veio também a nostalgia, pois ele estava usando o Pinho Campos do Jordão.
 
Eu conhecia o aroma, porque trabalhei em farmácia aos 13 anos. Eu entregava remédios, aplicava injeções e limpava todas as prateleiras, inclusive de perfumaria. Então, quando limpava a parte dos cosméticos, abria a tampa dos desodorantes, para conhecer os seus aromas. E o pinho era um desodorante bem em conta, e de um cheiro duradouro. Por isso identifiquei com facilidade o perfume do Israel.
 
Ele estava bem alinhado. Um moço humilde, com os seus quarenta e poucos anos, sem carro, sem casa, sem posses, dono apenas de um excelente caráter e de uma vida ilibada, poderia gastar o seu domingo dormindo, passeando, pescando, indo jogar bola, enfim, fazendo o que quisesse. Mas escolheu servir ao Senhor, mesmo cansado pela labuta diária do trabalho. E veio contente à igreja, com um sorriso nos lábios, bíblia à mão e muita fé no coração. Para ele, o ponto alto da semana é o Dia do Senhor.
 
O Israel me fez lembrar os crentes da roça. Ah, aqueles crentes valiosos! Geralmente labutam na roça e na beira dos rios durante toda a semana, de sol a sol, calejando as mãos no manuseio de foices e enxadas, suando a face e criando couro na sola dos pés. E, ao chegar o domingo, dia de descanso, acordam bem cedinho, assim que o galo começa a cantar (lá para as três da manhã), e se trocam, colocando uma marmita na sacola e pegando a sua bíblia surrada e bem marcada. Com coragem pegam a estrada.
 
E andam, andam, andam. Os que têm cavalos conseguem fazer isso com menor esforço. Mas, a grande maioria, vai à pé mesmo, sem medir a distância por quilômetros, mas por léguas. Sobem morros, descem barrancos, e vão caminhando. Lá pelas dez da manhã chegam ao templo, perdido no meio do alto da montanha. Abrem a igreja, varrem tudo, passam um pano nos bancos, afinam a viola, recebem os outros que vão chegando, e louvam ao Senhor longamente. Depois o pregador, pessoa simples e sem muito estudo, abre a boca e fala tudo o que sabe, às vezes sem homilética alguma, mas com toda a fé e boa vontade do mundo. Daí, após umas duas horas, o culto termina e eles vão até o gramado, estendem as toalhas e tiram a bóia fria para fora, comendo gostosamente o seu arroz, feijão e ovo frito, ou um pedaço de frango e uma boa fruta para sobremesa. As crianças brincam, os jovens conversam, as mocinhas sonham, e logo o sol avisa que é hora de picar a mula, seguindo de novo, pois não há tempo para dois serviços na igreja num só dia. E lá vão os heróis da roça, de volta para os seus rincões, não sem antes suar muito, andando à pé e, não poucas vezes, descalços (o sapato e a "roupa boa" é só para a hora do culto).
 
Se alguém tinha motivos para não servir a Deus, esse alguém era o roceiro crente. Podia descansar, ficar em casa o dia todo! Mas não, ele luta, labuta, se dedica. E, ao chegar em casa depois da viagem, cansado, ainda tem qie arrumar a tralha toda para pegar no batente cedinho, no dia seguinte. Tem roçado pra cuidar, geralmente que nem dele é, uma vida muito difícil! Porém, é esse mesmo roceiro que não mede esforços para que chegue o próximo domingo. Ele serve a Deus por prazer!
 
Nós, aqui da geração urbana, aprendemos a viver com facilidades. E colocamos tanto empecilho no serviço do Senhor! Tudo é difícil! Cantar no coral? Fazer evangelismo? Participar de atividades especiais? Ir à igreja de manhã e à noite? Tenho conhecimento de que duas igrejas internacionais muito conhecidas, estão orientando os seus milhares de membros a não virem ao templo, mas participarem do culto pela internet apenas, é mais fácil. Lá no site eles encontram pregações para todos os gostos. Será que tem oração específica também? Cada um faz o seu pratinho de refeição espiritual. Seus líderes apenas solicitam que os dízimos sejam enviados corretamente através do cartão de crédito, não precisando mais preocuparem-se com nada. Eu aplaudo a tecnologia, eu também a utilizo (é por ela que envio os meus textos!). Mas, será que é assim que Deus quer que o sirvamos, isto é, solitariamente, sem esforço e inter-relações eclesiásticas? Um serviço solitário, dentro da minha casa, fácil, cômodo, seguro, num tempo livre que tiver, substituiria o esforço pelo Reino?
 
O Israel é um exemplo pra mim. Para ele o Dia do Senhor é uma bênção. Quando chega a tarde ele sai com um maço de folhetos, deixando-os nas casas. E não tem preguiça. Ele diz que Jesus fez muito mais por ele, portanto, tem prazer em servi-lo.
 
Como precisamos de israéis em nossas igrejas! Como precisamos ser israéis em nossa devoção!
 
Agora, toda vez que eu sentir o aroma do pinho Campos do Jordão, me lembrarei desse jovem valoroso, que ama a Jesus, e procurarei também amar mais a Jesus, dedicando-me melhor e com mais empenho ao Senhor.
 
Um abraço a todos.
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br 

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37.SER PASTOR
 

Qual o sentido dessa palavra? Ser pastor! Uma afirmação tão pequena, mas repleta de tanto significado!
 
Ser pastor é muito mais que ser um pregador. Está além de ser um administrador de igreja. Muito além de professor ou conferencista. Ser pastor é algo da alma, não apenas do intelecto.
 
Ser pastor é sentir paixão pelas almas. É desejar a salvação de alguém de forma tão intensa, que nos leve à atitude solidária de repartir as boas-novas com ele. É chorar pelos que se mantém rebeldes. É pensar no marido desta irmã, no filho daquela outra, na esposa do obreiro, nos vizinhos da igreja, nos garotos da rua. Ser pastor é tudo fazer para conseguir ganhar alguns para Cristo.
 
Ser pastor é festejar a festa da igreja. É alegrar-se com a alegria daquele que conquista um novo emprego, daquele que gradua-se na faculdade, daquele que recebe a escritura da casa própria ou do outro que recebeu alta no hospital. Ser pastor é ter o brilho de alegria ao ver a felicidade de um casal apaixonado, ao ver o sucesso na vida cristã de um jovem consagrado, é festejar a conversão de um familiar de alguém da igreja por quem há tempos se vinha orando. Ser pastor é desejar o bem sem cobiçar para si absolutamente nada, a não ser a felicidade de participar dessa hora feliz.
 
Mas ser pastor também é chorar. Chorar pela ingratidão dos homens. Chorar porque muitas vezes aqueles a quem tanto se ajudou são os primeiros a perseguirem-nos, a esfaquearem-nos pelas costas, a criticarem-nos, a levantarem falso testemunho contra a igreja e contra nós. É chorar com os que choram, unindo-nos ao enlutado que perdeu um ente querido, é dar o ombro para o entristecido pela perda de um amor, é ser a companhia do solitário, é ouvir a mesma história uma porção de vezes por parte do carente. Chorar com a família necessitada, com o pai de um drogado, com a mãe da prostituta, com a família do traficante, com o irmão desprezado.
 
Ser pastor é não ter outro interesse senão o pregar a Cristo. É não se envolver nos negócios deste mundo, buscando riquezas, fama e posição. É saber dizer não quando o coração disser sim. É não ir à casa dos ricos em detrimento dos pobres. É não dar atenção demasiada para uns, esquecendo-se dos outros. É não ficar do lado dos jovens, em detrimento dos adultos e vice-versa. Ser pastor é não envolver-se em demasia com as pessoas, ao ponto de se perder a linha divisória do amor e do respeito, do carinho e da disciplina. Ser pastor é não aceitar subornos nem tampouco desprezar os não expressivos.
 
Ser pastor é ser pai. É disciplinar com carinho e amor, conquanto com a firmeza da vara, da correção e, não raras vezes, da exclusão de pessoas queridas. É obedecer a Bíblia, não aos homens. É seguir a Deus, não ao coração. Ser pastor é ser justo. Ser pastor é saber dizer não, quando a emoção manda dizer sim. Ser pastor é ter a consciência de não ser sempre popular, principalmente quando tiver que tomar decisões pesadas e difíceis, e saber também ser humilde quando a bênção de Deus o enaltecer diante do rebanho e diante do mundo. Os erros são nossos, mas a glória é de Deus.
 
Ser pastor é levantar-se quando todos estão dormindo e dormir quando todos estão acordados, socorrendo ao necessitado no horário da necessidade. Ser pastor é não medir esforços pela paz. É pacificar pais e filhos, maridos e esposas, sogros e genros, irmãos e irmãs. Ser pastor é sofrer o dano, o dolo, a injustiça, confiando nAquele que é o galardoador dos que o buscam. Ser pastor é dar a camisa quando lhe pedem a blusa, andar duas milhas quando o obrigam a uma, dar a outra face quando esbofeteado.
 
Ser pastor é estar pronto para a solidão. É manter-se no Santo dos Santos de joelhos prostrados, obtendo a solução para os problemas insolúveis. Ser pastor é não fazer da esposa um saco de pancadas, onde descontar sua fragilidade e cansaço. Ser pastor é ser sacerdote, mantendo sigilo no coração, mantendo em segredo o que precisa continuar sendo segredo, e repartindo com as pessoas certas aquilo que é "repartível".  Ser pastor é muitas vezes não ser convidado para uma festa, não ser informado de uma notícia ou ser deixado de fora de um evento, e ainda assim manter a postura, a educação, o polimento e a compaixão. Ser pastor é ser profeta, tornar o seu púlpito um "assim diz o Senhor", uma tocha flamejante, um facho de luz, uma espada de dois gumes, afiada e afogueada, proclamando aos quatro ventos a salvação e a santificação do povo de Deus.
 
Ser pastor é ser marido e ser pai. É fazer de seu ministério motivo de louvor dentro e fora de casa. É não causar à esposa a sensação de que a igreja é uma amante, uma concorrente, que lhe tira todo o tempo de vida conjugal. Ser pastor é amar aos seus filhos da mesma forma que ensina aos pais cristãos amarem aos seus. É olhar para os olhos de seus filhos e ver o brilho de seus próprios olhos. É preocupar-se menos com o que os outros vão pensar e mais no que os filhos vão aprender, sentir e receber. É ver cada filho crescer, dando a cada um a atenção e o amor necessários. É orgulhar-se de ser pai, alegrar-se por ser esposo, servir de modelo para o povo. E, quando solteiro, tornar a sua castidade e dignidade modelo dos fiéis, enaltecendo ao Senhor, razão de sua vida.
 
Ser pastor é pedir perdão. Se os pastores fossem super-homens, Deus daria a tarefa pastoral aos anjos, mas preferiu fazer de pecadores convertidos os líderes de rebanho, pois, sendo humanos, poderiam mostrar aos demais que é possível ser uma bênção. Mas, quando pecarem, saberem pedir perdão. A humildade é uma chave que abre todas as portas, até as portas emperradas dos corações decepcionados. A humildade pode levar o pastor à exoneração, como prova de nobresa e integridade, como pode fazê-lo retomar seus trabalhos com maior pujança e vigor. Há pecados que põem fim a um ministério e ser pastor é saber quando o tempo acabou. Recomeçar é possível, mas nem sempre. Ser pastor é saber discernir entre ficar ou sair, entre continuar pastor e recolher-se respeitosamente.
 
Ser pastor é crer quando todos descrêem. Saber esperar com confiança, saber transmitir otimismo e força de vontade. É fazer de seu púlpito um farol gigantesco, sob cuja luz o povo caminha sempre em frente, para cima e em direção a Deus. Ser pastor é ver o lado bom da questão, é vislumbrar uma saída quando todos imaginarem que é o fim do túnel. Ser pastor é contagiar, e não contaminar. Ser pastor é inovar, é renovar, é oferecer-se como sacrifício em prol da vontade de Deus. Ser pastor é fazer o povo caminhar mais feliz, mais contente, é fazer a comunidade acreditar que o impossível é possível, é fazer o triste ser feliz, o cansado tornar-se revigorado, o desesperado ficar confiante e o perdido salvar-se. As guerras não são ganhas com armas, mas com palavras, e as do pastor são as palavras de Deus, portanto, invencíveis.
 
Ser pastor é saber envelhecer com dignidade, sem perder a jovialidade. É ser amigo dos jovens e companheiro dos adultos. Ser pastor é saber contar cada dia do ministério como uma pérola na coroa de sua história. Ser pastor é ser companhia desejada, querida, esperada. É saber calar-se quando o silêncio for a frase mais contundente, e falar quando todos estiverem quietos. Ser pastor é saber viver. Ser pastor é saber morrer.
 
E quando morrer, deixar em sua lápide dizeres indeléveis, que expressem na mente de suas ovelhas o que Paulo quis dizer, quando estava para partir: "combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé". Ser pastor é falar mesmo depois de morto, como o justo Abel e o seu sangue, através de sua história, de seu exemplo, de seus escritos, de suas gravações. Ser pastor é deixar uma picada na floresta, para que outros venham habitar nas planícies conquistadas para o Reino do Senhor. Ser pastor é fazer com que os filhos e os filhos dos filhos tenham um legado, talvez não de propriedades, dinheiro ou poder político, mas o legado do grande patriarca da família, daquele que viveu e ensinou o que é ser um pastor.
 
Eu sou pastor.
 
Obrigado, Senhor!
 
Pr. Wagner Antonio de Araújo
Igreja Batista Boas Novas de Osasco, SP
bnovas@uol.com.br
www.uniaonet.com/bnovas.htm

 



38. FLOR DE MAIO . 01/05/2007
TEMPOS  QUE NÃO  MUDAM

 
A nossa vida é tão curta, tão rápida, tão semelhante a um "conto ligeiro", tão parecida com a neblina da manhã, que é difícil nos conscientizarmos de que "o tempo não para". O tempo não aguarda que nos ajustemos a ele. Aquela canção "não vou me adaptar", dos Titãs, expressa muito bem a surpresa de uma criança crescida, que se vê no corpo de um adulto. E qual de nós não experimentou essa sensação, ao menos uma vez na vida?
 

Diz o sábio Salomão, em um de seus célebres escritos, que "há tempo para todas as coisas debaixo do Céu" (Ec 3.1). Sim, de fato, para tudo, há um tempo determinado. Isto é, há coisas que só devem acontecem naquele tempo. Por exemplo:
 
1) Uma semente só germina passados os dias necessários para isso
 
2) O nascimento sadio de uma criança leva nove meses de gestação;
 
3) Um bolo tem os minutos certos para ficar assando no forno; se sair antes, sai cru, se sair depois, sai queimado;
 
4) Um ser humano precisa de oito horas, no mínimo, de sono saudável, diariamente;
 
5) Devemos ter três refeições ao dia, e nossas barrigas sentem a chegada do horário de costume;
 
6) Há um vazio no peito do ser humano, que tem o tamanho exato de Deus, e, enquanto não for preenchido, ele acusará estar oco, necessitando de preenchimento, e esse tempo é a vida toda.
 
Isso nos faz pensar sobre a forma com que lidamos com o tempo, e a maneira que o gastamos, diante da vida pós-moderna de um mundo globalizado. Nossas crianças têm tempo para brincar? Nossos adolescentes têm tempo para aprimorar o que aprenderam? Nossos adultos têm tempo para viver com alegria?
 
É meio difícil.
 
Nossas crianças vivem prisioneiras em nossos apartamentos e casas, devido à necessária segurança contra balas perdidas, seqüestros ou trânsito maluco. Assim, não sabem mais o que é um carrinho de rolemã, um jogo de bola na rua ou, para as meninas, uma brincadeira de amarelinha, de estátua ou de vai-e-vem.
 
Nossos adolescentes vivem grudados num monitor de computador, experimentando a experiência alheia de vitória, derrota, de matança ou de conquista, esparramada pelos jogos de videogame nos comuns "playstation 3". São verdadeiras bombas-relógio, ou represas que estão prestes a estourar, cheias de vitalidade e potencial não utilizado; no dia em que estouram, o fazem mal, e escolhem a violência, a promisquidade e o afastamento dos valores morais, éticos e cristãos.
 
Nossos adultos, casados e pais, talvez não estivessem preparados para tal, e hoje padecem para alimentar a família, para manterem-se empregados, para sustentar seu conforto, restando pouco tempo para a família, para os amigos e para Deus. Vivem sob a égide do "stress", andam no limite entre a sanidade e o ataque cardíaco.
 
A flor-de-maio é um exemplo para nós. Iniciando em maio, suas flores são belíssimas. Mas não abrem em novembro ou em fevereiro, se não forem forçadas geneticamente ou por técnicas de invasão à sua natureza. Assim devemos respeitar o tempo de nossa existência, vivendo bem cada uma das fases: tempo de ser crianças, tempo de ser jovens, tempo de ser adultos. E, em cada um deles, lembrarmos de que há coisas cujo tempo é "sempre", cuja prioridade é "total", cuja prática é indispensável para o alcance da verdadeira felicidade:
 
1) É tempo de buscar a Deus! "Buscai ao Senhor, enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto" (Is 55.6)
 
2) É tempo de perdoar! "Perdoai, e sereis perdoados".(Mt 6.12)
 
3) É tempo de começar de novo! "Cairá o justo sete vezes, mas não ficará prostrado".(Prov 24.16)
 
4) É tempo de encarar a eternidade, e tomar decisões que nos aproximem de Deus: "louco, esta noite te pedirão a tua alma...", "prepara-te para te encontrares com o teu Deus".(Lc 12.20; Am 4.12)
 
O Criador, o Grande Arquiteto do Universo, o Deus Imanente e Transcendente, Santo, Justo, Perfeito, Eterno, Imenso, Infinito, Pessoal, confiou a cada um de nós um tesouro incomensurável, o dia de hoje, a vida que temos agora. Cabe a nós, no uso de nosso livre arbítrio e sabedoria, escolher o melhor, isto é, escolher buscá-lo, amá-lo e conhecê-lo, pois todas as outras coisas se ajustarão.
 
"O temor do Senhor é o princípio da Sabedoria"; "Buscai primeiro o Reino de Deus, e as outras coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33)
 
Que seja assim. Amém.
 
Wagner Antonio de Araújo
 
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ANTES DE RECLAMAR
Eu gosto de reclamar. Você não gosta? Ah, qual de nós, por melhor que seja, não sente cócegas na língua para reclamar de alguma coisa, ao menos uma vez ao dia? “A comida está quente”, “o ônibus estava lotado”, “o salário não deu”, “seu beijo não foi caliente”, “o tempo está mudado”, etc.
 
Se eu deixar meu ser interior à dianteira da minha razão e do controle do Espírito Santo em mim, passo o dia a reclamar de tudo. Reclamar de mim, dos outros, do mundo, da vida, da eternidade, das roupas, e até dos sonhos.
 
Contudo, tenho feito isto, e talvez ajude a você também.
 
Antes de reclamar do tempero, da temperatura, da quantidade, do aroma da comida,
Lembro-me que há aqueles que não têm escolha, a única opção é passar fome ou comer o que ainda resta.. Também me lembro dos cristãos, presos nos cubículos fétidos das prisões, que ganham uma fatia de pão por semana e um copo com água por dia. Então digo: “obrigado, Senhor!”
 
Antes de reclamar das lágrimas que verti por uma mulher, por um amor perdido, uma paixão do passado, um sonho desfeito, uma mãe que morreu,
Lembro-me daqueles que nunca amaram, que nunca tiveram uma mãe ou um pai, que foram renegados e relegados ao desprezo e ao abandono, que vivem ou viveram sozinhos num mundo inóspito e desprezível. Então digo: “obrigado, Senhor!”
 
Antes de reclamar da saúde, da dor nas costas, da hérnia de disco, do nervo ciático, do problema do coração ou da pressão,
Lembro-me daqueles que adoecem num povoado ribeirinho, sem acesso aos médicos, daqueles que não têm outros cuidados senão o de plantas e o das orações, daqueles que padecem de males tão simples, mas sem socorro nenhum, daqueles que sofrem nos hospitais, nos estágios terminais de um câncer, aleijados, sem órgãos básicos à sobrevivência, e digo: “Obrigado, Senhor!”
 
Antes de reclamar do país, do governo, do partido, do sistema, dos ladrões engravatados, dos religiosos mentirosos, da estrutura falida da administração,
Lembro-me daqueles que vivem sob governos terroristas, na mira de uma metralhadora, cujas mulheres não podem ser livres, e os jovens não podem rezar por outra cartilha; lembro-me dos que são obrigados a servir o exército e morrer sem confiar naquela causa, lembro-me dos que não têm liberdade de ouvir o evangelho nem de portar uma bíblia, dos que não podem expor publicamente a sua fé, e digo então: “Obrigado, Senhor!”
 
Antes de reclamar do pouco dinheiro, do salário insuficiente ou não pago como deveria, antes de reclamar da conta corrente quase esgotada e da carteira vazia,
Lembro-me dos que trabalham o mês inteiro para cortar cana, e recebem menos do que tinham antes, que não conseguem mais fazer uma bóia quente, porém, só fria; lembro-me dos que juntam o ano inteiro para comprar um par de sapatos ou um sabonete de cheiro, lembro-me dos que dariam tudo para ao menos terem uma cama quente no inverno e um refrigerante gelado no verão, e não têm. Então eu digo: “Obrigado, Senhor!”
 
Mas, quando faço isso, sinto no peito uma dor, a dor de quem não merece o que tem, e peço ao Pai: “Senhor, ajuda-me, neste dia que me dás, a repartir a minha comida com alguém que atravessa a dor da fome, a dar meu ombro a alguém que chora por um amor perdido ou um ente que se foi, a curar a doença ou amenizar a dor física de um moribundo, a usar da liberdade de meu país para divulgar a todos as boas-novas do Evangelho libertador, de Jesus Cristo, ajuda-me a realizar o sonho de alguém que é mais pobre do que eu, sem esperar por recompensas ou pagamentos. Afinal, se tenho alguma coisa, devo tudo a Ti."
 
Então vivo muito mais feliz, muito mais contente, e, conquanto não possa transformar todo o mundo do jeito que gostaria, posso fazer diferença na minha vida, vivendo sob ações de graça, e posso interferir na penúria de alguém, cujo caminho cruzar-se com o meu, e mostrar-lhe o quanto é bom repartir e agradecer.
 
Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. (1Ts 5:18)
 
 
Que assim seja.
Amém.
 
Wagner Antonio de Araújo
 
Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP
 
 
 
bnovas@uol.com.br 
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Crônicas FLOR-DE-MAIO - (03)
A MINHA ESTRELA
 
Hoje, enquanto ia para a igreja, contemplava a beleza de um luar cor de prata! Ah, que prato cheio para os românticos! Que beleza para os astrônomos nos observatórios! Que maravilha para os caminheiros na roça dos rincões do Brasil! "Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes." (Sl 148:3)
 
É interessante que em noite de luar forte as estrelas quase que desaparecem, salvo uma ou outra mais afoita, mais cintilante. As demais ficam tímidas ao brilho de um luar tão belo! Somente quando a lua se vai, as estrelas voltam a brilhar. E, tanto a lua quanto as estrelas, exercem funções distintas e maravilhosas no Céu que nosso Deus criou. "Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra" (Sl 8:9)
 
Pus-me a pensar em algumas coisas. Afinal, tudo que acontece, para o nosso bem é que ocorre. Pensei no brilho de minha estrela. Cada um de nós é uma estrela, e, em certo sentido, tem uma estrela, um brilho. Uns têm brilho cintilante, outros nem tanto; uns participam na formação do Cruzeiro, da Ursa Maior, Menor, mas outros têm seus papéis-solo, como a Estrela D'alva. "Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela." (1Co 15:41)
 
Imaginei que cada um de nós é uma estrela, e cada um de nós tem o seu espaço. Deus nos criou com uma missão, e cabe realizarmos bem a obra a nós confiada.
 
Para que a minha estrela brilhe, eu não preciso apagar a sua.
 
 Há pessoas que não suportam o brilho das outras. Tais pessoas não são capazes de, por si só, executarem sua missão. Elas querem apagar as outras ao seu redor. Querem ser o foco das atenções. Não suportam concorrência.
 
No céu não há espaço para estrelas apagadoras de estrelas. Cada uma pode brilhar, cintilar, emoldurar, embelezar. Não é porque a sua estrela é bela que ninguém mais pode ter beleza. Não é porque você deseja sucesso, que ninguém mais pode prosperar. Não é por ser famoso que terá que denegrir a vida alheia, estragando a carreira do seu companheiro de abóbada.
 
Que tristeza ver pastores concorrentes, muitas vezes na própria denominação! Ver cantores que procuram perverter a música dos outros, só para o seu cd vender mais e melhor! Igrejas que se acham mais “apostólicas”, mais “ungidas”, mais “fundamentalistas”, mais “dignas e santas”, e que, para provar tudo isso, gastam seu tempo e atenção em criticar o trabalho dos outros. Creio que o que é bom se exibe por si só, e o que é verdadeiro se prova com o tempo e qualidade. Não precisamos destruir o castelo de areia do próximo. Podemos fazer nossa obra e ainda desejar que o outro tenha bênçãos também. "Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão." (Rm 14:13)
 
Para que a minha estrela brilhe, eu não preciso brilhar mais que a sua.
 
Esse fanatismo pelo sucesso e a primazia turba a vista para a beleza do universo. Já pensou se todas as estrelas tivessem o mesmo brilho, tamanho, distância, luminosidade, posição, etc? Seria um céu artificial, horroroso, sem beleza. Seria um painel, não um céu. Contudo, Deus colocou cada estrela, de cada tamanho, distância, beleza, grandeza, no lugar em que quis, e as abençoou. "Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim." (Ec 3:11)
 
Também Deus deu talentos e limites para cada um de nós, e nos abençoou. "E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade..." (Mt 25:15) É hora de pararmos com a cobiça, e fazermos o que temos que fazer, de forma boa, bela, agradável, construtiva, e com a mente cooperadora, não competitiva.
 
Brilhe o tanto que tiver que brilhar, brilhe o seu máximo, mas não para se comparar com a estrela do outro. Brilhar para sobrepujar o outro é vaidade, e é pecado. Devemos brilhar de alegria, de contentamento, de felicidade, de fidelidade, de submissão. Pouco nos importa que tamanho teremos, desde que seja o tamanho que Deus determinou, e que a glória seja toda dele, nada nossa. No momento em que a jactância e a presunção tomarem conta de nossos ministérios, nosso negócio, nossa beleza física, nosso casamento, nosso patrimônio, talentos naturais, cursos ou relacionamentos, ferimos e entristecemos o Espírito de Deus e começamos nossa queda no abismo da derrota. "Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu" (Ap 3:17)
 
Para terminar: só há um luminar na noite que tem o direito de brilhar mais que nossa estrela: a Lua Cheia. Sim, ela tem direito. É a rainha das noites, debaixo da qual nos subordinamos com reverência. Claro que isso é simbólico: Jesus Cristo é a Luz Única e Verdadeira, e as nossas devem se submeter à dele, isto é, importa que Cristo cresça e que nós diminuamos. "É necessário que ele cresça e que eu diminua." (Jo 3:30)
 
Assim, quando virem nosso brilho e quiserem saber do que é feito, constatarão que nosso brilho mostra Cristo, nosso brilho é manso, humilde, meigo, caridoso, benfazejo, cheio de altruísmo, não cobiçoso de torpe ganância, não desejoso de fama, dinheiro, poder e prazer. Poderemos dizer: a luz que em nós brilha reflete Aquele que nos iluminou para sempre!
 
Daí o antigo cântico do Rev. Emílio Kerr se cumprirá em nós:
 
“Que a beleza de Cristo se veja em mim; toda a sua admirável pureza e amor. Ó, tu, chama divina, todo o meu ser refina, ‘té que a beleza de Cristo se veja em mim”.
 
Que assim seja.
 
Amém.


FLOR-DE-MAIO - (04) levantarei  ( 07/05/07)
Dia belíssimo vivi. Rever Minas Gerais é sempre um aroma de saudade e um colírio de lembranças.
 
Em minha infância, vivi parte de cada ano em nossa casa da roça, na Meia Légua, lugarejo do município de Cambuí. Trago no peito as marcas dessa infância: meu cavalinho de pau, meus carrinhos de plástico, o escorregador do morrinho, a cachoeira, o eco entre as montanhas, o meu primeiro beijo e a primeira namorada, as missas que ajudava (era católico e coroinha), o frio gelado e úmido do mês de julho, o motorádio do meu pai, tocando às nove da noite o "Linha Sertaneja Classe A".
 
Fui hoje à tarde para lá, com o Pr. Alfred, mostrar-lhe minhas origens. Passei por todo o estradão, desci até o povoado, atravessei o mata-burros, parei junto à corredeira do riozinho, contemplei o verde mineiro daquelas terras tão queridas.
 
Na subida, uma comprovação.
 
Há tempos atrás, quando compraram as terras de meu avô João Paulino de Araújo,  destruíram o bambuzal que ladeava a estrada, talvez 500 metros de vegetação fechada. Era dali que pegávamos a lenha de fogo rápido para o fogão à lenha; não apenas nós, mas minhas tias, primas e vizinhos. O bambuzal servia de refúgio para pássaros, refresco em dias de calor intenso, abrigo contra chuva, beleza na paisagem, etc.
 
Quem comprou não viu beleza ou utilidade nele. Apenas quis desfazer-se desse estorvo do caminho, para encher a terra de vacas e bezerros. Então destruiu tudo, pedaço por pedaço, arrancou raízes, decepou brotos, destruiu qualquer lembrança de bambus naquele lugar. Depois vendeu os bezerros, matou as vacas e foi embora.
 
Entretanto, a força da vida é maior que o poder destrutivo da morte; alguns restos de raízes arrebentaram na terra anos depois, e esse renovo invadiu uma pequena fresta da estrada. Agora, talvez dois anos passados, o bambuzal está grande, cheio, viçoso, bonito, e cobre metade do espaço original. É o milagre da vida! Quem não viu nele qualquer serventia, agora tira o chapéu e o chama de "professor de perseverança"!
 
Isso trouxe à minha mente a triste realidade de nossas vidas, quando as interpéries, os amores não compreendidos, os fracassos financeiros, as doenças degenerativas e a depressão corrosiva, destroem a nossa vida e toda esperança de amor, alegria, felicidade, prosperidade. Julgam-nos como os mais desprezíveis, gente sem valor, de sentimentos irrelevantes. Sentimo-nos como se fôssemos seres de segunda categoria, pois nada dá certo para nós, parece que a nossa estrela nasceu no pé, pois na testa só a frase  “infeliz”. Quanto mais queremos melhorar, progredir, vencer, tanto mais os inimigos vêm sobre nós, arrancando nossas raízes, decepando nossas esperanças, levando nossos amores nas enxurradas dos choros incontidos. Somos um bambuzal desenterrado, salgado e cimentado.
 
Contudo, amados leitores, maior é o que está em nós, do que aquele que está no mundo. "Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo." (1Jo 4:4)
 
Se é forte a força da morte, mais forte é o poder de Deus, e a força do amor tem virtudes e poderes que transcendem a própria razão. Mesmo morto, é possível ressuscitar! "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;" (Jo 11:25)
 
Se as águas derrubaram seus castelos de areia, não desanime: Deus trará materiais mais duradouros para você construir seus sonhos! "Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará;" (Pv 24:16)
 
Se o tempo e o esforço destruíram sua saúde, não perca a esperança: muito pode a oração de um justo em seus efeitos, e poderosa é a força da esperança! Ademais, se nosso tabernáculo terrestre se desfizer, temos morada no Céu, indestrutível! Aleluia! "Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos." (Tg 5:16); "Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus." (2Co 5:1)
 
Se a vida lhe privou de oportunidades, não ignore esta, enquanto lê esta crônica: não foi à toa que você encontrou este texto! Você começará de novo, e do jeito certo! Quem disse que não dá?? É custoso, é difícil, mas não é impossível! Levante-se! Anime-se! Agarre-se ao filete de vida que sobrou! "Espera no Senhor, anima-te, e ele fortalecerá o teu coração; espera, pois, no Senhor" (Sl 27:14); "Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará." (Sl 37:5)
 
Se o amor lhe fechou a porta e a solidão tornou-se companheira, lembre-se: nada acontece por acaso, e Deus tem um plano em sua vida! Só Deus sabe quais os bons planos tem para sua vida amanhã! Convém crer, agradecer e se empenhar em fazer Sua vontade! "Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais". (Jr 29:11)
 
Se o pecado ceifou sua esperança de vida eterna, e uma trágica expectativa de inferno povoa seus mais secretos sonhos, turbando o sono e perturbando o coração, acredite: ainda há perdão para você, no coração de Deus! Confesse, abandone o erro, confie em Cristo, e ressurja das trevas! "Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar." (Is 55:7)
 
Mais uma vez o bambuzal me trouxe esperança. E creio que trará para o meu leitor também. Afinal, mesmo destruído, ele venceu. Mesmo desenterrado, sobrou um pedacinho de vida. E esse pedacinho reinou. Deixe que o pedaço bom de você, que ainda existe, tome conta do seu hoje e do seu amanhã. "Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos." (Jo 14:7)
 
Que assim seja.
 
Amém.
 
Wagner Antonio de Araújo
 

FLOR-DE-MAIO - (05) _ 11/05/2007

A MINHA PARTE

Nesta semana tão agitada, tantos compromissos, reuniões, eventos e visitas, uma oração me tocou. Foi a do Serginho, no culto matinal da terça-feira (a Boas Novas de Osasco SP reúne-se às 7 horas desse dia para orar). Dizia ele ao Senhor: “Oh, Deus, dá-nos a graça de fazermos a nossa parte em prol da salvação de nosso país, e da transformação de nossa sociedade”. Amém!

 

Às vezes achamos que a nossa parte é tão pequena! Afinal, não temos a mídia a nos observar, a publicar nossos feitos, ditos e fotos nos sites e televisões. Consideramo-nos tão inexpressivos! Mas isto não é verdade. Se uma alma vale mais do que todo o mundo, então um bom exemplo e uma atitude construtiva também valem muito!

 

Podemos fazer a nossa parte quando mostramos boa educação. “Com licença” é algo tão belo, ao nos sentarmos no lugar vago do banco do ônibus, e tão poucos pedem! Dizer “Pode ir na minha frente”, numa fila de banco, significa muito no conceito de alguém, e foi algo tão pequeno! Às vezes ambos serão atendidos ao mesmo tempo! Contudo, o sentimento benfazejo no peito de quem ganhou a vez é encorajador! “Mas nem todos são dignos!” Sim, é verdade. Mas, e daí? Eu também não fui digno do amor de Cristo, e mesmo assim, Ele me amou, e a si mesmo se entregou por mim! E eu era um pecador! Sou ainda (miserável homem que sou!), mas um pecador perdoado, graças a Deus!

 

No trânsito, não precisamos entrar no “mistério da seta” – ainda estou para fazer um mestrado, no estudo comportamental da seta na ansiedade e da prepotência humanas: basta sinalizar que vai mudar de faixa, que o carro de trás acelera, buscando ocupar o lugar que pedimos! Faça um teste, e veja se minto! Porém, se pararmos para pensar, exigir esse lugar sinalizado é tão pouca coisa! E há gente que morre ali, vitimado pela violência e por buscar fazer justiça com as próprias mãos! Seria tão mais fácil ceder! Pode não parecer justo, podemos nos sentir injustiçados, mas é o que deveríamos fazer, pois, em última análise, não há um justo sequer. Assim, “dá a quem te pede” (Mt 5:42).

 

Dizer “bom dia”, “olá”, “como vai?”, “por favor”, “um momento apenas”, “Deus lhe abençoe”, “com muito prazer”, é tão fácil, mas tão em desuso em grandes capitais! Nas cidades do interior nem tanto, mas em capitais, em metrópoles em ebulição, as pessoas passam pelas outras, pisam em seus pés, esbarram, mas não cumprimentam. Que bom seria se mudássemos isso em nossas ruas, bairros, empresas, igrejas, classes, e cultivássemos a semeadura de bons hábitos, de gestos de cortesia, de palavras de atenção, de manifestação de afeto! No começo pode parecer ridículo, mas com o tempo, o bom exemplo “pega”.

 

Fazer a minha parte é também semear o evangelho de Cristo. Não estou falando de combater a igreja do outro, porque isso é fácil, e só provoca a guerra. Muitos combatentes desfalecem no caminho, porque acabam por perceber que seus líderes religiosos eram tão pecadores (ou mais) que os da igreja combatida, e desanimam até do Caminho. Mas falo de semear a Cristo, a bíblia, a mensagem redentora, a palavra de fé, encorajamento e conversão. Conheço alguém que mandou imprimir em copos plásticos de água a frase “quem beber essa boa água, sede sentirá, mas quem beber de Cristo, espiritualmente, nunca mais terá sede de Deus”. E sai a distribuir água nos semáforos da avenida! Outro presenteia mensalmente uma bíblia, a um colega de serviço. Ainda outro grava as mensagens do pastor, e distribui os cds para os não crentes. Cada um pode inventar o seu método de cristianizar seus arredores. O importante é usar um, e não viver a discutir. Enquanto discutimos se é com vestido ou calça comprida que deve se vestir, deixamos nus os que precisam de roupas. Portanto, seria tão bom falarmos menos, e fazermos mais!

 

A oração do Serginho falou comigo. Creio que já achei o meu caminho: pregar a Palavra de Deus, escrever minhas mal-traçadas linhas, comunicar-me na internet, pastorear o pequenino rebanho de Cristo aos meus cuidados, aconselhar, cantar nos cultos, tocar o pouco que sei, fazer amizades das mais variadas vertentes, e orar. E usar das coisas boas que aprendi, para melhorar os costumes, aumentar o bom relacionamento, tornar o trânsito menos violento, ser um agente ativo nos propósitos de Deus. Assim, terei vivido a minha vida com algum significado especial, e deixarei algum fruto.

 

Quero fazer a minha parte.

 

E você?

 

Wagner Antonio de Araújo



MÃE POSTIÇA
 

Segundo Dia das Mães com mãe ausente. Sim, ela está um tanto ocupada no Céu, aliás, não voltará mais aqui, exceto no dia da grande ressurreição. E acabou por deixar o Daniel e eu “desmãezados”, uma palavra que acabei de inventar, cujo significado está na cara.
 
Alguns que me lêem também têm mães ausentes. Talvez morem muito longe de suas mães, ou então suas mães são falecidas, como a minha. No dia das mães, se casados, festejam com as sogras. Mas nem sempre as sogras são grandes opções... E acabam por sentir solidão.
 
Bem, se as mães moram longe, isso não importa para um filho: as mães merecem todo o esforço que um filho faça, nada é sacrificial demais. Hoje, no culto, Eduardo nos contava que sua mãe Maria morreu ao dar à luz a ele. Que lindo, e que real! O que pode ser mais forte que isso?
 
Também é importante que se diga que dia das mães é todo dia, e não apenas o que consta no calendário oficial do comércio. Marque uma visita, faça uma surpresa, fale por telefone, computador ou torpedo, mas não deixe de contatar sua mãe. Mandar flores para encher o túmulo de plantas mortas não resolverá a dor de sua consciência. Aproveite hoje a existência de sua mãe!
 
Eu resolvi adotar uma mãe. Claro, por que apenas mães adotam filhos? Filhos cujas mães estão indisponíveis podem homenagear mães postiças. Podemos ter uma definitiva, ou cada ano poderemos adotar uma nova, que pode ser velha mesmo, tanto faz. Mas alguém para festejar conosco.
 
A Dona Justina está conosco aqui em casa. É a mãe da Milú, minha irmã adotiva (chamo-a de irmã adotiva, porque trabalha conosco desde 1982 e não é mais funcionária, é membro da família, principalmente depois de tudo o que fez de bom, cuidando da minha mãe). Dona Justina veio passar uns três meses conosco e fazer companhia para a filha. Ela mora na roça, em Januária, norte de Minas Gerais. E, de brinde, veio alegrar minha casa e tornar as coisas menos tristes. Resolvi então festejar.
 
Hoje pela manhã, tocaram a campainha. Milú atendeu. Era o entregador da cesta de café da manhã que eu encomendara. Quando a Milú chamou sua mãe, esta ficou boquiaberta com tanta guloseima junto. “é compra do mês”? “Não, mãe, é um presente de dia das mães e do seu aniversário”. Então ela nem sabia por onde começar: não sabia se comia uma fatia de presunto, um risoli, um doce, uma bolacha, uma torrada, se bebia um chá, um suco, ela ficou perdida no meio de tanta coisa! Por um lado queria comer de tudo; por outro, não havia barriga suficiente, nem tampouco saúde, pois ela é diabética. Então comeu um pouco (um bando, conforme seu linguajar), e foi deitar. Daí levantou de novo e veio tomar outro café. Ela estava feliz! E chorou de alegria.
 
E eu também fiquei feliz com sua felicidade. Eu e a Milú. Afinal, essa também é uma heroína. E, já que a minha mamãe está com Jesus, no Céu, além de homenagear a memória da minha mãe, posso encontrar lugar no coração para honrar uma mãe postiça também. Quantas mães a minha mãe honrou, meu Deus! Quanta gente ela ajudou durante sua vida, e agora, com seu exemplo, continua a ajudar! Sigo os passos dela. Eu, Milú e Daniel.
 
Desde cedo aprendi que no Reino de Deus não há lugar para solitários e desamparados. Quem é órfão, encontra pais postiços; quem não tem irmão, encontra um na igreja; também encontram-se irmãs, encontram-se professores, alunos, amigos, colegas, etc. Só vive sozinho ou mantém-se sozinho quem quer. Há muitos que encontram, inclusive, alguém com quem formar uma família, ou reformar a própria vida, caso venha de uma família terminada.
 
Louvo a Deus pelo evangelho. Em Cristo Jesus somos membros uns dos outros e parte de um grande Corpo, cujo cabeça é Cristo, cujo fundamento, alicerce e base é Cristo. Talvez essa segurança e essa realidade nos dê condições de viver a vida de uma forma vitoriosa, pois em Cristo não há derrota, só vitória. Aquilo que chamamos de derrota, nada mais é que uma pequena perda temporária. Perde-se agora, para ganhar mais tarde. Obtém-se menos agora, para ganhar-se mais amanhã. E, no nosso caso, aqui é apenas o início. A nossa Pátria, cidade e derradeira morada está nos Céus, de onde aguardamos o nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo. Mamãe já foi pra lá. Milú, Daniel e eu seguiremos logo. Enquanto por aqui, queremos louvar ao Senhor através do amor.
 
Não espero e nem quero que Dona Justina se sinta amada apenas hoje, dia das mães. Quero que ela e todas as mães, e as irmãs solitárias da igreja, sem filhos, sintam-se amadas, estimadas, honradas e percebidas durante todos os 365 dias do ano. Assim, que todos nós expressemos o amor devido às nossas mães, e, quando não for possível (ou se houver espaço em nossos corações), que amemos outras mães também, tornando a vida de alguém mais feliz, mais realizada, mais valorizada.
Comecemos hoje.
Assim, no próximo Dia das Mães, teremos construído um alicerce bem forte, para um dia maravilhoso, e um ano feliz.

Que assim seja.
Amém.
 

Wagner Antonio de Araújo

FLOR-DE-MAIO (7) principal (22/05/07)

Subindo a rua onde nossa igreja mantém-se até que consiga um terreno (oh, Senhor, atende a oração do teu povo!), vi um significativo aumento no número de igrejas, as mais diversas. Algumas bem instaladas; outras, nem tanto. Umas grandes; outras, pequenas. Umas, barulhentas; outras, quietinhas. Algumas com ética, mantendo uma certa distância da outra, para evitar “concorrência”. Outras, mais ousadas, estabelecem-se de parede colada na outra, e ainda colocam placas na porta, onde está escrito:”Aqui Deus cura mais rápido”, “Não cobramos oferta, só dízimo”, “Não olhes para a direita...”, que é onde estava a outra igreja. É uma invasão!

O rádio também tem sido invadido. Freqüência Modulada, quando eu era menino, era a faixa do povo rico,  onde poucas rádios tocavam músicas instrumentais, bonitas, e só uns poucos aparelhos possuíam a faixa. Hoje, FM tornou-se praticamente a única faixa disponível no geral (ainda que exista a AM). Nas noites paulistanas ou osasquenses, é vergonhoso o que ouvimos na FM: dezenas e dezenas de igrejas, evangelistas, pastores e profetas, cada um vendendo o seu peixe da forma mais analfabeta possível, e, na maioria dos casos, em emissoras clandestinas, contra a lei, dando um mal testemunho terrível. Dias atrás uma dessas emissoras quase derrubou um avião em Guarulhos, pois impediu importante comunicação entre a torre e a aeronave. Não raras vezes, crentes conhecidos meus, da cidade, foram presos. Não satisfeitos, reabriram seus estabelecimentos e estão por aí...

Fiquei pasmo quando ouvi um profeta moderno: ele tem um laptop, onde há o software REVELAÇÕES 1.0, e, através de um número que o ouvinte fornece, adiciona-se o número do telefone, divide-se pela data e o número da ligação, e então é escolhida uma revelação, tipo caixinha de promessas. Pensei: “Espírito Santo agora foi rebaixado à periquito de realejo ou búzio da sorte moderna! E dá-lhe sincretismo!”

Se eu, crente, evangélico, já não suporto mais a invasão religiosa;  se eu, crente que sou, reparo no excesso de igrejas numa rua só, o que dizer de um não-crente, de um católico, espírita, ateu, que generaliza todas as igrejas e só percebe que a quantia “passou da conta”? Eu acredito que a grande questão, para quem não estiver furioso, e estiver do lado de fora, será: "como saber qual dessas igrejas é genuína?"

Pela placa, pela denominação da dita igreja,  não dá mais. Dias atrás entrei em uma igreja batista. Seu pastor estava promovendo a “tarde dos empresários”, e à noite teria a “corrente dos caçadores do amor à dois”. Lamentei. Ainda sou do tempo que a placa significava alguma coisa. Bem, vivemos num mundo híbrido, e não é de se estranhar que a confusão reine. Em grande parte dos casos, com boas exceções, só pelo nome da igreja não teremos garantia em encontrar igrejas autênticas.

Creio que a solução é simples: além da prédica, a PRÁTICA!. Jesus, ao final do sermão do monte, em Mateus 7, declara: quem ouve e cumpre, é sensato e prudente, e é o tipo certo de cristão (veja em Mateus 7. 24-27).  Jesus, ao olhar para a avenida onde a Boas Novas está, não procurará a mais bonita, ou a maior, ou a mais barulhenta, ou a menor, mais quieta, mais feia. Ele busca igrejas que não vivam só de “ouvir” a Palavra. Ele busca igrejas que “cumpram” a palavra. Há grupos que se encantam por ficar 10, 20, 30 horas em “louvor” ininterrupto, outras de ter quarenta cultos semanais. De nada adiantará cantar, gritar, orar, se não for seguido do fundamento de um cristianismo autêntico: agir! Não fomos salvos para ouvir; fomos salvos para servir, para viver, para cumprir. Se a Boas Novas não for cumpridora da Palavra, não se enquadrará no tipo autêntico de Igreja de Cristo!

E cumprir a Palavra é tão simples!! O saudoso Darcy Gonçalves cantava uma canção, falando da “casa no interior”. Dizia ele que ainda se lembrava do lar onde conheceu a bíblia e o seu primeiro amor. Dizia que ainda era capaz de se lembrar dos salmos que sua mãe lhe ensinara, bem como dos versículos decorados quando pequeno. Quantas famílias cristãs não lêem a bíblia, não oram juntas, não cantam juntas? Não há vergonha em assistir programas indecentes, mas dá tanta vergonha abrir uma bíblia ou fazer uma oração junto com a família, não é mesmo?

Não é preciso ser teólogo para se agradar a Deus. Basta ser decidido e praticante. Muitas vezes um conhecedor básico da Palavra é melhor cristão que um teólogo renomado ou um conceituado religioso. Lembro-me da irmã Isabel. Ah, que falta me faz essa irmã! No auge dos seus 87 anos, ela me chamava à sua casa, orava por mim, aconselhava-me e orientava-me. E ela nunca fizera um ginásio. Sua sabedoria simples de mãe, esposa, avó e cristã era: “ande com Jesus, e faça o que ele disse pra fazer”. Tão simples! Mas ela tinha algo que a qualificava: INTEGRIDADE. A integridade dela gerou em mim a credibilidade que eu precisava. Quantos de nós, por falta de integridade, não temos credibilidade?

Nossa vida é uma casa, construída ao longo dos anos. Ela permanecerá para sempre, se o seu fundamento for “praticar” o cristianismo, semeando o evangelho, fazendo o bem, louvando a Deus e mantendo limpa a nossa mente.
 
Quero ser assim. Desejo que a Boas Novas seja assim. Desejo que o meu leitor, minha leitora, e sua querida igreja, também o sejam.
 
Deus nos abençoe.
 
Amém.
 
 

Wagner Antonio de Araújo

Igreja Batista Boas Novas de Osasco SP

www.uniaonet.com/bnovas.htm

www.bnovasosasco.com.br

bnovas@uol.com.br

 

QUERO AGRADECER CORDIALMENTE À QUERIDA ANGELAZINHA VIEIRA,

DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, QUERIDA ASSEMBLEIANA DO CORAÇÃO,

PELA LINDA TAG QUE FEZ, PARA ABENÇOAR MEU TRABALHO E

"DESENFEIAR" AS MENSAGENS (A TAG QUE EU ESTAVA USANDO

FORA OBRA MINHA MESMO, E ESTAVA FEIA DEMAIS...)

BRIGADÃO, ÂNGELA!


FLOR-DE-MAIO (8) templo (29/05/07)


Onde está o nosso Altar? E onde está o nosso Templo?


Lembro-me que, ao visitar a igreja onde converti-me, estranhei não encontrar um altar à frente, nem uma imagem para veneração, nem o próprio símbolo da cruz. Chamei o pastor e reclamei-lhe: “pastor, aonde está o altar? Aonde estão os santos?” Ele disse-me: “Wagner, o altar está em nosso coração; nós não temos imagens”. Pensei: “Pois deveriam ter!”.

Após aquele culto, eu me converti a Cristo, e só então pude entender o que significava ter o altar dentro do coração. Altar era o lugar onde se ofereciam sacrifícios. Eram repetidos continuamente, porque a eficácia dos mesmos era apenas simbólica, pois o verdadeiro sacrifício estava por vir. Um dia, porém, veio o Filho de Deus às águas do Jordão, e João Batista disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. Ali estava o sacrifício a ser oferecido no altar.

Sim, no Altar de Deus. Altar que não era de bronze, de ferro, de latão, de ouro ou pedra; Altar construído no alto da montanha, composto de uma cruz sangrenta. Ali estava o autêntico, legítimo e definitivo sacrifício. Cristo seria oferecido como Cordeiro de Deus, em favor de todos os homens, de todas as gerações, de todas as línguas, povos, raças, tribos, nações. Oh, Santo Amor de Deus, que levou Seu Filho às últimas conseqüências na expressão de tão grande amor!

Sacrificado, Cristo satisfez às exigências da justiça divina. Ressuscitado ao terceiro dia, apareceu diversas vezes e, no quadragésimo dia, subiu ao Pai. Dez dias depois o Espírito Santo foi derramado sobre todo o que crê, tornando-se residente em Sua igreja, e mostrou-se presente através de sinais e maravilhas. Agora "todos" somos batizados em um mesmo Espírito, independente dos dons que o Senhor dá para a edificação da Igreja.
 
E quem é essa Igreja? Os chamados para fora do mundo, para dentro do Reino, os salvos e redimidos. Os crentes num local determinado, que se reúnem num edifício, numa palhoça, numa casa, num barco, não importa. E também os crentes de toda a Terra, em todos os lugares. E onde estaria o Templo Maior, o Templo Principal, a sede, a matriz? Em Jerusalém? Judéia? Samaria? Roma? Confins da Terra? Não. O templo seria o corpo de cada um de nós, os novos tabernáculos de Deus no mundo! Sagrado mistério, insondável dádiva dos Céus!

A Igreja, como um todo, é um templo ambulante do Deus vivo. Aonde estivermos, ali está também a Igreja de Cristo. Cada membro, em particular é também um templo. Nossos corpos, antes servindo às paixões e aos desejos diversos, chamados "desejos dos gentios", às vaidades e às satisfações sensuais e culturais, tornaram-se santos, limpos moralmente, e dignos de serem honrados como puros vasos onde o Espírito Santo habita, de tal sorte, que a glória não esteja no vaso, mas em quem enche esse vaso.
 
Assim, na teologia paulina, discorre-se a tese de que os nossos corpos não são mais nossos, mas de Deus! Que verdade fabulosa! Isso nos faz entender que não é lícito continuar a servir às vis paixões e sensualidades físicas, às vaidades de aparência ou embelezamentos estéticos com finalidades meramente estéticas ou de vanglória. Agora os nossos corpos são extremamente importantes, pois neles vivemos, e neles santificamos a Cristo como Senhor, através da oração, da leitura bíblica, da verdadeira adoração, da pureza sexual. Há em nós um altar, há em nós um templo!
 
O altar é o lugar onde nós, ofertas vivas, diariamente oferecemos ações de graças e confessamos o senhorio de Cristo em nossas vidas. O altar é o lugar onde renunciamos às nossas vontades, pela vontade divina. O altar é o lugar onde o “não se faça o que eu quero” acontece. É ali que Deus está. Quem procura Deus numa sala, num oratório, numa parede, numa gruta ou numa cidade, não o achará. Porém, se entrar no “Santo Lugar”, lugar de oração, adoração íntima e contrita, o achará! Não precisa ser no Monte Sinai, Monte Horebe ou Colinas do Vaticano. Pode ser numa favela, num beco, numa aldeia, numa metrópole, num submarino, numa aeronave, num buraco. O Altar é dentro do coração do crente.
 
E o templo? O templo também não está num lugar geográfico, numa cidade, numa capital, num país. O templo é o nosso corpo, limpo moralmente, dedicado integralmente à adoração de Deus, não de acordo com os costumes pagãos que encontramos em todo o sincretismo religioso do nosso mundo, mas dentro das determinações do próprio Deus, contidas em Cristo, contidas nos princípios registrados nos dois testamentos bíblicos. O cristianismo é uma nascente puríssima, com águas cristalinas. Encontramo-lo em sua essência nas páginas sacrossantas das Escrituras Sagradas. Quando o adaptamos ao belprazer de nossas culturas, torcendo-o ao ponto de justificá-lo culturalmente, torná-lo mais autóctone, mais colorido à luz de nossas lentes interpretativas, sujamo-lo, tal qual um esgoto suja um rio puro.

Quem quer enfeitar o templo ao seu bel-prazer, corre o risco de fazer um altar para Baal, uma igreja sincrética que mais provoca ira do que glória ao Senhor. De noiva do Cordeiro será chamada Jezabel e Babilônia. Para vergonha nossa o digo: talvez sejamos mais Babilônia do que quem constantemente acusamos disso! Julgamos estar em pé, mas amargamos algo pior que um magistério autoritário: abraçamos uma "re-leitura" bíblica, tão em moda na década de 70, hoje com outros (ul)trajes, mais modernos, mais "politicamente corretos". Não convém que seja assim, amados!
 
Assim, ferir seu corpo, tatuar-se, enfiar ferrinhos no nariz, umbigo, na testa e em outros lugares escusos, ou grafar à ferro e fogo, ou à tinta e máquina o nome de Deus, versos bíblicos ou manifestações religiosas, nomes de homens que não são mais que meros cooperadores do evangelho (quando o são de fato), se chama idolatria, é paganismo disfarçado de cristianismo, numa continuidade crônica do sincretismo religioso do mundo. Faz-nos lembrar Judá, que se consagrava tanto na época das perseguições, e se emporcalhava pior do que antes, quando o profeta, juiz ou rei piedoso morria. Precisaremos de uma boa perseguição para voltar à pureza de Cristo?

Servir a Deus purifica. Servir a Deus simplifica. Nossos corpos não precisam de símbolos ou embelezamentos culturais, para bendizer a Deus. Pelo contrário, segundo é santo aquele que nos chamou, devemos também ser santos. A nossa santidade deve também ser simples, sem adaptações culturais. Todas as vezes que os hebreus ou posteriormente os cristãos, buscaram adaptar Cristo à cultura, fazendo-o imergir num batismo mundano, transformaram a igreja num paraíso maldito, emporcalhando o nome de Cristo. Hoje Cristo é surfista, tatuado, superstar, jogador de basquete, vôlei e futebol, guerrilheiro socialista e sabe-se lá mais o que! Esse não é o verdadeiro Cristo. E esses não são os verdadeiros cristãos.

Somos chamados a não perder tempo com símbolos, com aparências, com bandeiras meramente humanas, mas a gastar tempo com Deus, em oração; com o próximo, em serviço; com o perdido, em evangelização; com o doente, em assistência; com o enlutado, em consolo; com o esfomeado, em suprimentos; com o aprisionado, em libertação; com o irmão em edificação.

Na glória, quando ressuscitarmos, ganharemos vestes alvas, sandálias e cintos dourados, coroa na cabeça e mais nada; a nossa glória virá de dentro para fora, não de fora para dentro. E assim devemos ser hoje: astros a brilhar, mostrando a glória de Cristo, luzeiros neste mundo tenebroso.

Vamos imergir o mundo em Cristo, e transformar este século com o Evangelho! Deixemos de fazer o contrário.

Que Deus nos fortaleça.
Amém.
 
wagner antonio de araújo
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