(Editora Eclésia - editora@eclesianet.com.br- Guerra contra agências evangélicas -Agências evangélicas buscam apoio contra medidas que restringem trabalho missionário entre os índios. A evangelização dos povos indígenas, ministério desenvolvido por organizações protestantes há 90 anos no Brasil, passa por um momento difícil. Ao mesmo tempo em que cresce a reação de entidades acadêmicas, que acusam os missionários, entre outras coisas, de descaracterizar a cultura dos índios, setores da Fundação Nacional do Índio (Funai) dificultam o acesso das missões às áreas indígenas. É o caso da área Cuminapanema/Urucuriana, no Pará, onde vivem os índios zo'é, pivôs involuntários de uma crise entre a Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), de Anápolis (GO), e a Funai, um caso que se arrasta há anos e já motivou uma série de denúncias e medidas judiciais. Os missionários da MNTB, expulsos da região em 1991, lutam desde então para retomar os projetos que desenvolviam naquela tribo. O processo, sem solução à vista, envolve os responsáveis pela missão, a 16ª Vara Federal e a Procuradoria da República do Distrito Federal. O assunto foi tema da matéria de capa de ECLÉSIA em maio, e a repercussão não tardou. No dia 7 de junho, o deputado federal Josué Bengston (PTB-PA), ligado à Igreja do Evangelho Quadrangular, fez um pronunciamento na tribuna da Câmara dos Deputados em defesa do direito de as entidades missionárias evangélicas atuarem na assistência social, médica e espiritual aos povos indígenas. Por iniciativa do parlamentar, cada um dos 594 congressistas, nas duas casas legislativas, recebeu um exemplar daquela edição. Bengston tem se destacado por uma atuação marcante na questão indígena. Além de empenhar-se pela agilização na aprovação do Estatuto do Índio, integrou a CPI da Funai, ano passado, e preparou uma equipe para assessorar os missionários na questão indígena. Em fevereiro deste ano, ele denunciou a venda ilegal de terras pertencentes aos caiapó, em documento entregue aos presidentes da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). As agências missionárias também não querem perder mais tempo e estão se articulando para fazer todo tipo de pressão, principalmente no Congresso e na Funai. Desde o mês passado, a Associação da Missões Transculturais do Brasil (AMTB) assumiu a liderança da luta. "Entendemos que somente pela mobilização poderemos nos fazer ouvir", diz o pastor Enoque Faria, coordenador de assuntos indígenas da entidade. Na verdade, a associação já vinha trabalhando há anos, mas desde o encontro nacional de missões indígenas, realizado no início de abril, suas ações se intensificaram a pedido dos sócios. Pressão política - A AMTB pretende lançar mão de todos os meios para se fazer ouvir. "Não descartamos o "lobby" sobre os parlamentares", continua Enoque. Para ele, o momento é grave. "Há denúncias falsas, processos tramitando contra agências missionárias e o novo Estatuto do Índio, contendo diversos aspectos preocupantes." Além da ação institucional, as missões estão fazendo um intenso trabalho de mobilização de evangélicos de todo o Brasil. "Queremos que cada crente, cada pastor, tome esta luta como sua. É uma questão de liberdade religiosa", frisa Enoque. A reação evangélica, embora ainda tímida, já se faz notar. No dia 22 de junho, diversas igrejas do país dedicaram um dia de oração pelo trabalho missionário entre os povos indígenas. O Centro de Oração do Vale da Bênção, em Atibaia (SP), promoveu uma vigília com o mesmo propósito. Mas os líderes de agências esperam muito mais. "A comunidade evangélica precisa perceber que tem peso político neste país", declara o presidente da MNTB, pastor Edward Gomes da Luz. Segundo ele, o novo Estatuto do Índio, que está para ser votado no Congresso, é uma ameaça concreta ao trabalho missionário. "Do jeito que está, parece que foi elaborado sob encomenda para anos prejudicar", protesta. Ele chama a atenção para o que considera sutilezas do texto. "Uma delas diz respeito às punições para quem promover alteração na cultura dos índios ou menosprezar suas manifestações", cita Edward. "É muito vago. Dependendo da intenção de quem julga, estes preceitos podem ser aplicados ao nosso trabalho. Aí, há pena de dois a oito anos de prisão." Já a biopirataria e a exploração das imagens dos índios com fins comerciais - atividades que, segundo os missionários, estão em pleno vapor mesmo nas áreas isoladas -, são punidas apenas com multas. Edward acredita que houve pressão dos adversários das missões. "É por estas e outras que o povo de Deus não pode ficar calado. Senão, o que acontecerá em seguida? O fim dos cultos públicos? A proibição de se entregar um folheto na rua?" Já o deputado Luciano Pizzatto (PFL-PR), que é o relator do projeto do Estatuto, diz que as missões evangélicas não têm participado dos debates que estão sendo promovidos, ao contrário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica. "Eu nem sabia que existem entidades protestantes envolvidas nesta questão", disse em entrevista a ECLÉSIA. De acordo com o deputado, o projeto passou pela Comissão Especial há seis anos, estando desde então engavetado. "Este ano, com o advento dos 500 anos do Brasil, o assunto voltou à pauta." A intenção do parlamentar é que o texto seja votado pelo Congresso ainda este ano. "Pretendo apresentá-lo em agosto", antecipa. Pizzatto garante que, pessoalmente, nada tem contra a obra missionária nas tribos. Mas reconhece que alguns pontos do projeto possam ser interpretados de maneira desfavorável ao trabalho religioso. Por isso, continua, tem buscado o entendimento com todos os segmentos envolvidos. "Estamos discutindo com toda a sociedade, promovendo diversos encontros. Os evangélicos serão muito bem-vindos", conclui. Jornalismo que repercute - O deputado federal Josué Bengston (PTB-PA), ligado à Igreja do Evangelho Quadrangular, usou a reportagem "O direito de crer", publicada na edição nº 54 de ECLÉSIA (maio), como base para seu pronunciamento na Câmara Federal, no dia 8 de maio. Citando trechos e informações da reportagem, o parlamentar criticou duramente o fato de diversas missões evangélicas estarem sendo impedidas de trabalhar entre povos indígenas brasileiros por setores da Funai e entidades acadêmicas. Bengston afirmou que os obreiros dedicados a este tipo de ministério têm muito mais autoridade e conhecimento sobre o tema do que boa parte dos antropólogos e indigenistas que "não sabem nem ao menos as diferenças entre um caiapó e um xavante". "Por ser ECLÉSIA um dos mais conceituados e dos maiores veículos de comunicação entre a comunidade evangélica, a matéria causou grande impacto neste meio", continua a fala. Segundo o deputado, os evangélicos estão inquietos e não aceitam a falta de reconhecimento ao trabalho desenvolvido há mais de 90 anos no país. "Sei que a reportagem da revista se tornará o marco inicial de um grande debate que tomará conta da comunidade evangélica em todo o país e, por que não dizer, no mundo", frisou Bengston. Além de registrado nos anais do Congresso, o pronunciamento foi parcialmente transmitido no programa A voz do Brasil e citado pelo Jornal da Câmara

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